DAVIS SENA FILHO
Além de ter enfrentado com
coragem a imprensa de direita e de negócios privados, a presidente da Argentina
sancionou em 2012 o projeto que trata da criação da Lei das Mídias, marco
regulatório para as diversas mídias
Eu vou repetir o que já
afirmei mais de uma vez: Tenho inveja da Argentina. E explico por quê. A presidenta
trabalhista herdeira política do ex-presidente Néstor Kirchner, além de ter
enfrentado com coragem a imprensa de direita e de negócios privados, sancionou
em 2012 o projeto que trata da criação da Lei das Mídias, que é o marco
regulatório para as diversas mídias — os meios de comunicação —, que, sem serem
regulamentados (não confunda com censura), conforme acontece com os principais
segmentos de atividade econômica, teimam em desestabilizar governos
trabalhistas legitimamente eleitos pelos povos da América do Sul ao tempo que,
no decorrer da história, derrubados por golpes de estado promovidos pelos
empresários, com o apoio bélico e político dos militares, que assumiram
ilegalmente o poder em vários países da América Latina.
Por isto e por causa disto
sinto inveja da Argentina, porque há muito tempo os governos trabalhistas de
Lula e agora o de Dilma Rousseff deveriam ter se esforçado para efetivar o
marco regulatório para os meios de comunicação, como acontece, inclusive, nos
países desenvolvidos tão admirados por nossas "elites" colonizadas.
Países que, apesar da regulamentação, enfrentam problemas com esse segmento
empresarial dos meios de comunicação, que faz do seu negócio uma arma para
desestabilizar governos e moer reputações, sem, no entanto, quando erra ou
comete crimes não responde a ninguém, porque geralmente têm a cumplicidade de
setores politicamente conservadores, a exemplo do Poder Judiciário, notadamente
o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria Geral da Repúbica, que, equivocadamente,
tomam partido e escolhem lado, como no caso do "mensalão" do PT,
evidentemente, que no decorrer do tempo vai ficar notório como o mentirão.
O poder midiático tem lado,
ideologia, escolhe os partidos para apoiar e candidatos, geralmente do espectro
conservador, de direita e não mede consequências para conseguir seus intentos,
que são controlar a publicidade oficial e manter o sistema político e econômico
que transforma as concessões públicas dos meios de comunicação do Governo, ou
seja, do cidadão contribuinte, em concessões privadas, cujos principais
concessionários, que são os barões da imprensa, combatem, historicamente, os
governos trabalhistas e boicotam suas realizações ao ponto de a população
brasileira não ter acesso às informações concernentes às obras de
infraestrutura do País, às conquistas sociais, como o Bolsa Família (o maior
programa de inclusão do mundo), o ProUni, o Enem, o Luz para Todos, os PACs 1 e
2, que fizeram com que o Brasil praticamente não sentisse a crise econômica de
2008, as carteiras de crédito para as micro, pequenas e médias empresas, além
da criação de empregos, que superou os 15 milhões de postos de trabalho em
apenas oito anos, bem como livrou da pobreza extrema 33 milhões de brasileiros.
Além disso, os governos trabalhistas
incluíram 40 milhões de brasileiros na classe média (C), responsável maior pelo
crescimento exponencial do mercado interno deste País, que movimentou a
economia brasileira e assim garantiu milhões de empregos. Eu quero dizer que
esses novos cidadãos consumidores foram os principais responsáveis pelo círculo
virtuoso da economia brasileira, porque se tornaram mais importantes do que a
classe média tradicional e os ricos, no que é relativo a fortalecer o mercado
interno do Brasil. Setores econômicos de siderurgia, automobilístico, indústria
naval, petrolífero e de eletroeletrônicos foram recuperados ou incrementados e,
consequentemente, tiveram um crescimento a taxas elevadíssimas, o que fez com
que a economia nacional fosse descentralizada, realidade esta que permitiu a
redução das desigualdades regionais, o que acarretou a diminuição da migração
de nordestinos e sulistas, que passaram a ficar em suas terras e nelas a
trabalhar e, por conseguinte, cooperar para o desenvolvimento de seus estados e
de suas regiões.
Todos esses fatos e
realidades nunca ganharam destaque não imprensa corporativa e privada, que
conservadora e golpista passou a atacar, sistematicamente, o Governo Federal
administrado pelos trabalhistas. Ataques de conotações políticas incessantes,
diários, com o propósito de paralisar o governo trabalhista, com a mesma tática
realizada no passado, por intermédio do discurso moralista e lacerdista de
corrupção e desordem, exaustivamente usado contra os governantes mais
importantes que o Brasil até então tivera, que são as lideranças políticas
exemplificadas nas figuras de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João
Goulart, Luiz Inácio Lula da Silva e o governador Leonel Brizola, que não foi
presidente da República, mas era um político de grandeza nacional e
internacional. Dilma Rousseff ainda não experimentou o amargor e a violência de
uma oposição direitista e midiática como presidenta da República, apesar de seu
passado de lutas, da prisão e do flagelo da tortura. Contudo, ela é o alvo, como
o é também o trabalhista Lula, o político brasileiro mais importante da
atualidade em termos internacionais, para o desgosto dos reacionários.
A imprensa é — repito pela
milionésima vez — importante e fundamental para a democracia e a liberdade de
um povo e de uma nação. Ela tem de ser livre, tem de publicar, tem de denunciar
e investigar. Entretanto, tem de ser democrática e republicana e voltada também
para os interesses da coletividade e não apenas dedicada aos seus interesses
empresariais, partidários e políticos. A imprensa de mercado tem de fazer
jornalismo dessa forma e assim democratizar a informação ao cidadão, ao invés
de monopolizá-la e, por sua vez, aproveitar-se desse poder para manipulá-la, a
fim de obter vantagens econômicas e políticas, bem como fazer oposição
partidária, o que é um equívoco e grave erro. Ouvir todos os agentes sociais e
não apenas o indivíduo ou o grupo ou a instituição privada ou pública, que se
tornaram cúmplices de seus interesses. Ouvir a todos é obrigação intransferível,
para que se consiga fazer um jornalismo de qualidade e com credibilidade, o que
não é caso da imprensa alienígena e de propósitos inconfessáveis. O caso do
ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, é um exemplo sólido e inquestionável. O
ministro caiu sem, no entanto, ter a oportunidade de ser ouvido, acusado que
foi por um homem considerado criminoso, que foi preso, que responde a processos
e é acusado até de assassinato.
Além do mais e até hoje,
nada foi provado contra o Orlando Silva, que é apenas um caso dentre muitos
outros. Nada foi gravado com a voz do mandatário, bem como ele se dispôs a
enfrentar esse processo draconiano promovido pela imprensa corporativa
controlada por apenas meia dúzia de famílias, de tradição golpista, que se
beneficiaram, pois se acumpliciaram com a ditadura militar. Orlando Silva
solicitou à Corregedoria do Ministério e à Policia Federal que investigassem as
denúncias contra ele. Não satisfeito, foi à televisão se explicar para a Nação,
além de ter ido ao Congresso, onde foi atacado por um deputado medíocre, como o
é Antônio Magalhães Neto, o ACM Neto, atual prefeito de Salvador, coronel
político, oligarca da Bahia e herdeiro do ex-senador e governador Antônio
Carlos Magalhães, um dos principais protagonistas políticos da ditadura
militar. O ministro colocou seu sigilo bancário, fiscal e telefônico à
disposição da Justiça e da autoridade policial federal, o que não foi
suficiente para o governo Dilma Rousseff, porque o ministro caiu, o que é um
absurdo, ainda mais quando se trata de um processo promovido por uma imprensa
comercial e privada, que atua e age, se for necessário, no submundo do crime
como cúmplice e não pela força do jornalismo investigativo, a exemplo do caso
notório de Época, Veja, bicheiro Carlinhos Cachoeira e governo tucano de Goiás.
Observo uma certa tibieza e
receio do atual governo petista perante a imprensa e ao poder midiático. Dilma
Rousseff e seu grupo político que governa o Brasil têm de enfrentar os barões
da imprensa. Esses megaempresários estão insatisfeitos com o governo porque,
antes de tudo, eles são de direita, além de fundamentalistas ideológicos e por
isso detestam o trabalhismo e os políticos trabalhistas. A outra questão
importante e que deixou inconformado e furioso o "baronato" midiático
é que seus grupos empresariais sofreram diminuições em suas verbas
publicitárias no Governo Lula, que pulverizou tais recursos entre as empresas
de pequeno e médio portes em todo o Brasil. Realmente, esse importante fato e
ação política deixou os barões da imprensa nativa furiosos. A presidenta Dilma
Rousseff tem de seguir os passos da presidenta Cristina Kirchner, que aprovou a
Ley dos Medios, que é nada mais do que a regulamentação do setor midiático. A
regulamentação não é censura e um atentado às liberdades de imprensa e de
expressão, como querem fazer parecer e crer os jornalistas contratados pelos
barões da imprensa para defender os seus interesses e, consequentemente,
confundir a população e a opinião pública.
Não se pode tergiversar com
a imprensa privada e corporativa. Ela não gosta dos trabalhistas e não têm
compromisso com o Brasil e o seu povo. A presidenta Dilma Rousseff deveria, em
minha opinião, incumbir o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, de rapidamente
efetivar o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que tem a finalidade de
disseminar e expandir a internet e através dela democratizar a informação. A
partir desse processo de libertação, evidentemente que haverá a diminuição do
poder exagerado e ditatorial da imprensa de negócios privados, que é useira e
vezeira em boicotar os programas de governos, ainda mais quando eles são
nacionalistas e determinados a atender os interesses do povo brasileiro.
A imprensa burguesa se nega
a pensar o Brasil e por isso o sabota, o boicota e não o mostra, de fato, para
o povo brasileiro. O povo não vê a revolução que está a acontecer neste País,
até porque a Assessoria de Comunicação (Ascom) da Presidência da República,
chefiada pela jornalista Helena Chagas, põe panos quentes quando se trata da
imprensa comercial e privada, não rebate as críticas quando açodadas e injustas
contra o governo trabalhista, bem como, tal qual aos barões da imprensa, não
mostra o que está acontecer de bom no Brasil. Helena Chagas é filha da imprensa
entreguista e golpista, pois sua origem é o útero das seis famílias que
controlam os meios de comunicação privados no Brasil. Não sei, realmente, o que
se passa na cabeça da presidenta Dilma Rousseff quando olha para a jornalista
Helena Chagas e para o ministro Paulo Bernardo, que colocou em alguma gaveta
empoeirada do Ministério das Comunicações o projeto de marco regulatório das
mídias cuidadosamente elaborado pelo jornalista Franklin Martins, além de
"esquecer" que a Constituição de 1988 dispõe sobre esse assunto, que
é a regulamentação.
Todavia, a questão
considerada por mim a mais importante deixo para o fim deste artigo. A
presidenta Dilma Rousseff não pode temer a imprensa. A mandatária foi eleita
para defender e efetivar o seu programa de governo e projeto de País, que não é
somente dela, do PT, de seus aliados e de grupos, mas, sobretudo, de seus
eleitores, e, evidentemente, do conjunto da sociedade. Dilma, seus ministros e
a Ascom de Helena Chagas, a meu ver, têm de responder, sistematicamente e
eloquentemente, às acusações, às denúncias quando infundadas, inconsequentes ou
sem provas na televisão aberta e em horário nobre.
O propósito dessa estratégia
é rebater acusações injustas e até mesmo justas, no sentido de dar satisfação
ao povo brasileiro, bem como tirar suas dúvidas quanto à honorabilidade, à
honestidade e à dedicação do governo em relação à coisa e à causa pública. Vale
lembrar que centenas e quiçá milhares de acusações, denúncias, ilações e
maledicências não deram em nada, pois não foram provadas e comprovadas, sendo
que muitas delas não passaram de ações e atos de oposição orquestrados e
montados nas principais redações de imprensa deste País e levados a cabo por
jornalistas que são cúmplices e agentes do jogo político de seus patrões.
Além disso, a televisão e a
rádio públicas têm de receber mais recursos, tornar-se mais presente na
sociedade brasileira e abranger todo o território nacional, não com o intuito
de defender governos, mas para mostrar o trabalho, por exemplo, de
infraestrutura que está a ser realizado, porque a imprensa privada e alienígena
não mostra nada do que está a acontecer em prol do desenvolvimento do Brasil e
de seu povo. A imprensa de mercado se transformou em uma máquina de criar
escândalos, de forma contínua, sem se importar com a veracidade dos fatos,
porque seus proprietários sabem que seu setor não é regulamentado e por isto
alheio à lei. Criam ou superdimensionam os "casos" com a finalidade
de sangrar a quem esses empresários combatem e fazem oposição.
Os políticos, os governantes
trabalhistas e socialistas não podem continuar em uma condição de caça, à mercê
dos ditames da imprensa golpista. No poder, os políticos do campo progressista
têm ferramentas para agilizar e implementar os marcos regulatórios para os
meios de comunicação. Afinal, eles têm autoridade, pois foram eleitos. A
verdade é que todos os setores da economia possuem os seus marcos, e os
empresários de mídias e seus jornalistas não fazem parte de um mundo paralelo,
e, por seu turno, acima das leis. Podem acreditar nisso. Cristina Kirchner agiu
exatamente dessa maneira.
Dilma Rousseff também
deveria agir assim. Quem brinca com fogo se queima. Quem alimenta leão com vara
curta fica sem o braço. Eu estou com inveja da Argentina e da Cristina
Kirchner. Ministro Paulo Bernardo, cadê a Confecom II? E a banda larga? E o
marco regulatório das mídias? Jornalista Helena Chagas quando você vai mostrar
o Brasil e rebater denúncias, acusações e manipulações injustas, infundadas e
até mesmo criminosas contra o governo trabalhista? Eu falo das injustas, pois
as justas, Helena Chagas, são investigadas e, por seu turno, denunciadas e
julgadas. Governantes trabalhistas não podem ficar à mercê de uma imprensa
golpista. A imprensa corporativa é o rolo compressor do mercado. É isso aí.Fonte:Palavra Livre
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