Uma direita mais “moderna” – se isso é possível – começaria por se tornar mais independente em relação à mídia corporativa que é autoritária em relação aos mais fracos – o sofrido povinho e o temido povão, que são dois lados da mesma moeda dos seus pesadelos – enquanto corteja e tenta acaudilhar pela representação os mais fortes. Adotaria uma posição mais aberta ao diálogo na América Latina e no mundo, ao invés de ficar brincando de Guerra Fria à antiga.
Por Flávio Aguiar, para a Carta Maior
Por Flávio Aguiar, para a Carta Maior
Não sabemos ainda o que exatamente vai acontecer nas eleições de outubro. Os prognósticos, para nós das esquerdas – os nós que não nos entravamos nos nossos nós – são muito bons: vitória de Dilma, seja no primeiro ou no segundo turno, estabilização de Marina da Silva, que poderá se livrar da incômoda e completamente auto-centrada política de Gabeira, Plínio mantendo sua dignidade exemplar e, quem sabe, neutralizando o poder de biruta de aeroporto da atuação de Heloisa Helena junto às extremas. Mas tudo isso são prognósticos, a serem passados a limpo pelo crivo de outubro.
Pois é, mas e as direitas? É preocupante o estado das direitas. Estão fazendo um papelão Essa é a moldura do excelente artigo do Nassif transcrito aqui. Concordo no todo e discordo em parte do artigo. Não se trata de saber se Nassif é neo-tucano ou sei lá que bobagem dessa ordem. Trata-se de pensar no rigoroso problema que ele levanta.
Esse problema é, no fundo, o de observar o jogo político um pouco além do tabuleiro eleitoral. Este, sem dúvida, é importante. Mas o que está acontecendo por debaixo desse tabuleiro, como as engrenagens estão se movendo e como vão atuar sobre as peças do xadrez partidário?
É óbvio que está havendo um descolamento progressivo dessas direitas que hoje atuam ostensivamente, de suas bases tradicionais. Estas estão se movendo sim – não necessariamente para a esquerda, mas para cima. A política do governo Lula, combinando estabilidade financeira, monetária e fiscal com transferência de renda e de foco dos investimentos, está provocando uma ascensão social de monta no país. Isso não significará necessariamente no futuro uma sociedade “mais progressista”. Pode prevalecer, e prevalecerá em parte desse grupo ascensional, que envolve diferentes níveis de renda, o complexo da Arca de Noé: “eu e os meus nos salvamos; agora fechemos as portas, porque aqui não cabe todo mundo”.
As direitas brasileiras – ofuscadas por seus sentimentos oligárquicos no caso da mídia corporativa, ou fascinadas, no caso dos políticos, pela ameaçadora perda do poder governamental por mais alguns anos – não conseguem perceber esse movimento, nem suas possibilidades, nem o que isso representa. Por isso, provavelmente, serão duramente castigadas nas próximas eleições. A frente partidária de direita será pulverizada, se nada de novo acontecer.
Aqui tenho uma discordância com a visão de Nassif, de que isso poderia ser necessariamente ruim. É a chance de surgir, não das cinzas, mas com base naquele novo quadro social emergente, um novo pensamento conservador, renovado e um pouco mais arejado do que o dessas direitas atuais, que deixaram de ser conservadoras para se tornarem amplamente reacionárias, vivendo num mundo virtual em que só elas e seus apaniguados mais empedernidos acreditam. A expressão acabada dessa cegueira é a tentativa de transformar José Serra em “Zé”, mais a favela virtual criada por sua campanha.
Uma direita mais “moderna” – se isso é possível – começaria por se tornar mais independente em relação à mídia corporativa que é autoritária em relação aos mais fracos – o sofrido povinho e o temido povão, que são dois lados da mesma moeda dos seus pesadelos – enquanto corteja e tenta acaudilhar pela representação os mais fortes. Adotaria uma posição mais aberta ao diálogo na América Latina e no mundo inteiro, ao invés de ficar brincando de Guerra Fria à antiga, vendo mocinhos e bandidos em tudo e se pondo no papelão de novo de assumir a defesa da cavalaria americana contra os índios hostis do resto do mundo. Uma direita mais moderna prestaria mais atenção no Santos de hoje do que no Uribe de ontem, e digo isso por mais que não tenha qualquer simpatianem empatia pelo primeiro e apenas completa e total antipatia pelo segundo. Trata-se isso sim de Não sabemos ainda o que exatamente vai acontecer nas eleições de outubro. Os prognósticos, para nós das esquerdas – os nós que não nos entravamos nos nossos nós – são muito bons: vitória de Dilma, seja no primeiro ou no segundo turno, estabilização de Marina da Silva, que poderá se livrar da incômoda e completamente auto-centrada política de Gabeira, Plínio mantendo sua dignidade exemplar e, quem sabe, neutralizando o poder de biruta de aeroporto da atuação de Heloisa Helena junto às extremas. Mas tudo isso são prognósticos, a serem passados a limpo pelo crivo de outubro.ver o que eles representam hoje, qual o seu papel.
Não sei como seria o pensamento dessa “nova direita”, pois certamente não pensaria com nem como ela. Mas seria mais interessante do que isso que aí está.
Sem essa renovação “do lado de lá” as esquerdas tenderão a aprofundar suas divisões, porque a pressão social advinda do novo e mais complexo quadro social emergente assim as pressionará. A velha direita, massacrada, terá a tentação de renovar o cortejo às soluções autoritárias ou ditatoriais. Uma parte das “novas classes” emergentes poderá sair em busca de líderes popularescos, no estilo Berlusconi.
De todo modo, momentos interessantes estarão pintando no horizonte, se Dilma ganhar do jeito que parece que pode ganhar.
Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.
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