Antes de seguir adiante com
a frase acima, quero dizer que o termo jornalismo declaratório foi usado pelo
jornalista Caco Barcellos, da Tv Globo, durante o Seminário "Poder
Judiciário e Imprensa", promovido pela Escola de Magistratura da Justiça
Federal da Terceira Região, que fica em São Paulo. O texto que tomo como base
retirei do blog do jornalista Paulo Henrique Amorim quase literalmente.
Disse Barcellos que a
diferença entre o jornalismo "investigativo" e o jornalismo
"declaratório" é que o investigativo é o do "repórter ativo que
investiga antes de a informação se tornar pública, ouvindo os envolvidos e, a
partir das declarações, começa a investigar, confrontar a declaração com os
fatos apurados."
E o declaratório é o
jornalismo "praticado na maioria das redações brasileiras. Basta uma fonte
da área pública ou privada e isso, por si só, se torna uma notícia". Ao
ouvir o "outro lado", continua Caco Barcellos, o que o jornalismo
declaratório consegue é criar polêmica.
Ele deu dois exemplos
desastrosos de jornalismo declaratório: Um ocorreu no lado direito do espectro
político e outro, no lado esquerdo. "No lado direito, o impeachment do Presidente
Collor se iniciou na imprensa com a entrevista de um irmão ressentido. A
imprensa não provou uma linha do que ele disse. Collor sofreu uma punição
política, mas não se provou nada contra ele. A denúncia judicial e a denúncia
de imprensa devem ter sido, portanto, incompetentes".
No lado esquerdo, se fala de
um mensalão. "A partir de uma declaração de um deputado advogado
criminalista que disse existir um mensalão. Mas, cadê a prova? Bom, a imprensa
não conseguiu produzir uma prova de que havia um mensalão". Caco
Barcellos, em seguida, falou do preconceito de classe na Justiça e na imprensa,
quando, por exemplo, "se denuncia corruptos e não se identifica, nunca, os
corruptores. Quem corrompia o PC Farias? Quem botava grana no valeriodantas?
Ninguém jamais respondeu", questionou Barcellos.
Bom, e qual a semelhança que
eu vejo entre Dilma, Lula e Collor? Que o alagoano foi vítima da
desestabilização emocional do povo criada pela grande imprensa. Pagou caro por
isso ao perder o cargo, sem jamais ter sido condenado por coisa alguma que lhe
foi imputado.
Quanto ao ex-presidente
Lula, também foi a grande imprensa que tentou colocar sob os seus ombros o
envolvimento com o escândalo do mensalão. Dessa vez a estratégia falhou. Mas
enfrentar a grande imprensa não é fácil. Como exemplo, numa longa entrevista
que concedeu ao sociólogo Emir Sader, sobre os primeiros dez anos do PT no
poder, Lula afirmou que uma de suas decisões mais importantes foi tomada em
2005.
Naquele ano, no auge do
escândalo do chamado "mensalão", ele parou de ler os jornais e
decidiu tocar o governo adiante. Foi reeleito e terminou seu segundo mandato
como o presidente mais popular da história.
E, por fim, Dilma Rousseff.
Quando a grande imprensa – refiro-me ao Sistema Globo, jornais Folha e Estadão
e revistas Veja, Época e Isto é -, não consegue se mover sob um caso relativo à
corrupção, investe em desestabilizar a confiança da população, o que vem
exatamente sendo feito.
Como publicamos aqui, no
Brasil 247, a presidente Dilma está a ponto de repetir a decisão tomada por
Lula em 2005. Incomodada com o retrato que vem sendo pintado pelos grandes
jornais e revistas sobre um Brasil supostamente em crise, a presidente enxerga
uma realidade completamente distinta. Nas lentes do Palácio do Planalto, o que
existe hoje no Brasil real é um país com a menor taxa de desemprego da série
histórica do IBGE, com a inflação em queda, com recuperação da produção
industrial e contas públicas em ordem. No entanto, editoriais de jornais
apontam um Brasil à beira do abismo.
Hoje, em editorial, o
Estadão diz que é ato populista o crédito facilitado para que os beneficiários
do programa "Minha Casa, Minha Vida" comprem móveis e
eletrodomésticos. Porém, o mesmo argumento não é utilizado quando o estímulo
vai para o capital e não para o consumo.
Portanto, Collor
sofreu a desestabilização e foi apeado da Presidência da República. Lula sofreu
os tiros da desestabilização, mas sobreviveu. Agora é a vez de Dilma. E que
ninguém seja inocente de achar que não existe uma relação direta e convergente
entre os interesses políticos, empresariais e jornalísticos. Existe sim.
Observem como o Sistema Globo está batendo pesado nos preços dos produtos, nas
manifestações violentas e estúpidas em São Paulo e no Rio. Observe o enfoque
dado à notícia e nunca esqueça que nada é por acaso, especialmente em política,
e principalmente quando se quer criar um clima de insegurança. Basta que não
esqueçamos o que é jornalismo investigativo e jornalismo declaratório.
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