1Sérgio Bueno, de Porto Alegre
Valor Econômico - 29/07/2010
O PT pretende usar as campanhas antitabagistas do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, para tentar melhorar o desempenho da candidata do partido, Dilma Rousseff, no Sul. O alvo da tática é o setor de fumo, que garante a renda de 185 mil famílias de pequenos agricultores e o emprego de 30 mil trabalhadores na indústria de beneficiamento. "Muita gente sabe que o Serra é antitabagista e isso terá que ser exposto na campanha", diz o vice-prefeito de Santa Cruz do Sul, Luís Augusto Campis, do PT.
A trajetória antitabagista do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, será uma das armas do PT para bater no tucano e tentar melhorar o desempenho da candidata do partido, Dilma Rousseff, nas pesquisas de intenção de voto no Sul do país. O alvo da estratégia é o setor fumageiro, que garante a renda de 185 mil famílias de pequenos agricultores e o emprego de 30 mil trabalhadores na indústria de beneficiamento do tabaco no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Segundo as últimas pesquisas que abriram números por região, Dilma segue atrás de Serra no Sul. No levantamento do Ibope divulgado dia 4, a candidata perde por 45% a 37% nos três Estados, ante o empate em 39% para cada um em âmbito nacional. Já no Datafolha do dia 26 (que apontou 37% para o tucano e 36% para a petista no país), ela tem 34% no Rio Grande do Sul e 30% no Paraná, enquanto Serra aparece com 46% e 45%, respectivamente.
É com esses resultados na mão que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje à tarde em Santa Cruz do Sul, numa janela aberta entre compromissos pela manhã e à noite em Porto Alegre. O município é principal polo de processamento de tabaco no Rio Grande do Sul. Antes dele, o candidato do PT ao governo gaúcho, Tarso Genro, e até o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, estiveram na cidade e ouviram as preocupações do setor sobre as crescentes restrições à produção do fumo. Em março, a então secretária-executiva e hoje ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, também recebeu uma comitiva da região fumageira em Brasília.
"Muita gente sabe que o Serra é antitabagista e isso terá que ser exposto na campanha", afirma o vice-prefeito da cidade, Luíz Augusto Campis, do PT. Segundo ele, o governo está "atento" à situação do setor, que gera R$ 8,4 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais por ano, e está "formando opinião também a partir das informações que partem daqui". Ele diz ainda que a cultura do tabaco faz parte da história da região desde 1852 e qualquer programa de diversificação de culturas só pode ser implementado no "longo prazo".
O receio mais imediato da cadeia fumageira é com a reunião de novembro da Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS), no Uruguai. No encontro, os países signatários da convenção (o Brasil inclusive) vão analisar recomendações que tornam inviável a produção do fumo tipo "burley", cultivado por quase 50 mil famílias nos três Estados, porque proíbem a adição de ingredientes - especialmente açúcar - no processamento do produto, explica o presidente do Sindicato das Indústrias de Tabaco (Sinditabaco), Iro Schünke.
A posição do Brasil seria anunciada no fim de junho, mas a pressão do setor adiou a decisão. Agora, a questão será levada diretamente a Lula, que visitará uma usina de biocombustíveis financiada pela Petrobras e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas também receberá representantes da indústria fumageira e dos agricultores. Eles vão pedir que o governo cumpra a promessa feita em 2005, quando o país ratificou a convenção-quadro, de não aprovar medidas prejudiciais aos produtores, explica o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Werner.
Mas Serra não deverá assistir impassível à ofensiva petista, afirma o deputado federal Luís Carlos Heinze, do PP, sigla que no Rio Grande do Sul apoia o tucano. Responsável pela imposição de restrições à propaganda do cigarro quando era ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso e pela proibição ao fumo em áreas públicas em São Paulo quando foi governador do Estado, o tucano está apenas "acertando a agenda" para visitar a região e dizer "publicamente" que não é contra a produção do fumo, diz o parlamentar.
Do lado dos petistas, a intenção é garantir para Dilma um desempenho igual ou superior ao do próprio Lula em 2002, quando ele bateu Serra com facilidade nos principais municípios da região. Em Santa Cruz, Venâncio Aires e Vera Cruz, por exemplo, o petista alcançou de 71% a 74% dos votos válidos no segundo turno. No primeiro turno, o tucano chegou a ficar atrás de Anthony Garotinho (PSB) e de Ciro Gomes (PPS) em Vera Cruz e de Ciro em Santa Cruz do Sul.
"Não vamos adotar nenhuma medida de constrangimento contra a produção de fumo", reforça o coordenador do programa de governo de Tarso Genro, Marcelo Danéris. De acordo com ele, um eventual governo petista no Rio Grande do Sul irá apoiar a diversificação de culturas com suporte técnico e creditício via sistema financeiro estadual, mas sempre de acordo com os interesses e o ritmo dos próprios produtores. "Não existe uma alternativa rápida para a produção do fumo", reconhece o petista.
Segundo Werner, da Afubra, os agricultores precisariam cultivar 20 hectares de milho para obter a mesma renda gerada por 2,5 hectares de fumo, que nesta safra foi vendido pelo preço médio de R$ 6,34 o quilo. Só que o tamanho médio das propriedades é de 16 hectares. No caso do feijão, a relação é de sete para um e a substituição por hortigranjeiros também é inviável porque o cultivo desses produtos nos 370 mil hectares dedicados hoje ao tabaco no Sul do país iria inundar o mercado e derrubar os preços.
Além disso, conforme o Sinditabaco, em média 85% da produção anual do fumo (estimada na safra 2009/2010 em quase 700 mil toneladas pela Afubra) é vendida para o exterior, o que faz do Brasil o maior exportador mundial do produto. No ano passado, os embarques do tabaco beneficiado renderam US$ 3 bilhões, o equivalente a 2% de todas as exportações do país, enquanto a comercialização da colheita passada, de 739 mil toneladas, gerou ainda uma renda bruta de R$ 4,4 bilhões aos produtores, lembra Schünke.
O PT pretende usar as campanhas antitabagistas do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, para tentar melhorar o desempenho da candidata do partido, Dilma Rousseff, no Sul. O alvo da tática é o setor de fumo, que garante a renda de 185 mil famílias de pequenos agricultores e o emprego de 30 mil trabalhadores na indústria de beneficiamento. "Muita gente sabe que o Serra é antitabagista e isso terá que ser exposto na campanha", diz o vice-prefeito de Santa Cruz do Sul, Luís Augusto Campis, do PT.
A trajetória antitabagista do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, será uma das armas do PT para bater no tucano e tentar melhorar o desempenho da candidata do partido, Dilma Rousseff, nas pesquisas de intenção de voto no Sul do país. O alvo da estratégia é o setor fumageiro, que garante a renda de 185 mil famílias de pequenos agricultores e o emprego de 30 mil trabalhadores na indústria de beneficiamento do tabaco no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Segundo as últimas pesquisas que abriram números por região, Dilma segue atrás de Serra no Sul. No levantamento do Ibope divulgado dia 4, a candidata perde por 45% a 37% nos três Estados, ante o empate em 39% para cada um em âmbito nacional. Já no Datafolha do dia 26 (que apontou 37% para o tucano e 36% para a petista no país), ela tem 34% no Rio Grande do Sul e 30% no Paraná, enquanto Serra aparece com 46% e 45%, respectivamente.
É com esses resultados na mão que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje à tarde em Santa Cruz do Sul, numa janela aberta entre compromissos pela manhã e à noite em Porto Alegre. O município é principal polo de processamento de tabaco no Rio Grande do Sul. Antes dele, o candidato do PT ao governo gaúcho, Tarso Genro, e até o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, estiveram na cidade e ouviram as preocupações do setor sobre as crescentes restrições à produção do fumo. Em março, a então secretária-executiva e hoje ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, também recebeu uma comitiva da região fumageira em Brasília.
"Muita gente sabe que o Serra é antitabagista e isso terá que ser exposto na campanha", afirma o vice-prefeito da cidade, Luíz Augusto Campis, do PT. Segundo ele, o governo está "atento" à situação do setor, que gera R$ 8,4 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais por ano, e está "formando opinião também a partir das informações que partem daqui". Ele diz ainda que a cultura do tabaco faz parte da história da região desde 1852 e qualquer programa de diversificação de culturas só pode ser implementado no "longo prazo".
O receio mais imediato da cadeia fumageira é com a reunião de novembro da Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS), no Uruguai. No encontro, os países signatários da convenção (o Brasil inclusive) vão analisar recomendações que tornam inviável a produção do fumo tipo "burley", cultivado por quase 50 mil famílias nos três Estados, porque proíbem a adição de ingredientes - especialmente açúcar - no processamento do produto, explica o presidente do Sindicato das Indústrias de Tabaco (Sinditabaco), Iro Schünke.
A posição do Brasil seria anunciada no fim de junho, mas a pressão do setor adiou a decisão. Agora, a questão será levada diretamente a Lula, que visitará uma usina de biocombustíveis financiada pela Petrobras e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas também receberá representantes da indústria fumageira e dos agricultores. Eles vão pedir que o governo cumpra a promessa feita em 2005, quando o país ratificou a convenção-quadro, de não aprovar medidas prejudiciais aos produtores, explica o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Werner.
Mas Serra não deverá assistir impassível à ofensiva petista, afirma o deputado federal Luís Carlos Heinze, do PP, sigla que no Rio Grande do Sul apoia o tucano. Responsável pela imposição de restrições à propaganda do cigarro quando era ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso e pela proibição ao fumo em áreas públicas em São Paulo quando foi governador do Estado, o tucano está apenas "acertando a agenda" para visitar a região e dizer "publicamente" que não é contra a produção do fumo, diz o parlamentar.
Do lado dos petistas, a intenção é garantir para Dilma um desempenho igual ou superior ao do próprio Lula em 2002, quando ele bateu Serra com facilidade nos principais municípios da região. Em Santa Cruz, Venâncio Aires e Vera Cruz, por exemplo, o petista alcançou de 71% a 74% dos votos válidos no segundo turno. No primeiro turno, o tucano chegou a ficar atrás de Anthony Garotinho (PSB) e de Ciro Gomes (PPS) em Vera Cruz e de Ciro em Santa Cruz do Sul.
"Não vamos adotar nenhuma medida de constrangimento contra a produção de fumo", reforça o coordenador do programa de governo de Tarso Genro, Marcelo Danéris. De acordo com ele, um eventual governo petista no Rio Grande do Sul irá apoiar a diversificação de culturas com suporte técnico e creditício via sistema financeiro estadual, mas sempre de acordo com os interesses e o ritmo dos próprios produtores. "Não existe uma alternativa rápida para a produção do fumo", reconhece o petista.
Segundo Werner, da Afubra, os agricultores precisariam cultivar 20 hectares de milho para obter a mesma renda gerada por 2,5 hectares de fumo, que nesta safra foi vendido pelo preço médio de R$ 6,34 o quilo. Só que o tamanho médio das propriedades é de 16 hectares. No caso do feijão, a relação é de sete para um e a substituição por hortigranjeiros também é inviável porque o cultivo desses produtos nos 370 mil hectares dedicados hoje ao tabaco no Sul do país iria inundar o mercado e derrubar os preços.
Além disso, conforme o Sinditabaco, em média 85% da produção anual do fumo (estimada na safra 2009/2010 em quase 700 mil toneladas pela Afubra) é vendida para o exterior, o que faz do Brasil o maior exportador mundial do produto. No ano passado, os embarques do tabaco beneficiado renderam US$ 3 bilhões, o equivalente a 2% de todas as exportações do país, enquanto a comercialização da colheita passada, de 739 mil toneladas, gerou ainda uma renda bruta de R$ 4,4 bilhões aos produtores, lembra Schünke.
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