Daniela Almeida
Correio Braziliense - 26/07/2010
Principais bandeiras de Serra na campanha apresentaram problemas e recebem críticas da oposição. Existe lei inclusive que entrou em vigor apenas na gestão do sucessor.
A construção do Rodoanel apresentou problemas, como o desabamento de três vigas na Régis Bittencourt
São Paulo — A propaganda é a alma do negócio. Conhecedor do dito popular, o candidato José Serra (PSDB) tem enumerado em seus discursos pelo país uma lista de obras e leis de sua autoria, realizações de seus mandatos enquanto governador de São Paulo ou prefeito da capital paulista. São feitos como o trecho Sul do Rodoanel e o alargamento da Marginal Tietê, grandes promessas para aliviar o trânsito caótico na cidade de São Paulo; e a Lei Cidade Limpa, que resguardou o cenário paulistano da poluição visual. Mas a verdade é que nem tudo são flores no histórico do reinado tucano.
Umas das mais fortes bandeiras de Serra em sua campanha, o trecho Sul do Rodoanel, é também fonte de muitas polêmicas. Inaugurado com dois anos de atraso, às vésperas da desincompatibilização de Serra do governo paulista para concorrer à Presidência, foi em boa parte financiado pelo governo federal (veja quadro), segundo dados do próprio governo do estado. A obra enfrentou o protesto de ambientalistas devido ao seu impacto e causou, inclusive, um acidente com três vigas de 85 toneladas que despencaram de um viaduto sobre a rodovia Régis Bittencourt, atingindo três veículos e ferindo três pessoas.
A expectativa do governo, divulgada à época, era de uma redução de 43% no movimento de caminhões na marginal Pinheiros e de 37% na avenida dos Bandeirantes, duas das principais vias na capital. Dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) dão conta de que, um mês depois da inauguração do novo trecho no Rodoanel, esse volume tinha sido inferior na marginal Pinheiros (queda de 28,4%) e levemente superior na Bandeirantes (baixou 45,2%). Especialistas avaliam que o tráfego aliviado pela carga pesada voltará a ser ocupado pela frota de carros em no máximo quatro anos. “Qualquer espaço novo que é oferecido é rapidamente ocupado”, explica Adriano Branco, ex-secretário de Transporte do Estado.
E o problema só tende a piorar caso o resultado de uma pesquisa do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp) se concretize. O levantamento, feito com cerca de cem empresas do setor, mostrou que 56% delas vão utilizar rotas alternativas ao rodoanel quando for iniciada a cobrança de pedágio no trecho, prevista para 2011. A cobrança, somada ao maior percurso que os motoristas precisam percorrer em comparação a outras rodovias como a dos Bandeirantes, poderá fazer com que os caminhões parem de utilizar o novo complexo viário.
Outro resultado questionado entre os feitos do governo Serra é o da ampliação da Marginal Tietê, que recebe o trânsito de entrada e saída de São Paulo por diversas rodovias. O alargamento da via, para os especialistas em transporte, pouco aliviaria o tráfego na região. “A marginal Pinheiros (continuação da Tietê) não tem como ser alargada. Logo você cria um afunilamento. Por isso está voltando a ter congestionamento na marginal Pinheiros e na avenida dos Bandeirantes”, analisa Horácio Figueira, consultor em mobilidade urbana e engenharia de trânsito.
Parte da solução para os problemas de tráfego no estado, na opinião dos entrevistados, estaria em outro forte coringa de Serra, as obras no metrô. “É fundamental a expansão”, defende Ailton Brasiliense, presidente da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP). O site da Secretaria de Transportes estipulava como metas para o programa Expansão SP uma ampliação do transporte sobre trilhos, entre 2007 e 2010, de 61,3 km para 240km com o transporte de superfície, o chamado metrô leve que usa a estrutura dos trens metropolitanos. Dados da secretaria apontam que foram inaugurados, no período apenas 4,7km e entregues quatro estações. A previsão é de que até o fim do ano sejam entregues outras quatro.
Paternidade em xeque
Apesar de Serra ter colocado em discussão a Lei Cidade Limpa enquanto ainda ocupava a prefeitura de São Paulo, foi quando o candidato deixou o cargo para concorrer ao estado que a norma se viabilizou. A matéria foi evocada em discurso do tucano para empresários em Goiânia, mas é de autoria de seu vice e sucessor, Gilberto Kassab (DEM), que enviou à Câmara o Projeto de Lei nº 379/06. Aprovada em setembro de 2006, a lei entrou em vigor em janeiro de 2007, apagando do cenário paulistano a poluição visual, com a proibição de outdoors e a normatização do tamanho de letreiros e placas de estabelecimentos comerciais.
O número
17 de agosto data de início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV
Balanço
Trecho Sul do Rodoanel
Principal bandeira tucana nessas eleições, a obra foi entregue com dois anos de atraso, dias antes da desincompatibilização de Serra. A conta de R$ 5 bilhões foi rachada com o governo federal, que pagou por um terço da construção. O governo conseguiu o objetivo de aliviar o trânsito da capital paulista. Em um primeiro momento, houve a queda na circulação de caminhões no centro expandido da cidade, mas a implantação do pedágio (prevista para 2011) e o aumento na frota de carros podem anular esse efeito.
Metrô
O programa Expansão SP previa, entre 2007 e 2010 ampliar o transporte sobre trilhos de 61,3 km para 240km com o transporte de superfície (metrô leve), na Baixada Santista e na ligação com os aeroportos de Guarulhos e Congonhas. No período, segundo o governo, foram inaugurados 4,7km e entregues quatro estações. A previsão é de que até o fim do ano sejam entregues outras quatro. Até 2011 serão aplicados R$ 23 bilhões nas obras.
Alargamento da Marginal Tietê
A ampliação custou R$ 1,3 bilhão. Uma das mais importantes vias da capital paulista, a Tietê recebe o tráfego de entrada e saída em São Paulo com origem em diferentes rodovias. Ganhou novas pistas para aumentar a fluidez do trânsito local. Especialistas, no entanto, apontam que esse novo espaço será novamente ocupado em um prazo de no máximo 4 anos.
Lei Cidade Limpa
Apesar de Serra ter utilizado a lei como exemplo de feitos em seu mandato na prefeitura de São Paulo, a norma é resultado de projeto de autoria de Gilberto Kassab (DEM), vice-prefeito do candidato que assumiu o Executivo municipal para que ele concorresse ao governo do estado.
“O ótimo é inimigo do bom”
Para o secretário de Transportes do Estado de São Paulo, Mauro Arce, a avaliação de que as obras feitas no governo Serra são ineficientes ou insuficientes não passa de intriga da oposição. “É aquela história, melhorou, mas vai piorar. O ótimo é inimigo do bom. Se eu fico esperando fazer o ótimo, muitas vezes não faço nem o bom”, disse.
Arce alega que o atual governo deu o mesmo peso às obras rodoviárias e ao transporte coletivo. “O dinheiro que estamos gastando com obras rodoviárias no estado inteiro é igual ao investimento nos transportes públicos (metrô e trem metropolitano). Não é que se optou por um único meio.” De acordo com o secretário, foram investidos exatos R$ 23 bilhões tanto na pasta de Transportes como na de Transportes Metropolitanos.
O secretário explica que as obras do Rodoanel não tinham objetivo único de resolver o problema do trânsito na capital, mas de tirar a carga pesada de circulação no centro expandido de São Paulo. Segundo ele, 5 milhões de veículos já passaram pelo Rodoanel desde sua inauguração, 40% desse tráfego seria de caminhões. “Esse volume passaria nas marginais. Sendo que um caminhão parado ocupa o lugar de três automóveis. Andando, ocupa o espaço de cinco carros.”
O alargamento da Marginal Tietê, na opinião de Arce, não cria afunilamento com a Marginal Pinheiros. Isso porque os tráfegos são diferentes nas duas vias. Ele lembra que as obras ainda não foram concluídas, quatro novas pontes ainda estão em construção. O secretário reconhece, contudo, o problema no atraso das obras do metrô. “É uma luta contra o tempo? É. E tem que ser permanente. Precisamos tirar o atraso e manter um programa que cubra a nova demanda.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário