A história do desenvolvimento da comunidade humana certamente se confunde com a evolução dos mecanismos de comunicação e informação que, ao longo do tempo, o homem foi estabelecendo. Primeiro prevaleceu a oralidade, e houve um tempo em que era em torno da fogueira que aconteciam as narrativas dos mais velhos, que buscavam perpetuar o conhecimento de fatos passados e sobre eles apresentavam sua visão de mundo , transmitida para os atentos ouvintes de então.
De lá para cá, muitos momentos construíram a evolução desse processo informativo , com as primitivas formas de escrita passando pelas marcas nas cavernas, pelo papiro e o pergaminho. Mas o marco divisório surgiu com o advento da imprensa, pela óbvia ampliação das possibilidades de acesso múltiplo ao conhecimento.
Entre os dias da invenção de Gutenberg e o nosso tempo, muita notícia aconteceu, veiculada pel o telégrafo, o telefone, o rádio. O rádio, aliás, ainda hoje imbatível quando se trata de atingir a todos os rincões, mantém, para os saudosistas como eu, a possibilidade de nos fazer , de alguma forma, participantes daquilo que nos é transmitido , pois a imaginação complementa o que é captado pelos ouvidos . Quem viu “A Era do Rádio”, sabe como Woody Allen trata do tema com maestria insuperável. E quem ouviu, por anos, o “Repórter Esso”, quem viveu emocionado os seriados dos heróis da Rádio Nacional e as quase pioneiras e não menos heroicas transmissões esportivas dos jogos da seleção brasileira no exterior, sabe bem onde, pel o rádio, nos levava a imaginação.
Não morreu o rádio, mas é inegável a supremacia que sobre ele a televisão acabou por exercer, com a sedução da imagem, da cor, dos efeitos especiais, dos avanços tecnológicos. A televisão é um dos ícones do planeta globalizado, abrindo com imagem e som o mundo aos nossos olhos e ouvidos. Com sua magia, vem sendo, ao longo das últimas décadas, o principal veículo de informação das grandes massas , assumindo, em muitos lugares – e o Brasil é um exemplo – uma posição de tal hegemonia que o seu noticiário acaba determinando comportamentos e fundamentando posicionamentos por parte dos espectadores.
Por isso, não é um assunto menor – e que apenas deva ser tratado à luz de superficiais afirmações de liberdade – a discussão sobre um efetivo controle da informação prestada pela grande mídia (a TV em particular). É fácil perceber que, ao longo do tempo, ela foi assumindo status de poder, introduzindo visão ideológica parcial e postura de partido político quando da veiculação de notícias e, nesse sentido, manipulando a informação , nela inflacionando alguns aspectos e minimizando outros ao sabor de suas conveniências. Vimos isso nas eleições, com a hipocrisia de um comportamento partidário que procurava afirmar-se imparcial. Vemos isso no aproveitamento sensacionalista e não raro tendencioso com que alguns jornalistas tratam as grandes desgraças nacionais (em algum lugar, li a expressão “showrnalismo”), nelas vendo a mórbida oportunidade de fazer proselitismo político. Não se nega a função social da mídia, mas é preciso repudiar sempre a manipulação da notícia, o tratamento comprometido dos fatos.
Aqui, duas menções a artigos do DR. O primeiro, do Urariano Mota, que fala dos profissionais assessores (ou serão “assessores profissionais”?) dos governos militares e mostra com clareza os seus comprometimentos – não muito diferentes dos da atualidade – com ideias que sabotam a notícia a serviço de outros interesses. O segundo, da Leila Cordeiro (“O que acontece com o JN?”), que revela como funciona (ou não funciona) o Jornal Nacional e aponta caminhos para a informação qualificada e democrática.
Na caminhada da Humanidade, não há lugar para pessimismos e, apesar de tudo, há fortes sinais de que, no campo da informação, os ventos estão começando a soprar em outra direção, que não a da desfaçatez que “ideologiza”, “comercializa” ou “espetaculariza” a notícia. Está aí a internet, que não faz milagres, mas, mesmo com certos desvios éticos indesejáveis, experimenta crescimento exponencial como instrumento que tem o saudável e avassalador poder de privilegiar a pluralidade e a diversidade no campo da informação. Ela permite que o até então ingênuo ouvinte ou espectador se transforme em autor da própria notícia, fazendo dele o informante e o informado, pela aberta e democrática possibilidade de filtrar o que interessa, comparar posicionamentos, exercitar juízo crítico, construir (ou reconstruir) a notícia. Ela enseja, além disso, (ou por isso), uma alteração de rumos e de tráfego da notícia, não mais em um caminho de mão única típico de quem manda e quem obedece, próprio de estruturas midiáticas tradicionais. Ela vem obrigando os Governos a um exercício de transparência capaz de, aí sim, agregar valor às informações governamentais.
Nesse sentido, volto a um artigo do DR, desta vez do Eliakim Araújo, que apresenta dados estatísticos relativos à crescente “perda de audiência” que se vem registrando na TV aberta em relação a outras mídias, o que inclui, obviamente, os programas jornalísticos.
A verdade, já se disse, é que informação é poder e democratizá-la é diluir esse poder, estendendo-o socialmente e fortalecendo os princípios da cidadania. Esse é um imperativo da sociedade do nosso tempo. Que se cuidem, portanto, os manipuladores...
Rodolpho Motta LimaAdvogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil .Fonte:Direto da Redação.
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