Neste trecho da entrevista exclusiva com Dilma Roussef, concedida na estréia deste blog e que temos publicado em capítulos, a ministra põe os pingos nos ís no que diz respeito à sua concepção de desenvolvimento. Defende o controle da inflação, mas alerta que não se pode fazer o “culto do remédio” e sim o da saúde. E saúde para Dilma é desenvolvimento.
A escolhida do presidente Lula defende o empresariado brasileiro – uma espécie selecionada a partir dos que sobreviveram às duríssimas crises econômicas ao longo de décadas. E dá mostras de que, num governo Dilma, pretende que haja maior estímulo à formação de grandes empresas para competir na arena do mundo globalizado.
Para isso, segundo ela, vai ser preciso, entre outras coisas, vencer a aversão ao risco e permitir que o acesso ao crédito deixe de ser uma espécie de prêmio. A ministra, hoje a gerente geral do governo, também lista os desafios e barreiras a um crescimento de 5% ao ano, que prevê para o Brasil dos próximos anos.
R7 – O debate entre desenvolvimentistas e monetaristas ainda faz sentido?
Dilma – É obsoleto. Nos anos 90 ficou claro que sem o controle da inflação você não tinha desenvolvimento sustentado. Tinha no máximo o soluço, o stop-and-go, como dizem os economistas, cresce e pára, com um dano do qual nós conhecemos até a última casa decimal.
O Brasil tem um mérito: assim como teve a cultura da inflação, hoje não há quem ouse defender crescimento com inflação. É vôo de galinha!
R7 – A senhora se considera desenvolvimentista?
Dilma - Olha, a gente não pode fazer o culto do remédio. Tem de tomar o remédio e fazer o culto da saúde. Eu acho que não dá para dizer, por exemplo: “que maravilha, estou aqui fazendo quimioterapia!” Não, não é isso! Eu estou fazendo quimioterapia para ter saúde e para superar uma situação. Mesma coisa a economia!
Temos que ter o culto do desenvolvimento. Mas que desenvolvimento? É aquele com controle de inflação, com estabilidade fiscal, com taxa de câmbio flutuante, mais crédito adequado, uma economia mais eficiente, o Estado meritocrático profissional, em condições de crescimento. Porque senão fica muito difícil!
Veja só: o nosso empresariado é darwiniano! Ele tem uma tradição de sobrevivência importantíssima. É quase como se ele tivesse se fortalecido na seleção de tantas crises que ele enfrentou.
Esse empresariado durante muito tempo foi desvalorizado em relação a outros empresários. É como se não tivesse um setor empresarial em quem a gente apostasse. Essa é outra visão que vai ter de ser superada.
Vão dizer: “vocês estão manipulando, criando campeões na área da carne, da telefonia…”
Eu acho que uma economia tão sofisticada como a brasileira e um empresário que conseguiu superar tantas dificuldades como o brasileiro… nós hoje temos que nos preocupar com a condição de competição deles! Não tem empresa média na área de petroquímica no mundo. Não tem empresa média na área de telefonia no mundo. Não é uma questão que a gente pode considerar que será resolvida pelo mundo globalizado. Ok! Vamos combinar?! O mundo é globalizado? Tudo bem. Mas todas as grandes empresas sabem de onde vieram. Nós gostaríamos que tivessem empresas no Brasil que tenham a mesma oportunidade.
Criticam muito a postura que temos diante das privatizações. O fato é que poucas grandes empresas privadas nacionais emergiram dele. Afinal nossa economia é muito mais sofisticada que de outros países. Mas eu acho que isto também está mudando. O futuro vai mostrar que vamos ter grandes empresas privadas brasileiras.
R7 – O remédio dos juros está na dose certa?
Dilma – Não posso dizer quando os juros vão baixar porque não sou do Banco Central. E acredito que mesmo uma pessoa do BC não pode fazer isso, porque isso mexe com expectativas, e a gente sabe que expectativa em economia é um elemento essencial.
Mas não vejo motivo nenhum para que a gente considere que este ciclo virtuoso que o Brasil vive tenha sido interrompido. Acho que nós continuamos num quadro de estabilidade podendo ainda, no futuro, ter queda de juros.
Uma questão é muito importante: reduzir juros com estabilidade. Nunca no Brasil nós vivemos um momento como hoje em que você pudesse reduzir juros e manter estabilidade macro econômica. Fizemos isso num quadro muito propício e este quadro se mantém. Acho que não há indícios de que haja nenhuma pressão inflacionária no Brasil hoje. Nós temos capacidade de crescimento, e temos uma situação internacional bastante favorável, porque há uma diminuição do consumo dos países ricos. Você não tem uma pressão na área de commodities, que já foi muito forte, nem petróleo, nem minérios, nem alimentos.
R7 – Não existe exagero na dosagem dos juros?
Dilma – Eu acho que nós somos prudentes. Do Brasil vai ser exigido nos próximos anos um esforço financeiro de redução de spreads, de aumentar as fontes de financiamento. Vai ser necessário que as formas de financiamentos, tanto de pequenos, quanto de grandes projetos sejam mais acessíveis. Que se vença a imensa aversão ao risco – que se explica pelo fato de que no Brasil tinha-se um quadro inflacionário galopante, estrutural, que levava com que as pessoas não soubessem do dia de amanhã e que impactava nas condições de financiamento. E isso progressivamente. Eu acho que esta cultura no Brasil – eu não diria que ela acabou, não – eu acho que está em processo de extinção. Esse é um processo inexorável.
É preciso combinar as duas coisas: mantendo a estabilidade no combate à inflação – política de metas, inflação sobre controle… – junto com isso, abrir margem para baixar taxas de juros. E uma política financeira que resulte na redução do spread, na mudança desta aversão ao risco.
Não sei se você se lembra que no Brasil ter acesso a crédito era prêmio! Não há nenhum país do mundo que tenha conseguido se desenvolver sem que a questão do acesso ao crédito fosse um instrumento edificante no seu desenvolvimento.
Obviamente, as últimas experiências, depois da queda do Lehman Brothers, mostram também de uma forma muito forte o que significa crédito podre, perda de critério, ao que leva o crédito sem barreiras. É uma grande armadilha. Eu não estou propondo isso. Estou dizendo que nós vamos ter de buscar este caminho, que nós temos tido: prudência. Com tranqüilidade, construir estas bases. Acho que nós demos um grande passo.
O futuro vai exigir de nós. Somos um país que tem uma demanda enorme sobre novos investimentos que vão requerer imensos volumes de capital.
Imagina crescermos sistematicamente 5% – o que eu acho que é muito possível – nós vamos ter necessidade de uma oferta constante de energia!
Vamos falar de eletricidade: temos projetos hidrelétricos de porte, para garantir a oferta de energia e segurar o crescimento econômico. Vamos ter necessidade de grandes projetos logísticos. Vamos ter de retomar um grande programa ferroviário. Lula já começou isso com a ferrovia Norte-Sul, a Transnordestina, e deu início à ferrovia Oeste-leste ali na Bahia. Mas não é só isso que vai ser necessário. Vamos precisar de mais rodovias, mais portos. Sem falar no Pré-sal! Temos todo o Pré-sal para desenvolver.
A escolhida do presidente Lula defende o empresariado brasileiro – uma espécie selecionada a partir dos que sobreviveram às duríssimas crises econômicas ao longo de décadas. E dá mostras de que, num governo Dilma, pretende que haja maior estímulo à formação de grandes empresas para competir na arena do mundo globalizado.
Para isso, segundo ela, vai ser preciso, entre outras coisas, vencer a aversão ao risco e permitir que o acesso ao crédito deixe de ser uma espécie de prêmio. A ministra, hoje a gerente geral do governo, também lista os desafios e barreiras a um crescimento de 5% ao ano, que prevê para o Brasil dos próximos anos.
R7 – O debate entre desenvolvimentistas e monetaristas ainda faz sentido?
Dilma – É obsoleto. Nos anos 90 ficou claro que sem o controle da inflação você não tinha desenvolvimento sustentado. Tinha no máximo o soluço, o stop-and-go, como dizem os economistas, cresce e pára, com um dano do qual nós conhecemos até a última casa decimal.
O Brasil tem um mérito: assim como teve a cultura da inflação, hoje não há quem ouse defender crescimento com inflação. É vôo de galinha!
R7 – A senhora se considera desenvolvimentista?
Dilma - Olha, a gente não pode fazer o culto do remédio. Tem de tomar o remédio e fazer o culto da saúde. Eu acho que não dá para dizer, por exemplo: “que maravilha, estou aqui fazendo quimioterapia!” Não, não é isso! Eu estou fazendo quimioterapia para ter saúde e para superar uma situação. Mesma coisa a economia!
Temos que ter o culto do desenvolvimento. Mas que desenvolvimento? É aquele com controle de inflação, com estabilidade fiscal, com taxa de câmbio flutuante, mais crédito adequado, uma economia mais eficiente, o Estado meritocrático profissional, em condições de crescimento. Porque senão fica muito difícil!
Veja só: o nosso empresariado é darwiniano! Ele tem uma tradição de sobrevivência importantíssima. É quase como se ele tivesse se fortalecido na seleção de tantas crises que ele enfrentou.
Esse empresariado durante muito tempo foi desvalorizado em relação a outros empresários. É como se não tivesse um setor empresarial em quem a gente apostasse. Essa é outra visão que vai ter de ser superada.
Vão dizer: “vocês estão manipulando, criando campeões na área da carne, da telefonia…”
Eu acho que uma economia tão sofisticada como a brasileira e um empresário que conseguiu superar tantas dificuldades como o brasileiro… nós hoje temos que nos preocupar com a condição de competição deles! Não tem empresa média na área de petroquímica no mundo. Não tem empresa média na área de telefonia no mundo. Não é uma questão que a gente pode considerar que será resolvida pelo mundo globalizado. Ok! Vamos combinar?! O mundo é globalizado? Tudo bem. Mas todas as grandes empresas sabem de onde vieram. Nós gostaríamos que tivessem empresas no Brasil que tenham a mesma oportunidade.
Criticam muito a postura que temos diante das privatizações. O fato é que poucas grandes empresas privadas nacionais emergiram dele. Afinal nossa economia é muito mais sofisticada que de outros países. Mas eu acho que isto também está mudando. O futuro vai mostrar que vamos ter grandes empresas privadas brasileiras.
R7 – O remédio dos juros está na dose certa?
Dilma – Não posso dizer quando os juros vão baixar porque não sou do Banco Central. E acredito que mesmo uma pessoa do BC não pode fazer isso, porque isso mexe com expectativas, e a gente sabe que expectativa em economia é um elemento essencial.
Mas não vejo motivo nenhum para que a gente considere que este ciclo virtuoso que o Brasil vive tenha sido interrompido. Acho que nós continuamos num quadro de estabilidade podendo ainda, no futuro, ter queda de juros.
Uma questão é muito importante: reduzir juros com estabilidade. Nunca no Brasil nós vivemos um momento como hoje em que você pudesse reduzir juros e manter estabilidade macro econômica. Fizemos isso num quadro muito propício e este quadro se mantém. Acho que não há indícios de que haja nenhuma pressão inflacionária no Brasil hoje. Nós temos capacidade de crescimento, e temos uma situação internacional bastante favorável, porque há uma diminuição do consumo dos países ricos. Você não tem uma pressão na área de commodities, que já foi muito forte, nem petróleo, nem minérios, nem alimentos.
R7 – Não existe exagero na dosagem dos juros?
Dilma – Eu acho que nós somos prudentes. Do Brasil vai ser exigido nos próximos anos um esforço financeiro de redução de spreads, de aumentar as fontes de financiamento. Vai ser necessário que as formas de financiamentos, tanto de pequenos, quanto de grandes projetos sejam mais acessíveis. Que se vença a imensa aversão ao risco – que se explica pelo fato de que no Brasil tinha-se um quadro inflacionário galopante, estrutural, que levava com que as pessoas não soubessem do dia de amanhã e que impactava nas condições de financiamento. E isso progressivamente. Eu acho que esta cultura no Brasil – eu não diria que ela acabou, não – eu acho que está em processo de extinção. Esse é um processo inexorável.
É preciso combinar as duas coisas: mantendo a estabilidade no combate à inflação – política de metas, inflação sobre controle… – junto com isso, abrir margem para baixar taxas de juros. E uma política financeira que resulte na redução do spread, na mudança desta aversão ao risco.
Não sei se você se lembra que no Brasil ter acesso a crédito era prêmio! Não há nenhum país do mundo que tenha conseguido se desenvolver sem que a questão do acesso ao crédito fosse um instrumento edificante no seu desenvolvimento.
Obviamente, as últimas experiências, depois da queda do Lehman Brothers, mostram também de uma forma muito forte o que significa crédito podre, perda de critério, ao que leva o crédito sem barreiras. É uma grande armadilha. Eu não estou propondo isso. Estou dizendo que nós vamos ter de buscar este caminho, que nós temos tido: prudência. Com tranqüilidade, construir estas bases. Acho que nós demos um grande passo.
O futuro vai exigir de nós. Somos um país que tem uma demanda enorme sobre novos investimentos que vão requerer imensos volumes de capital.
Imagina crescermos sistematicamente 5% – o que eu acho que é muito possível – nós vamos ter necessidade de uma oferta constante de energia!
Vamos falar de eletricidade: temos projetos hidrelétricos de porte, para garantir a oferta de energia e segurar o crescimento econômico. Vamos ter necessidade de grandes projetos logísticos. Vamos ter de retomar um grande programa ferroviário. Lula já começou isso com a ferrovia Norte-Sul, a Transnordestina, e deu início à ferrovia Oeste-leste ali na Bahia. Mas não é só isso que vai ser necessário. Vamos precisar de mais rodovias, mais portos. Sem falar no Pré-sal! Temos todo o Pré-sal para desenvolver.
Fonte:R7.
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