Além do apoio da maioria da
população, esse amplo reconhecimento internacional de Lula, feita por entidades
tão díspares, deveria levar a oposição mais intransigente à reflexão
Conhecemos a saga de grandes
estadistas, como Mikhail Gorbatchóv, aclamados no mundo inteiro por feitos de
alcance universal, mas que acabaram rejeitados por seus próprios conterrâneos,
incapazes de captar a dimensão histórica das mudanças empreendidas. Já o Brasil
teve líderes políticos queridos pelo povo e vilipendiados pelas elites, como
Getúlio Vargas e João Goulart, e que por isso tiveram seus governos
interrompidos. Mas nunca ninguém como o ex-presidente Lula conseguiu, em seus
mandatos e depois deles, ter tanto apoio e reconhecimento internacional e, ao
mesmo tempo, ser objeto de tanto ódio e preconceito por parte de alguns setores
da oposição.
Há dois dias o jornal O
Estado de S. Paulo publicou uma matéria revelando que, com os 11 últimos
títulos de Doctor Honoris Causa recebidos em menos de um mês, Lula passou a
liderar a lista de homenagens a ex-presidentes, com 55 honrarias: 24 títulos de
Doctor Honoris Causa (11 brasileiros); 28 prêmios e cinco títulos de cidadania.
A título de comparação, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acumulou 22
honrarias: nove títulos de Doctor Honoris Causa; 11 prêmios e dois títulos de
cidadania.
Na semana passada, Lula
recebeu o título de Doctor Honoris Causa da Universidad Mayor de San Marcos, em
Lima (Peru), fundada em 1551 e a mais antiga das Américas. O ex-presidente se
emocionou por ter recebido a honraria da mesma universidade que, no passado,
homenageou os libertadores Simón Bolívar e San Martí. E, no mês passado, Lula
esteve na Argentina para receber o mesmo título de nada menos que oito
universidades daquele país, entre elas a Universidad Nacional de San Martín e a
Flacso (Facultad Latino-americana de Ciencias Sociales).
Entre os tantos títulos
internacionais já recebidos por Lula cabe aqui destacar o que foi entregue em
Nova York em abril pelo International Crisis Group, um think tank americano que
concedeu ao ex-presidente o prêmio Em Busca da Paz; e o que ele recebeu em
outubro de 2011, o World Food Prize, criado pelo Nobel da Paz de 1970 Norman E.
Bourlaug para homenagear chefes de Estado que combateram a fome. No mesmo ano,
ele também recebeu o Prêmio Lech Walesa em Gdansk (Polônia), que presta
homenagens a personalidades que se destacam pelo respaldo à liberdade, à
democracia e à cooperação internacional.
Mas talvez a honraria mais
célebre e a que causou maior polêmica tenha sido o Doctor Honoris
Causaconcedido ao ex-metalúrgico pelo prestigioso Instituto de Estudos Políticos
de Paris, mais conhecido como Sciences Po, também em 2011. Lula foi apenas o
16º Doctor Honoris Causa dessa universidade em 140 anos de existência. Pelos
bancos da Sciences Po se formaram o escritor Marcel Proust, o ex-presidente
Jacques Chirac; o ex-premiê Lionel Jospin e Pascal Lamy, ex-diretor da OMC,
entre outros.
À pergunta impertinente de
alguns jornalistas brasileiros sobre o porquê de Lula – e não Fernando Henrique
Cardoso – ter recebido semelhante distinção, o diretor do Instituto de Estudos
Políticos Richard Descoings, respondeu que o ex-presidente "mudou muito o
país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo". Nas palavras do
diretor, "o Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não
tem estudo superior. O presidente Lula mostrou que é possível ser um bom
presidente sem ter que passar pela universidade".
Na oportunidade, o grande
jornalista argentino Martín Granovsky lavou a alma de Lula e do povo brasileiro
ao escrever ironicamente que no Brasil"um trabalhador metalúrgico não pode
ser presidente. Se, por alguma casualidade, chegou ao Planalto, agora deveria
exercer o recato. Assim, Lula, silêncio, por favor. Os da Casa Grande estão
irritados".
Além do apoio da
maioria da população, esse amplo reconhecimento internacional de Lula, feita
por entidades tão díspares, deveria levar a oposição mais intransigente à
reflexão. Afinal, Lula liderou um governo que em oito anos inverteu as
prioridades nacionais e tirou 28 milhões de pessoas da miséria, possibilitou o
ingresso de outros 39 milhões na classe média e criou 16 milhões de empregos
formais. Não por acaso, o historiador britânico Eric Hobsbawm, morto ano
passado, disse que Lula é o mais importante político da atualidade.
Newton Lima
Deputado federal pelo PT-SP e presidente da representação brasileira no Parlasul
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