quarta-feira, 12 de junho de 2013

Lula, o reconhecimento internacional e as elites brasileiras


Além do apoio da maioria da população, esse amplo reconhecimento internacional de Lula, feita por entidades tão díspares, deveria levar a oposição mais intransigente à reflexão

Conhecemos a saga de grandes estadistas, como Mikhail Gorbatchóv, aclamados no mundo inteiro por feitos de alcance universal, mas que acabaram rejeitados por seus próprios conterrâneos, incapazes de captar a dimensão histórica das mudanças empreendidas. Já o Brasil teve líderes políticos queridos pelo povo e vilipendiados pelas elites, como Getúlio Vargas e João Goulart, e que por isso tiveram seus governos interrompidos. Mas nunca ninguém como o ex-presidente Lula conseguiu, em seus mandatos e depois deles, ter tanto apoio e reconhecimento internacional e, ao mesmo tempo, ser objeto de tanto ódio e preconceito por parte de alguns setores da oposição.

Há dois dias o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma matéria revelando que, com os 11 últimos títulos de Doctor Honoris Causa recebidos em menos de um mês, Lula passou a liderar a lista de homenagens a ex-presidentes, com 55 honrarias: 24 títulos de Doctor Honoris Causa (11 brasileiros); 28 prêmios e cinco títulos de cidadania. A título de comparação, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acumulou 22 honrarias: nove títulos de Doctor Honoris Causa; 11 prêmios e dois títulos de cidadania.

Na semana passada, Lula recebeu o título de Doctor Honoris Causa da Universidad Mayor de San Marcos, em Lima (Peru), fundada em 1551 e a mais antiga das Américas. O ex-presidente se emocionou por ter recebido a honraria da mesma universidade que, no passado, homenageou os libertadores Simón Bolívar e San Martí. E, no mês passado, Lula esteve na Argentina para receber o mesmo título de nada menos que oito universidades daquele país, entre elas a Universidad Nacional de San Martín e a Flacso (Facultad Latino-americana de Ciencias Sociales).

Entre os tantos títulos internacionais já recebidos por Lula cabe aqui destacar o que foi entregue em Nova York em abril pelo International Crisis Group, um think tank americano que concedeu ao ex-presidente o prêmio Em Busca da Paz; e o que ele recebeu em outubro de 2011, o World Food Prize, criado pelo Nobel da Paz de 1970 Norman E. Bourlaug para homenagear chefes de Estado que combateram a fome. No mesmo ano, ele também recebeu o Prêmio Lech Walesa em Gdansk (Polônia), que presta homenagens a personalidades que se destacam pelo respaldo à liberdade, à democracia e à cooperação internacional.

Mas talvez a honraria mais célebre e a que causou maior polêmica tenha sido o Doctor Honoris Causaconcedido ao ex-metalúrgico pelo prestigioso Instituto de Estudos Políticos de Paris, mais conhecido como Sciences Po, também em 2011. Lula foi apenas o 16º Doctor Honoris Causa dessa universidade em 140 anos de existência. Pelos bancos da Sciences Po se formaram o escritor Marcel Proust, o ex-presidente Jacques Chirac; o ex-premiê Lionel Jospin e Pascal Lamy, ex-diretor da OMC, entre outros.

À pergunta impertinente de alguns jornalistas brasileiros sobre o porquê de Lula – e não Fernando Henrique Cardoso – ter recebido semelhante distinção, o diretor do Instituto de Estudos Políticos Richard Descoings, respondeu que o ex-presidente "mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo". Nas palavras do diretor, "o Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. O presidente Lula mostrou que é possível ser um bom presidente sem ter que passar pela universidade".

Na oportunidade, o grande jornalista argentino Martín Granovsky lavou a alma de Lula e do povo brasileiro ao escrever ironicamente que no Brasil"um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se, por alguma casualidade, chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. Assim, Lula, silêncio, por favor. Os da Casa Grande estão irritados".

Além do apoio da maioria da população, esse amplo reconhecimento internacional de Lula, feita por entidades tão díspares, deveria levar a oposição mais intransigente à reflexão. Afinal, Lula liderou um governo que em oito anos inverteu as prioridades nacionais e tirou 28 milhões de pessoas da miséria, possibilitou o ingresso de outros 39 milhões na classe média e criou 16 milhões de empregos formais. Não por acaso, o historiador britânico Eric Hobsbawm, morto ano passado, disse que Lula é o mais importante político da atualidade.

Newton Lima


Deputado federal pelo PT-SP e presidente da representação brasileira no Parlasul

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