sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Lula critica países ricos

Cristiane Bonfanti
Correio Braziliense - 05/08/2011

Bogotá — O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem o desempenho dos Estados Unidos e dos países da Europa em meio à crise financeira. Diante das turbulências, ele ressaltou que os emergentes estão virando o jogo na economia mundial. Lula considerou "impressionante" como, em momentos em que a América Latina passava por dificuldades, os EUA sabiam intervir e dizer o que deveria ser feito. Agora, eles caíram no atoleiro. "Quantas vezes disseram a nós o que podíamos ou não gastar?", questionou, durante a abertura do 1º Fórum de Investimentos Colômbia-Brasil, na capital colombiana.

Lula ressaltou que, agora, os países da América Latina têm de cuidar de seus mercados. "Chegou o momento de pensarmos em nós. Não que a gente não queira levar em conta os parceiros ricos, mas temos potencial de crescimento. O grande orgulho dos EUA era consumir até o que não precisava e, agora, eles não consomem sequer o que precisam", disse. Ele destacou que, em 2008, o mundo não tinha ideia das dimensões que a crise na Europa tomaria. "Não era possível imaginar que a pequenina Grécia provocaria o estrago que causou."

Para o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, as perspectivas são boas, mas é preciso tomar cuidado. "Nos próximos 15 anos, 68% do crescimento da economia mundial virá de mercados emergentes. Mas, sem dúvida, a situação das economias mundiais tem efeitos sobre os nossos países", constatou. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse que os presidentes dos países da região estão muito atentos à situação na economia mundial. "Temos conseguido, até agora, evitar que essa crise desarticule nossos êxitos recentes na macroeconomia e na redução das desigualdades sociais. Mas a década atual só será a da América Latina se todos os nossos países souberem aproveitar essa oportunidade", ressaltou.

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, apontou a valorização das moedas como um problema para as economias locais. "As políticas dos EUA e da Europa nos tocam de alguma forma, pois atingem as exportações e cerceiam a capacidade de geração de emprego", disse. "O que é importante é a presença dos empresários, o relacionamento com os investidores, que vão tornar o processo mais fácil na América Latina. Essa pode ser a nossa década."


A repórter viajou a convite do BID


USO DE RESERVAS EM INFRAESTRUTURA
Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem que os países da América Latina destinem uma parte de suas reservas internacionais, que hoje somam ao menos US$ 700 bilhões, para investir em infraestrutura. "Hoje, só o Brasil tem US$ 342 bilhões em reservas. A Argentina tem US$ 50 bilhões. Elas estão depositadas nos títulos norte-americanos, rendendo uma merreca", afirmou. A seu ver, a América Latina poderia criar um mecanismo, como um fundo garantidor, para usar parte desse dinheiro em áreas estratégicas. "Precisamos de hidrelétricas, estradas e melhoria das telecomunicações. Se é verdade que a Colômbia e o Brasil têm o tanto de gás que dizem possuir, precisamos de uma estratégia para usar a riqueza do nosso continente."

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