Dengue mata em SP neste ano duas vezes mais que em toda a história
Diego Junqueira, do R7.
O Estado de São Paulo já registrou 120 mortes por dengue em 2010. Esse número – informado pela Secretaria Estadual de Saúde e que se refere apenas aos óbitos confirmados – é quase duas vezes maior do que a soma das mortes registradas em todos os anos anteriores. Até 2009, dados do Ministério da Saúde mostram que 64 pessoas perderam a vida por causa da doença no Estado.
Um levantamento feito pelo R7 nas 27 secretarias estaduais de saúde mostra que, além de São Paulo, outros sete Estados registram um número recorde de óbitos. Em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rondônia, Distrito Federal, Acre e Tocantins, a dengue nunca matou tanto quanto em 2010.
Neste ano, 435 pessoas morreram pela dengue em todo o país – montante que se refere apenas às mortes confirmadas, de acordo com as secretarias estaduais. E o número de óbitos pode ser ainda maior, porque existem pelo menos outros 207 sendo investigadas.
O ano que mais registrou óbitos foi 2008, com 478 vítimas, seguido por 2010 (com 435 vitimas até agora), 2009 (298 mortes) e 2007 ( 295 óbitos).
Há uma série de razões que justificam o aumento das mortes nos últimos anos. A principal delas – e mais repetida pelos especialistas – é o fato de o país estar vivendo, desde o final dos anos 90, surtos repetidos da dengue, que são causados pelos três tipos do vírus que circulam no Brasil. Isso aumenta as chances de uma pessoa se infectar novamente e, consequentemente, de desenvolver as formas graves da doença.
No caso de São Paulo, além dessa justificativa, a Secretaria Estadual de Saúde informou, por meio de nota oficial, que “a idade das pessoas infectadas também pode ampliar o risco de óbito”.
- Neste ano, mais de 30% das mortes por dengue no Estado foram de pessoas idosas, com 60 anos ou mais.
Em 2010, São Paulo registrou 2.310 casos graves de dengue, o que inclui as mortes por febre hemorrágica e de DCC (dengue com complicação). Com as 120 mortes já confirmadas, o índice de letalidade da doença chega a 5,19% dos casos graves, taxa cinco vezes maior que o considerado aceitável pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Falhas no atendimento aos pacientes
Mas, além dessas explicações, as mortes por dengue nos últimos anos também mostram que existem problemas no atendimento aos pacientes que se apresentam aos serviços de saúde.
Segundo o infectologista Rodrigo Angerami, do Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Hospital das Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o número de casos graves tende a crescer ano a ano, “mas isso não implica necessariamente que temos de registrar óbitos”.
- Os casos se tornam graves porque, em algum momento no início da assistência, muitas vezes não é feita uma intervenção no paciente que precisa de atenção diferenciada.
O diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Eduardo Hage, confirma que, para evitar uma morte por dengue, dois fatores são fundamentais: o diagnóstico precoce e um tratamento adequado.
- A maior limitação que ainda existe em muitos municípios é justamente a da organização dos serviços de saúde.
Talita Chamone, coordenadora da vigilância ambiental da Secretaria de Saúde de Minas Gerais – Estado em que as mortes bateram recorde – também considera o preparo da rede local para assistência ao paciente como uma das justificativas.
- O município deve ter uma atenção primária bem estruturada e com resolutividade para atendimento dos pacientes com dengue. Os médicos devem estar capacitados para atender o paciente com suspeita de dengue.
Talita lembra que a automedicação dos pacientes é uma outra razão para o aumento das mortes.
- Muitas pessoas ficam em casa e se automedicam em vez de procurarem por assistência médica rapidamente. A dengue é uma doença de evolução rápida e, por isso, o atendimento médico deve ser precoce.
Para Angerami, não se justifica morrer por dengue, “pois o tratamento da doença nada mais é do que oferecer hidratação”. Por isso, o infectologista da Unicamp afirma que as únicas medidas de prevenção capazes de diminuir a curto prazo a letalidade da doença são: educar a população e capacitar os profissionais de saúde.
- A curto prazo são medidas educativas, para que o atendimento seja feito precocemente nas unidades básicas.
Segundo a OMS, o acesso mais amplo aos cuidados médicos, “realizados por profissionais com conhecimentos sobre a doença e capazes de reconhecer os sintomas e tratar seus efeitos”, pode reduzir o índice de mortes para menos de 1%.
Tais medidas de combate à dengue são decisivas pois, como afirma Hage, diretor do Ministério da Saúde, a dengue vai continuar no Brasil por algum tempo – já que “é quase impossível” eliminar o mosquito do ambiente urbano.
- Ainda conviveremos com a dengue por muitos anos, uma vez que as condições atuais (de meio ambiente, aglomeração urbana, coleta inadequada de lixo, hábitos da população) contribuem para a criação e manutenção [do mosquito].
Colaboraram Auris Sousa e Beatriz Nakashima, estagiárias do R7.
Diego Junqueira, do R7.
O Estado de São Paulo já registrou 120 mortes por dengue em 2010. Esse número – informado pela Secretaria Estadual de Saúde e que se refere apenas aos óbitos confirmados – é quase duas vezes maior do que a soma das mortes registradas em todos os anos anteriores. Até 2009, dados do Ministério da Saúde mostram que 64 pessoas perderam a vida por causa da doença no Estado.
Um levantamento feito pelo R7 nas 27 secretarias estaduais de saúde mostra que, além de São Paulo, outros sete Estados registram um número recorde de óbitos. Em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rondônia, Distrito Federal, Acre e Tocantins, a dengue nunca matou tanto quanto em 2010.
Neste ano, 435 pessoas morreram pela dengue em todo o país – montante que se refere apenas às mortes confirmadas, de acordo com as secretarias estaduais. E o número de óbitos pode ser ainda maior, porque existem pelo menos outros 207 sendo investigadas.
O ano que mais registrou óbitos foi 2008, com 478 vítimas, seguido por 2010 (com 435 vitimas até agora), 2009 (298 mortes) e 2007 ( 295 óbitos).
Há uma série de razões que justificam o aumento das mortes nos últimos anos. A principal delas – e mais repetida pelos especialistas – é o fato de o país estar vivendo, desde o final dos anos 90, surtos repetidos da dengue, que são causados pelos três tipos do vírus que circulam no Brasil. Isso aumenta as chances de uma pessoa se infectar novamente e, consequentemente, de desenvolver as formas graves da doença.
No caso de São Paulo, além dessa justificativa, a Secretaria Estadual de Saúde informou, por meio de nota oficial, que “a idade das pessoas infectadas também pode ampliar o risco de óbito”.
- Neste ano, mais de 30% das mortes por dengue no Estado foram de pessoas idosas, com 60 anos ou mais.
Em 2010, São Paulo registrou 2.310 casos graves de dengue, o que inclui as mortes por febre hemorrágica e de DCC (dengue com complicação). Com as 120 mortes já confirmadas, o índice de letalidade da doença chega a 5,19% dos casos graves, taxa cinco vezes maior que o considerado aceitável pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Falhas no atendimento aos pacientes
Mas, além dessas explicações, as mortes por dengue nos últimos anos também mostram que existem problemas no atendimento aos pacientes que se apresentam aos serviços de saúde.
Segundo o infectologista Rodrigo Angerami, do Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Hospital das Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o número de casos graves tende a crescer ano a ano, “mas isso não implica necessariamente que temos de registrar óbitos”.
- Os casos se tornam graves porque, em algum momento no início da assistência, muitas vezes não é feita uma intervenção no paciente que precisa de atenção diferenciada.
O diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Eduardo Hage, confirma que, para evitar uma morte por dengue, dois fatores são fundamentais: o diagnóstico precoce e um tratamento adequado.
- A maior limitação que ainda existe em muitos municípios é justamente a da organização dos serviços de saúde.
Talita Chamone, coordenadora da vigilância ambiental da Secretaria de Saúde de Minas Gerais – Estado em que as mortes bateram recorde – também considera o preparo da rede local para assistência ao paciente como uma das justificativas.
- O município deve ter uma atenção primária bem estruturada e com resolutividade para atendimento dos pacientes com dengue. Os médicos devem estar capacitados para atender o paciente com suspeita de dengue.
Talita lembra que a automedicação dos pacientes é uma outra razão para o aumento das mortes.
- Muitas pessoas ficam em casa e se automedicam em vez de procurarem por assistência médica rapidamente. A dengue é uma doença de evolução rápida e, por isso, o atendimento médico deve ser precoce.
Para Angerami, não se justifica morrer por dengue, “pois o tratamento da doença nada mais é do que oferecer hidratação”. Por isso, o infectologista da Unicamp afirma que as únicas medidas de prevenção capazes de diminuir a curto prazo a letalidade da doença são: educar a população e capacitar os profissionais de saúde.
- A curto prazo são medidas educativas, para que o atendimento seja feito precocemente nas unidades básicas.
Segundo a OMS, o acesso mais amplo aos cuidados médicos, “realizados por profissionais com conhecimentos sobre a doença e capazes de reconhecer os sintomas e tratar seus efeitos”, pode reduzir o índice de mortes para menos de 1%.
Tais medidas de combate à dengue são decisivas pois, como afirma Hage, diretor do Ministério da Saúde, a dengue vai continuar no Brasil por algum tempo – já que “é quase impossível” eliminar o mosquito do ambiente urbano.
- Ainda conviveremos com a dengue por muitos anos, uma vez que as condições atuais (de meio ambiente, aglomeração urbana, coleta inadequada de lixo, hábitos da população) contribuem para a criação e manutenção [do mosquito].
Colaboraram Auris Sousa e Beatriz Nakashima, estagiárias do R7.
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