quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Governo Dilma: o futuro e o passado


Gilson Reis *

Neste domingo, dia 31 de Outubro, mais de cem milhões de brasileiros foram às urnas para eleger o futuro Presidente da República Federativa do Brasil. Uma eleição marcada por uma intensa luta de classes, emoldurada por dois projetos de caráter político, econômico, social e estrutural amplamente antagônicos. Uma eleição que somente assumiu efetivamente seu caráter classista no desenrolar do segundo turno, mais precisamente a partir do primeiro debate ocorrido na rede Bandeirantes. Naquela altura o candidato demotucano, José Serra, desesperado com o processo em curso, polarizava a eleição no campo da ética, da moral e da religião.

Nestas condições obscurantistas estava do outro lado da disputa a militante de esquerda, a combatente revolucionária que enfrentou de peito aberto a sangrenta ditadura militar. A mulher guerreira, corajosa, determinada e que consciente das adversidades que a esperava em cada passo, conseguiu com determinação vencer os desafios. Entrava na disputa do segundo turno, a jovem torturada, a economista, a mulher preparada na luta de gênero, a gestora determinada e competente de vários governos. Entrava no campo da batalha eleitoral a mãe, a avô e com elas a consciência de uma geração de brasileiros e brasileiras talhados na luta contra as desigualdades sociais e econômicas de uma nação jovem ainda em construção.

A determinação e coragem de Dilma contagiou a militância partidária, sindical, estudantil, de gênero, de raça, de luta no campo e todas as organizações do extrato popular. Um exército de homens e mulheres foram às ruas e praças deste país enfrentando o ódio e a mentira. Através dos militantes que produziram milhares de textos nos twitter, e-mails, blogs, páginas da internet, facceboks, que desmoralizam as mentiras implantadas na mídia. Foram milhares de vídeos no youtube, manifestos de apoio, debates, caminhadas, bandeiraços, carreatas e uma enorme variedade de manifestações realizadas com energia e irreverencia.

Hoje, segunda feira, depois de contabilizados os votos, podemos afirmar que a vitória foi sim de Dilma, a primeira mulher presidente da nossa história. Mas, uma vitória construída e compartilhada com os milhões de brasileiros e brasileiras que envolveram de forma consciente e decisiva na disputa política e eleitoral, tendo como principal cabo eleitoral o metalúrgico, Lula da Silva.

Conquistamos uma grande vitória política, eleitoral e ideológica. Política porque elegemos maioria folgada na Câmara de deputados e no Senado Federal. Elegemos dezesseis governadores de Estados e centenas de Deputados Estaduais. A vitória eleitoral consubstanciou com uma expressiva marca de 55 milhões de votos, doze milhões de votos a mais que os conquistados pelo neoliberal José Serra. É preciso reafirmar que Dilma Rousseff é a Presidente mais bem votada de toda a história brasileira. Obtivemos neste dia 31 de outubro uma monumental vitória ideológica, pois enfrentamos uma mídia golpista e reacionária, que atacou de forma sistemática e cotidiana a candidata Dilma. Confrontamos com uma ideologia religiosa de pensamento medieval e conservadora que desencadeou a interferência até mesmo do Papa no processo eleitoral. Derrotamos no voto popular a direita liberal conservadora da articulação demotucana, que saiu mais do que nunca dividida entre grupos e lideranças regionais. Abrimos um cenário político capaz de realizar as mudanças estruturais e urgentes que o país tanto necessita.

Todavia, os discursos proferidos pelos dois candidatos logo após a confirmação dos resultados deixou algumas preocupações. A Presidente eleita, Dilma Rousseff, fez um discurso em tom conciliador, inclusive com a mídia golpista, e reafirmou de forma genérica seus compromissos de campanha. Já o candidato derrotado demotucano, José Serra, disse em tom de revanche e confronto “um até breve” e encerrou seu discurso declamando um trecho do hino nacional, “ verás que o filho seu não foge a luta…”.

Em todo o mundo, devido a crise do sistema capitalista, iniciada em 2008 e das contradições geopolíticas em curso, verifica-se uma nova onda fascista e nacionalista. Podemos no Brasil estar inciando novos e contundes embates contra uma oposição em transição. Agora é hora de organizar e mobilizar os setores mais avançados do país, para reafirmarmos nossos compromissos e desafios e confrontar nossas propostas e projetos com o bloco oposicionista que sai derrotado das eleições, mas, que não está morto.

Viva o povo brasileiro. Vida longa a primeira mulher Presidente da nossa história. Rumo ao futuro das transformações estruturais do Estado brasileiro.


* Presidente do Sinpro - MG - Sindicato dos Professores e dirigente nacional da CSC

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