quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Alvorada volta a abrigar mãe de presidente


Valor Econômico - 30/12/2010


A dona de casa Dilma Jane da Silva Rousseff, 86 anos, será a primeira mãe de um governante a morar na residência presidencial desde 1961, quando Jânio Quadros morou por sete meses com a mulher, Eloá, a filha, Dirce, e a mãe, Leonor, no Palácio da Alvorada. A mãe da presidente declarou logo após a vitória da filha que não deverá exercer papel algum em Brasília, o que tem sido a regra na história republicana, em que as primeiras-damas é que são encarregadas de cumprirem ritos cerimoniais e tarefas assistenciais.

A dona de casa Dilma Jane da Silva Rousseff, 86 anos, será a primeira mãe de um governante a morar na residência presidencial desde 1961, quando Jânio Quadros morou por sete meses com a mulher, Eloá, a filha, Dirce, e a mãe, Leonor, no Palácio da Alvorada. À época, Dilma Silva ainda não havia enviuvado do búlgaro naturalizado Pedro Rousseff e , conforme disse em entrevistas, jamais imaginara que a menina de então catorze anos incompletos chegaria a tal posição. A mãe da presidente Dilma Rousseff deixou a casa no Jardim São Luiz, o melhor bairro na região da Lagoa da Pampulha, no norte de Belo Horizonte, em meados de dezembro. A ampla residência só será usada em ocasiões eventuais, de visita à cidade em que a filha nasceu e em que morou por quase 70 anos.

A mãe da presidente declarou logo após a vitória da filha que não deverá exercer papel algum em Brasília, o que tem sido a regra na história republicana, em que as primeiras-damas é que são encarregadas de cumprirem certos ritos cerimoniais e tarefas assistenciais. A convivência de Dilma Rousseff com a mãe foi entrecortada. A presidente eleita saiu de casa antes de completar 20 anos, quando se casou com Claudio Galeno, seu primeiro marido, e passou a militar na luta armada. Dilma Jane voltaria a encontrar a filha entre 1970 e 1973 , nas visitas que fez à filha na prisão , em São Paulo. Em entrevista ao jornal "O Globo", a mãe da presidente relembrou aquele período como um "calvário": dividia-se entre as visitas semanais a Dilma, para quem levava queijos e livros, e os cuidados com a filha caçula, Zana, que adoeceu e morreu de infecção hospitalar com apenas 25 anos, em 1976. Ouviu as histórias das torturas que a filha sofreu, mas disse em entrevistas ter aprendido a conter emoções: "chorar não adianta", comentou em entrevista à TV Globo. Segundo o futuro ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel declarou em entrevista à revista "Marie Claire", durante a prisão da filha, Dilma Jane foi convertida do catolicismo para o protestantismo pelo pai de Pimentel, que era pastor metodista.

Chegaram ao poder com as mães vivas os presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck, Jânio, José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco. Exceto o caso de Jânio, em todos os demais as mães permaneceram longe do palácio presidencial. Somente dona Leda Collor de Mello teve um papel protagonista durante a presidência do filho, quando em 1992 tentou interceder por um acordo entre o então presidente e seu irmão, Pedro Collor. Diretor do jornal "Gazeta de Alagoas", Pedro Collor ameaçava denunciar um esquema de corrupção liderado pelo tesoureiro do irmão na campanha presidencial, Paulo César Farias, o PC, ao perceber que havia uma operação em curso para prejudicar seus negócios.

Controladora da holding familiar, dona Leda não conseguiu fazer Pedro e Fernando reatarem. A crise doméstica e política colaborou para que seus problemas cardíacos se agravassem até um colapso em setembro de 1992, durante o início do processo de impeachment do filho. Inconsciente a apartir de então, dona Leda morreu em fevereiro de 1995.

O mesmo ano em que o filho de dona Leda perdeu o cargo de presidente foi definido pelo seu sucessor, Itamar Franco, como "um ano muito triste". A mãe de Itamar, Itália Cautiero, morreu em dezembro, vinte dias antes da posse definitiva do filho na Presidência. Havia passado os últimos seis anos de vida inconsciente, em razão de um derrame cerebral, mas sua morte desestabilizou o filho, que trancou-se por dias em Juiz de Fora em meio a uma crise governamental, que culminaria naquele mês com a troca do ministro da Fazenda. O pai de Itamar morreu ainda durante a gravidez da mãe, e Itália Cautiero vendia marmita para criar sozinha os filhos, nos anos 30.

A mãe de Getúlio, Cândida Vargas, ficou ao lado do marido Manoel Vargas em São Borja até morrer, em 1936, quando o filho já exercia a Presidência no Rio há seis anos. Obscurecida pela presença do esposo patriarca, dona Cândida não teve para Getúlio a importância central que a professora Júlia Kubitscheck terminou por exercer sobre o filho Juscelino. Viúva desde quando o futuro presidente tinha apenas dois anos e em meio a uma grande escassez de recursos, dona Júlia fazia com que o filho assistisse a todas as suas aulas, de manhã e de tarde, por não ter com quem deixá-lo. Mais tarde, empenhou seus bens para que JK pudesse estudar medicina em Belo Horizonte. O antigo presidente se referiu à Júlia como "minha mãe e mestra" ao dar um depoimento ao centro de documentação da Fundação Getúlio Vargas, um mês antes de morrer,em 1976. Dona Júlia morreu em Belo Horizonte aos 98 anos, em 1971, e em sua velhice conviveu mais com outros familiares que não Juscelino. Esteve presente na inauguração de Brasília, em 1960.

Relatos mostram que Leonor Quadros teve ativa participação nas campanhas do filho em São Paulo nos anos 50, mas foi apenas uma expectadora de sua rápida Presidência. Estava no Alvorada quando o filho renunciou, em 25 de agosto, e o acompanhou na viagem por navio à Europa, logo a seguir. A de perfil mais discreto foi a mãe de Sarney, dona Kiola, que permaneceu recolhida no Maranhão durante todo seu governo. Falecida em 2004, há apenas um registro de alguma interferência sua na longa carreira política do filho: nos anos 90, teria pedido para Sarney dificultar a aprovação da reforma da Previdência do governo Fernando Henrique.

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