O horário nobre da Globo vomita dezenas de comerciais de
automóveis em seu telespectador. Ângulos espetaculares mostram carros com
design ultra moderno, sedutor, brilhante. Geralmente o motorista tem uma gata
ao lado, é tranquilo e bem humorado. Dirige sozinho seu carrão pelas ruas. Sem trânsito,
congestionamentos, fumaça, barulho, estresse.
O brasileiro é o cara mais aficionado por carros do mundo.
Nunca foi meu caso, mas a maioria das pessoas tem como objetivo na vida:
1º comprar um carro, 2º o restante dos planos. Foram
condicionadas a isso. Ter automóvel (principalmente o primeiro da vida) é
sinônimo de status. Entre outras vantagens, uma tem que ser destacada: Não é
imprescindível, mas facilita na hora de conquistar uma mulher (sem hipocrisia,
é fato!).
O problema do transporte público é o transporte individual.
Por que é tão ruim? O ônibus balança muito? Os assentos são
sujos, desconfortáveis? Não, não é isso. O transporte público é ruim porque te
obriga a ficar dentro de um ônibus superlotado e que não anda. Ora, se não
houvesse a ocupação maciça dos automóveis, o transporte público seria eficiente
e sobraria mais espaço para ampliação da frota. Independente do valor da
passagem, faria seu papel: transportar com rapidez e conforto.
Imagine os comerciais de automóvel. O carro deslisando
suavemente pela pista, sem trânsito. Potência, conforto, segurança… Agora mude
apenas o veículo da cena. Troque por um ônibus, sem as centenas de carros que o
cercam na vida real. É isso que Maurícios, Patrícias todos nós queremos para o
transporte público.
Já o metrô, concebido para aliviar o trânsito dos automóveis
particulares e se encarregar de transportar a grande massa, tornou-se pior que
cela de prisão. O metrô, tem um limite de 200 passageiros por vagão. Mas os
automóveis particulares empurram para o subsolo das ruas o dobro de sua
capacidade de passageiros. No subsolo, a briga é diretamente com o PSDB – que
constrói 2 km de metrô por ano, em média e, mesmo assim, é mantido no governo
há mais de 20 anos pelos paulistas.
Então qual é a solução?
As ruas de SP recebem 1200 novos automóveis por dia. Isso
tem que parar. É preciso TIRAR DE CIRCULAÇÃO grande parte dos automóveis e
aumentar as frotas de ônibus. Qualquer outra medida é paliativa. Como é o
rodízio (do qual muitos se livraram comprando um segundo carro!).
Mas como se contrapor aos interesses da indústria
automobilística? Vai brigar com esses tubarões? Sem contar os tubarões maiores,
os do petróleo. Levaremos 500 anos até queimar a última gota do estoque de
petróleo mundial. A indústria automobilística tem dezenas de projetos
alternativos à queima de derivados de petróleo. Todas trancadas no porão. Se
surge uma nova invenção, eles compram e trancam.
Se o Maurício e a Patrícia conseguirem melhorar o transporte
coletivo, teremos menos automóveis, menos poluição, mais ônibus, menos aperto e
mais rapidez pra se locomover.
Perfeito. Só falta acertar alguns detalhes com a Globo e
toda a mídia, que terão menos comerciais de automóveis para empanturrar seus
cofres. Também é preciso fazer um acordo os donos de automóveis, que terão que
deixá-los em casa. (Mesmo sabendo que o brasileiro não troca seu carro nem pelo
melhor ônibus ou metrô do mundo!) E finalmente, fazer as multinacionais de
petróleo se conformarem em vender menos petróleo ao consumidor (e aos consumidores
de outros países que resolverem seguir nosso exemplo).
As consequências a médio e longo prazos seriam:
1 – Diminuição da poluição em todo o planeta.
2 – Diminuição dos motivos para invadir países e trucidar
populações.
3 – Diminuição das mortes no trânsito.
4 – Menos neurose coletiva em trânsito caótico.
5 – Mais tempo para leitura ou papo com amigos enquanto o
motorista do ônibus/metrô nos leva para casa.
Como podem ver, Maurício e Patrícia, estamos
“quase lá”. Mais algumas passeatas e o mundo será um lugar melhor de se viver.
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