Cuidado! Se você continuar andando nessa direção vai acabar chegando lá, diz a patética sabedoria. Lembro-me, ainda, da sentença de Primo Levi: A ascensão dos privilegiados em todas as sociedades é um fenômeno angustiante e fatal... e o poder o tolera e encoraja. Vivemos outros tempos, outros motivos, mas eles estão sempre aí privilegiados só ausentes nas utopias.
Brasília, por decisão errada da Constituinte, virou as costas ao país quando deixou de ser capital da União para ser capital do GDF (Governo do Distrito Federal). A forte pressão emocional sobre os constituintes mudou tudo. Pirraça de uma cidade sem passado que mudou de status político sem mudar de condição econômica. A mais nova unidade da Federação renasceu sem o futuro original.
Assim se deu: por continuar a ser sustentada por recursos transferidos da União, mesmo deixando de ser município neutro, a capital percebeu que podia usufruir de sua autonomia em dissonância com os contribuintes e cidadãos de todo o país. Já planejada, construída e pronta foi capturada pela política e a ambição local, atraindo eleitores de todo o país e especuladores de todo o tipo para os favores e a farra com o dinheiro alheio distribuído no círculo do poder. Compreendeu rápido que era possível desfrutar indolentemente de toda a nação, sem nada lhe devolver.
Quando a norma constitutiva da política é desviante, um privilégio sem sentido, toda normalidade tornase suspeita de desvio e contamina a sociedade.
O problema é que os crimes e os erros da política ainda são odiados respeitavelmente. Graças ao charme da virtude fluída que a propaganda colocou à disposição dos políticos, um escândalo supera o outro todos nutridos pela passagem do tempo e pela omissão dos diversos judiciários do país. Contribui, também, para tudo ficar como está, a decência oportunista própria da rixa política que permite ao rival odiar impunemente e publicamente o adversário, fazendose de decente, até ser pilhado no mesmo erro.
Não fosse a premonitória decisão da Unesco de tombar o Plano Piloto mesmo que tenha esquecido das suas ár vores, a mais vital invenção de todo o projeto a predatória especulação imobiliária e a manipulação eleitoral mais insana do país já teriam destruído toda a capital, assim como já o fizeram com sua periferia e entorno.
Também na mira de fogo dos novos tempos, agora desnudados, estaria a sensibilidade do governador Cristovam que confrontou o nosso deslumbrado país do automóvel ao ensinar ao brasiliense que o pedestre é mais importante que o carro assim se atravessa a rua na capital: a mais moderna e relevante decisão política desde a fundação.
A forma da administração política de Brasília não encontra precedente nem alicerce no modelo de gestão das capitais das democracias mais modernas e eficientes do mundo. Muito menos na tradição política brasileira desde o Império e toda a República até 1988. Estragar o conceito e a integridade de Brasília não foi culpa da ditadura...
Foi o eleitoralismo total, construído sobre o discurso emocionado da nostalgia do voto após o período militar, somado ao vácuo da liderança política austera da Nova República, que fez o constituinte tirar da capital, transferida do Rio de Janeiro, o privilégio de ter uma cidadania qualificada em nome de toda a nação aceitar trocar parte da cidadania eleitoral pelo privilégio de morar na cidade-sede dos poderes da União.
Um município neutro e seu distrito federal sustentado por todo o país: tal engenharia foi além do bom senso. Dissolveu no Senado a Comissão do Distrito Federal e a substituiu pela Câmara de deputados distritais, pródiga, pela total ausência de função, em futilidades transgressoras. Acabou com a ideia mais razoável e adequada de prefeito da capital e a substituiu pela desproporcional função de governador.
Superlotou de representantes de seus próprios habitantes a cidade administrativa, sufocando sua vocação original.
Quem sabe agora, diante do egoísmo dos desejos políticos sorvidos até a última gota, e aos cinquenta anos, possa a capital perceber que a esperança de mais liberdade e direitos anunciados pela Constituição de 1988 contraria sua vocação real e tornou-se ameaça ao seu futuro de capital de todos os brasileiros e à qualidade de vida dos brasilienses.
Paulo Delgado é deputado federal (PT-MG
Brasília, por decisão errada da Constituinte, virou as costas ao país quando deixou de ser capital da União para ser capital do GDF (Governo do Distrito Federal). A forte pressão emocional sobre os constituintes mudou tudo. Pirraça de uma cidade sem passado que mudou de status político sem mudar de condição econômica. A mais nova unidade da Federação renasceu sem o futuro original.
Assim se deu: por continuar a ser sustentada por recursos transferidos da União, mesmo deixando de ser município neutro, a capital percebeu que podia usufruir de sua autonomia em dissonância com os contribuintes e cidadãos de todo o país. Já planejada, construída e pronta foi capturada pela política e a ambição local, atraindo eleitores de todo o país e especuladores de todo o tipo para os favores e a farra com o dinheiro alheio distribuído no círculo do poder. Compreendeu rápido que era possível desfrutar indolentemente de toda a nação, sem nada lhe devolver.
Quando a norma constitutiva da política é desviante, um privilégio sem sentido, toda normalidade tornase suspeita de desvio e contamina a sociedade.
O problema é que os crimes e os erros da política ainda são odiados respeitavelmente. Graças ao charme da virtude fluída que a propaganda colocou à disposição dos políticos, um escândalo supera o outro todos nutridos pela passagem do tempo e pela omissão dos diversos judiciários do país. Contribui, também, para tudo ficar como está, a decência oportunista própria da rixa política que permite ao rival odiar impunemente e publicamente o adversário, fazendose de decente, até ser pilhado no mesmo erro.
Não fosse a premonitória decisão da Unesco de tombar o Plano Piloto mesmo que tenha esquecido das suas ár vores, a mais vital invenção de todo o projeto a predatória especulação imobiliária e a manipulação eleitoral mais insana do país já teriam destruído toda a capital, assim como já o fizeram com sua periferia e entorno.
Também na mira de fogo dos novos tempos, agora desnudados, estaria a sensibilidade do governador Cristovam que confrontou o nosso deslumbrado país do automóvel ao ensinar ao brasiliense que o pedestre é mais importante que o carro assim se atravessa a rua na capital: a mais moderna e relevante decisão política desde a fundação.
A forma da administração política de Brasília não encontra precedente nem alicerce no modelo de gestão das capitais das democracias mais modernas e eficientes do mundo. Muito menos na tradição política brasileira desde o Império e toda a República até 1988. Estragar o conceito e a integridade de Brasília não foi culpa da ditadura...
Foi o eleitoralismo total, construído sobre o discurso emocionado da nostalgia do voto após o período militar, somado ao vácuo da liderança política austera da Nova República, que fez o constituinte tirar da capital, transferida do Rio de Janeiro, o privilégio de ter uma cidadania qualificada em nome de toda a nação aceitar trocar parte da cidadania eleitoral pelo privilégio de morar na cidade-sede dos poderes da União.
Um município neutro e seu distrito federal sustentado por todo o país: tal engenharia foi além do bom senso. Dissolveu no Senado a Comissão do Distrito Federal e a substituiu pela Câmara de deputados distritais, pródiga, pela total ausência de função, em futilidades transgressoras. Acabou com a ideia mais razoável e adequada de prefeito da capital e a substituiu pela desproporcional função de governador.
Superlotou de representantes de seus próprios habitantes a cidade administrativa, sufocando sua vocação original.
Quem sabe agora, diante do egoísmo dos desejos políticos sorvidos até a última gota, e aos cinquenta anos, possa a capital perceber que a esperança de mais liberdade e direitos anunciados pela Constituição de 1988 contraria sua vocação real e tornou-se ameaça ao seu futuro de capital de todos os brasileiros e à qualidade de vida dos brasilienses.
Paulo Delgado é deputado federal (PT-MG
Fonte:PT.
2 comentários:
Terror, assistindo há pouco a TV Senado e a fala do Senador Arthur Virgílio os apartes, ele, Heráclito Fortes, Marcos Maciel, Álvaro Dias e outros estão metendo o pau na política externa do Presidente Lula, falando do Assessor Especial, Marco Aurélio Garcia só de incompetente, pode? Todos sabem que o Senador Virgílio é um diplomata frustrado, ele é que queria está à frente da política externa do país,mais como o governo é de Lula, o partido é outro ele fica só agourando, torcendo pra viagem de Lula dê errado, seja um desastre.
Obs. Moro em Brasília, por enquanto.
Maria, esse bando de safado está desesperado.
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