Eu era também um jovem
insurrecto na década de 1980 quando cunhei a frase-emblema que viria a servir
como estandarte do movimento estudantil na minha universidade: QUE A POESIA
SOBREPUJE A MEDIOCRIDADE. Agora, eis que se impõe uma nova palavra de ordem:
Que a Democracia sobrepuje a intolerância e a barbárie.
A intolerância, a violência
e a baderna, enfim a barbárie não pode nos desviar dos caminhos da utopia. Todo
esse lixo, que infelizmente ainda carregamos em nossa bagagem, tem a tonta pretensão
de arruinar a nossa dedicada semeadura, desencaminhar o nosso destino inadiável
de construir um Brasil mais justo para todos os brasileiros e assim sepultar os
nossos sonhos. Estamos no caminho certo. Não podemos cair na cilada pantanosa
dos desvios e descaminhos que tenta nos impor a direita.
Os jovens brasileiros de
hoje tomaram as ruas e lograram fazer o que várias gerações de jovens antes
deles não conseguiram: dobrar o poder instituído. Essa é uma vitória que
devemos todos louvar e celebrar, e a partir dela construir novas vitórias. Mas
não podemos nos esquecer de que outras gerações de jovens, inúmeros, prepararam
e adubaram o terreno com suor e sangue, para que resultasse nessa viçosa
colheita - que não podemos, em absoluto, destruir, arruinar.
E é em nome e louvor desses
jovens, do passado e do presente, verdadeiros mártires e heróis da pátria,
muitos anônimos e desaparecidos, autênticos baluartes do civismo, que faço essa
minha louvação: Que a Democracia sobrepuje a intolerância e a barbárie.
Bem sabemos, lá no fundo,
que a nossa natureza primal embute bestial violência e agressividade, que nos
esforçamos em domar através da educação para a civilidade, para a vida em
comunidade e na busca do bem comum. Submetemos, pois, a barbárie à civilização.
Dobremo-la, pois.
Vivemos hoje as dores e
delícias da Democracia. Na ditadura, tínhamos medo; hoje, o louvável e
necessário destemor, mas que muitas vezes se confunde com petulância e esta,
por sua vez, com a arrogância, que por vezes descamba para a vil intolerância e
violência.
Devemos, portanto, celebrar
a Democracia! E muitos, creio que a maioria, saíram às ruas nesse espírito.
Qual seja: de protestando, gritando, empunhando bandeiras demonstrar a sua
insatisfação. E assim reivindicar (e conseguir) melhorias no transporte, na
segurança e na educação públicos desse país; clamar por uma nova e maiúscula
Política.
Equivocam-se os que,
autoritários e intolerantes, acham que podemos prescindir dos políticos e dos
partidos. Podemos até prescindir da maior parte dos políticos e dos partidos
que aí estão, mas necessitamos de modo fundamental da Política, dos políticos,
dos sindicatos e dos partidos.
Enganam-se os que pensam que
construiremos a nossa utopia sem os alicerces edificados até então. Sem fundamentos,
embora não saibamos ou sequer nos demos conta, somos meros “João-bobo”, meros
balões de ensaio coloridos que farão a festa e a alegria dos reacionários.
Na nossa ainda longa caminhada rumo a nossa
irmanada utopia precisamos de líderes e de uma mínima organização e disciplina;
precisamos de uma pauta e não somente de palavras de ordem – por mais justas e
valorosas que estas sejam.
Ingênuos são os que se
deixam guiar por um mascarado anônimo, que aparece no Youtube ditando suas
pautas e cagando regras. Quem ou o quê está por detrás daquela máscara?! Não se
sabe. Já haviam pensado nisso? Por detrás daquela fantasia bem urdida podem se
revelar interesses mascarados, escusos. Não podemos nos deixar enganar por
fantasias, por heróis de ocasião e mascarados. Não devemos ter vergonha de
mostra a nossa cara. Temos uma História, um passado a honrar e um futuro a
construir!
Sigamos em frente. Marchemos
juntos na sociedade, não somente nas ruas! Sim, vamos mudar o país!
Vamos mudar a Política e os
políticos! Vamos debater e discutir uma reforma política, por exemplo. Sim,
pois a troca de ideias e opiniões é a essência e fundamento da Democracia. Não
é a sua opinião e vontade tão somente, ou a opinião de um determinado grupo,
tampouco a minha, do prefeito, do governador ou mesmo da Presidente da
República que ditará a “verdade” e os nossos rumos, mas sim a opinião e desejos
da maioria. É através do consenso que construiremos o novo Brasil. Jamais
através da violência e da opressão.
Portanto, tiremos em caráter
definitivo a violência, a intolerância e a barbárie das ruas de nossas cidades
e, principalmente, de dentro de nós.
Vivamos a Democracia, sem
temores ou violência - e em toda a sua plenitude.
Vivamos e construamos,
juntos, esse novo Brasil.
Lula Miranda
Nenhum comentário:
Postar um comentário