23/1/2011 15
Por Marcos Pedlowski -Correio do Brasil- do Rio de Janeiro
Ainda que haja um grande número de incertezas acerca das mudanças climáticas globais, uma das previsões que está sendo confirmada se refere à periodicidade e intensidade das chuvas. O cenário mais aceito é a tendência de que ocorram tempestades de alta intensidade e concentradas em pequenos períodos de tempo. A ocorrência deste tipo de evento meteorológico deverá colocar uma forte pressão sobre as cidades, visto que o aumento da impermeabilização dos solos deverá acarretar inundações e deslizamentos de terra. Para compensar os efeitos das mudanças climáticas, os países mais desenvolvidos estão investindo em estruturas de monitoramento e disseminação de informações, de modo a prevenir ou, pelo menos, diminuir os riscos de catástrofes urbanas. Um bom exemplo deste tipo de sistema é o da Austrália, que neste inicio de ano está sendo varrida por fortes tempestades e grandes inundações. Como resultado deste sistema, um evento meteorológico que poderia ter ceifado centenas de vidas causou apenas vinte mortes.
Mas se existe o conhecimento científico e exemplos de como mitigar os problemas das mudanças climáticas globais, por que no Brasil, e mais especificamente no Rio de Janeiro, estamos nos acostumando a assistir a catástrofes que estão matando anualmente centenas de pessoas? Como ponto de partida, podemos citar a falta de uma estrutura de monitoramento meteorológico que dê conta de um país de dimensões continentais. Além disso, como tristemente demonstrado na catástrofe que se abateu sobre a região serrana, inexiste um sistema de transmissão e recepção das informações entre os diferentes entes federativos. Como já se sabe, a informação de que ocorreria uma tempestade de grandes dimensões foi enviada pelo governo do estado às prefeituras, mas a mesma acabou se perdendo. O resultado deste descaminho das informações agora é mais do que conhecido. Ainda que seja perigoso realizar elucubrações sobre o que poderia ter sido evitado caso as prefeituras tivessem se preparado para remover a populações das áreas de risco, é possível que o tamanho da tragédia tivesse sido, como na Austrália, bem menor, com perdas materiais, apenas.
Mas o problema com que estamos defrontados no Brasil é muito maior do que a falta de sistemas eficazes de monitoramento e de remoção de pessoas de áreas de risco durante a ocorrência de chuvas intensas. A verdade é que a expansão das cidades, e que hoje torna o Brasil um dos países mais urbanizados do planeta, se deu sem qualquer tipo de controle sobre as forças do mercado imobiliário, que acabaram reservando as melhores áreas das cidades para os segmentos mais ricos da população. Por sua vez, os pobres foram forçados a ocupar encostas e áreas alagáveis. Como bem disse a presidente Dilma Rousseff em sua visita à Teresópolis, a construção de habitações em áreas de risco é a regra e não exceção em nosso país. E pior, em incontáveis casos pelo Brasil afora, é o próprio Estado quem constrói habitações de baixa qualidade em áreas de risco, deixando os pobres como prisioneiros inocentes da especulação imobiliária. É como se a condição de pobreza tornasse as pessoas cidadãos de segunda categoria, para os quais não se assegura o direito de viver de forma segura em moradias decentes.
O interessante é que as receitas estratégicas para resolver o problema das cidades brasileiras são mais do que conhecidas e combinam duas reformas da terra: a agrária e a urbana. O mais impressionante é que na década de 80 do Século XX a realização destas duas reformas tinha mais apelo político do que atualmente. Afinal de contas, com a reforma agrária se poderia conter, ou mesmo reverter, o continuo esvaziamento das áreas rurais. Já com a reforma da terra urbana, se poderia planejar melhor a expansão das cidades, impedindo que as melhores áreas ficassem circunscritas dentro de muros sob a forma de arranha-céus ou condomínios fechados. A verdade é que, ao invés de lançar a culpa sobre as vitimas, o que os governantes deveriam estar fazendo é iniciar tratativas para desengavetar a discussão da reforma da propriedade da terra em todo o território brasileiro. Sem essas mudanças estruturais, temos a possibilidade clara de que os campos continuem sendo esvaziados de gente pela expansão de monoculturas agro-exportadoras, e que a população na periferia das cidades continue crescendo de forma desordenada.
Como sabemos que as mudanças não virão sem pressão política sobre os governantes, é fundamental que todos os que hoje se sentem incomodados com as imagens vindas da região serrana, comecem a se preocupar com a nossa própria cidade. O fato é que um exame mínimo do que está acontecendo por aqui mostra que o mesmo despreparo e descompromisso estão aqui presentes. Assim sendo, caso não queiramos ver a repetição ad infinitum destas tragédias é preciso cobrar que mudanças urgentes sejam tomadas para mudar a forma com que estamos expandindo a nossa malha urbana. E como os governantes de plantão são bastante herméticos aos apelos da sociedade organizada, a cobrança terá de ser alta e clara e, de preferência, por escrito. Caso contrário, correremos o risco de sermos co-responsáveis das tragédias que virão se nada for feito.
Marcos Pedlowski é pós-doutor em Estudos Ambientais pela Fairfield University, doutor em Planejamento Regional, pela Virginia Tech, graduado e mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e chefe do Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico.
Ainda que haja um grande número de incertezas acerca das mudanças climáticas globais, uma das previsões que está sendo confirmada se refere à periodicidade e intensidade das chuvas. O cenário mais aceito é a tendência de que ocorram tempestades de alta intensidade e concentradas em pequenos períodos de tempo. A ocorrência deste tipo de evento meteorológico deverá colocar uma forte pressão sobre as cidades, visto que o aumento da impermeabilização dos solos deverá acarretar inundações e deslizamentos de terra. Para compensar os efeitos das mudanças climáticas, os países mais desenvolvidos estão investindo em estruturas de monitoramento e disseminação de informações, de modo a prevenir ou, pelo menos, diminuir os riscos de catástrofes urbanas. Um bom exemplo deste tipo de sistema é o da Austrália, que neste inicio de ano está sendo varrida por fortes tempestades e grandes inundações. Como resultado deste sistema, um evento meteorológico que poderia ter ceifado centenas de vidas causou apenas vinte mortes.
Mas se existe o conhecimento científico e exemplos de como mitigar os problemas das mudanças climáticas globais, por que no Brasil, e mais especificamente no Rio de Janeiro, estamos nos acostumando a assistir a catástrofes que estão matando anualmente centenas de pessoas? Como ponto de partida, podemos citar a falta de uma estrutura de monitoramento meteorológico que dê conta de um país de dimensões continentais. Além disso, como tristemente demonstrado na catástrofe que se abateu sobre a região serrana, inexiste um sistema de transmissão e recepção das informações entre os diferentes entes federativos. Como já se sabe, a informação de que ocorreria uma tempestade de grandes dimensões foi enviada pelo governo do estado às prefeituras, mas a mesma acabou se perdendo. O resultado deste descaminho das informações agora é mais do que conhecido. Ainda que seja perigoso realizar elucubrações sobre o que poderia ter sido evitado caso as prefeituras tivessem se preparado para remover a populações das áreas de risco, é possível que o tamanho da tragédia tivesse sido, como na Austrália, bem menor, com perdas materiais, apenas.
Mas o problema com que estamos defrontados no Brasil é muito maior do que a falta de sistemas eficazes de monitoramento e de remoção de pessoas de áreas de risco durante a ocorrência de chuvas intensas. A verdade é que a expansão das cidades, e que hoje torna o Brasil um dos países mais urbanizados do planeta, se deu sem qualquer tipo de controle sobre as forças do mercado imobiliário, que acabaram reservando as melhores áreas das cidades para os segmentos mais ricos da população. Por sua vez, os pobres foram forçados a ocupar encostas e áreas alagáveis. Como bem disse a presidente Dilma Rousseff em sua visita à Teresópolis, a construção de habitações em áreas de risco é a regra e não exceção em nosso país. E pior, em incontáveis casos pelo Brasil afora, é o próprio Estado quem constrói habitações de baixa qualidade em áreas de risco, deixando os pobres como prisioneiros inocentes da especulação imobiliária. É como se a condição de pobreza tornasse as pessoas cidadãos de segunda categoria, para os quais não se assegura o direito de viver de forma segura em moradias decentes.
O interessante é que as receitas estratégicas para resolver o problema das cidades brasileiras são mais do que conhecidas e combinam duas reformas da terra: a agrária e a urbana. O mais impressionante é que na década de 80 do Século XX a realização destas duas reformas tinha mais apelo político do que atualmente. Afinal de contas, com a reforma agrária se poderia conter, ou mesmo reverter, o continuo esvaziamento das áreas rurais. Já com a reforma da terra urbana, se poderia planejar melhor a expansão das cidades, impedindo que as melhores áreas ficassem circunscritas dentro de muros sob a forma de arranha-céus ou condomínios fechados. A verdade é que, ao invés de lançar a culpa sobre as vitimas, o que os governantes deveriam estar fazendo é iniciar tratativas para desengavetar a discussão da reforma da propriedade da terra em todo o território brasileiro. Sem essas mudanças estruturais, temos a possibilidade clara de que os campos continuem sendo esvaziados de gente pela expansão de monoculturas agro-exportadoras, e que a população na periferia das cidades continue crescendo de forma desordenada.
Como sabemos que as mudanças não virão sem pressão política sobre os governantes, é fundamental que todos os que hoje se sentem incomodados com as imagens vindas da região serrana, comecem a se preocupar com a nossa própria cidade. O fato é que um exame mínimo do que está acontecendo por aqui mostra que o mesmo despreparo e descompromisso estão aqui presentes. Assim sendo, caso não queiramos ver a repetição ad infinitum destas tragédias é preciso cobrar que mudanças urgentes sejam tomadas para mudar a forma com que estamos expandindo a nossa malha urbana. E como os governantes de plantão são bastante herméticos aos apelos da sociedade organizada, a cobrança terá de ser alta e clara e, de preferência, por escrito. Caso contrário, correremos o risco de sermos co-responsáveis das tragédias que virão se nada for feito.
Marcos Pedlowski é pós-doutor em Estudos Ambientais pela Fairfield University, doutor em Planejamento Regional, pela Virginia Tech, graduado e mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e chefe do Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico.
Um comentário:
Faltou dizer!
NOTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE AS CHUVAS NA REGIÃO SERRANA
- O QUE FALTOU DIZER -
Faltou dizer que, em Petrópolis, a localidade fortemente atingida pelas chuvas foi o Vale do Cuiabá que está situado a cerca de 12 Km do centro de Itaipava, em direção a Teresópolis
Faltou dizer que, com exceção da rodovia que liga Itaipava à Teresópolis, todas as estradas estão operando normalmente e não foram atingidas ou obstruídas, nem temporariamente, mesmo no dia do temporal.
Faltou dizer que Itaipava, assim como os demais distritos de Petrópolis e o Centro Histórico da cidade, estão funcionando normalmente. Bares, restaurantes, shoppings, comércio, museus, monumentos e demais locais de visitação e lazer continuam operando normalmente
Faltou dizer que, com exceção da localidade tragicamente atingida pela ação da natureza, a cidade é calma, segura e linda.
Faltou dizer que a segunda fase da tragédia ainda está por ocorrer. Ela se caracteriza pelo desemprego e pelo fechamento de uma infinidade de pequenos negócios que vivem, direta ou indiretamente, da atividade turística que é a principal atividade econômica de Petrópolis.
Faltou dizer que, além do socorro às vítimas - que vem sendo feito com uma excepcional colaboração dos governos estadual e federal e uma extraordinária mobilização da sociedade - precisamos cuidar do socorro às vítimas dessa segunda fase que, geralmente, se sobrepõe com efeitos devastadores sobre o emprego e a renda das famílias das regiões atingidas.
Assim, para que tudo o que faltou dizer nas reportagens das redes de comunicação, não resulte na segunda fase do problema. Para que não se possa dizer que “faltou fazer” alguma coisa, estamos nos mobilizando para trazer de volta o principal elemento gerador de emprego e renda: o turista.
Os hotéis e pousadas de Petrópolis, Itaipava e arredores, estão oferecendo promoções e tarifas especiais em seus pacotes de hospedagem para que você nos ajude a mobilizar a economia de Petrópolis e mais rapidamente recuperar a atividade econômica local. Você estará ajudando a preservar muitos postos de trabalho e desfrutando do melhor da região por preços ultra especiais.
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