por Lênia Soares
O empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, conseguiu emplacar, em artigo publicado nesta terça-feira 11, no jornal com a segunda maior circulação diária no Estado de Goiás (Diário da Manhã), uma imagem humana de quem sente, sofre e ama.
Até um dia antes, ele era o contrário de tudo isso. Era apersona non grata nos eventos oficiais do governo de Marconi Perillo (PSDB), o nome que os governistas evitavam pronunciar, aquele que todos os aliados do tucano queriam ver bem longe. Era o vilão, o bicheiro preso em fevereiro de 2012 na Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal.
No artigo, Cachoeira pesou a mão nas ameaças e provocações a Marconi Perillo e toda sua equipe administrativa. Disse, com ênfase, que estava disposto a falar, e falar o que não falou na CPMI que levou o seu nome, no Congresso Nacional. Isso, mais o tom amoroso e de defensor da honra da amada esposa, Andressa Mendonça, lhe deram repentina notoriedade, com ares de heroísmo.
O momento não podia ser mais oportuno para ele, e contou com o auxílio do próprio governador.
Ao comparecer, na última sexta-feira 7, a um evento beneficente no Palácio das Esmeradas, sede do governo de Goiás, em prol da Santa Casa de Misericórdia, hospital do Estado, Andressa foi apontada como “penetra” pelo próprio governador, quando questionado por um jornalista sobre a inusitada presença.
A resposta veio a calhar para Cachoeira.
“Alto lá. Não nos faltem com o respeito. Andressa não foi e jamais iria a um lugar em que não fosse convidada. Até porque não precisamos passar por penetras em lugar algum”, contra-atacou o contraventor no artigo publicado no jornal.
Disse mais: “Minha esposa é uma mulher digna e honesta, que encara a vida e as dificuldades de cabeça erguida. Mãe amorosa e esposa adorável. Companheira das horas alegres e também das difíceis. Quando estive recluso na violência do cárcere ela não me negou amparo, apoio, auxílio e sobretudo amor. Jamais permitirei que seja agravada, muito menos por desclassificados que não têm moral sequer para limpar-lhe os sapatos.”
Cachoeira fez questão de ressaltar, no artigo, a sua proximidade com Marconi Perillo, que, durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso Federal, negou qualquer relacionamento com o contraventor. Assim, em poucas palavras, Cachoeira fez o que nenhum deputado ou jornalista conseguiu fazer durante o CPMI: ligar os dois de forma contundente. No artigo, isso fica claro, de forma... contundente.
“Andressa compareceu ao evento como cidadã, empresária que paga seus impostos, pessoa bem relacionada e velha conhecida do governador e da primeira-dama”, escreveu ainda. O artigo leva em casa frase uma sentença de aviso, ameaça ou arroubo. A começar pela citação bíblica, logo na abertura: “Conhecereis a verdade e ela vos libertará.” (João 8:32)
Apropriado. E como bom cristão e marido dedicado, apaixonado, ele vai em frente. “Um homem pode suportar muitas provações em sua vida. Pode ter amigos em um dia e ser abandonado por eles quando a má sorte sobrevém. Pode ser apunhalado por quem considerava companheiro de jornada e exercitar a virtude da tolerância, responsável pela preservação da paz e da harmonia.” E ainda: “Entretanto, um homem não pode jamais permitir que sua companheira, sua cara-metade, sua alma gêmea, a mulher a quem ele devota amor seja ofendida de qualquer maneira que for.”
Um verdadeiro romântico, ainda que contraventor, bicando com determinação o Palácio das Esmeraldas. A história, porém, vai muito além do romantismo bandido. Nos últimos meses, Cachoeira vinha dando sinais de descontentamento com declarações e auxiliares de Marconi. Um interlocutor contou a CartaCapital que ele "estava para explodir" – na sua definição –, porque era alvo constante da equipe de comunicação do governo, sem que o governador levantasse um dedo para impedir isso. Era como se Marconi concordasse com os ataques, que serviam também para distanciar o tucano do ex-amigo.
A situação se agravou com uma explosão de sinceridade do secretário estadual de Gestão e Planejamento, Giuseppe Vecci, velho aliado de Marconi e homem forte do governo. Em entrevista ao jornal O Popular, Vecci apontou a existência de “bandidos” dentro do governo de Goiás. "Estão loucos para me ver fora da política. Porque eu não aceito jogo sujo, de licitação, de Operação Monte Carlo, de rolo, de esquemas, de fisiologismo, de clientelismo”, falou Vecci.
Cachoeira não gostou do que considerou ataque gratuito. No governo, o recado de Vecci teve endereço certo: o colega Alexandre Baldy, secretário de Indústria e Comércio e com quem o contraventor mantinha relações financeiras. Os dois, Vecci e Baldy, são pré-candidatos a deputado federal e estão disputando bases no interior do estado.
Quando Andressa foi chamada de "penetra", Cachoeira não perdoou. Juntou a véspera do Dia dos Namorados para fazer uma declaração de amor à mulher e para mandar um recado curto e grosso ao governador. Depois, se calou. Ao longo do dia, vários jornalistas tentaram falar com ele. Sempre a resposta foi "não". O que queria, tinha conseguido: chamar a atenção para seu nome de forma positiva – ou menos negativa – e estabelecer um marco para a relação que deverá ser estabelecida a partir de agora com o governador. Será como Marconi Perillo quiser: amor ou ódio – com muitas revelações.
Às 15 horas desta terça-feira 11, Cachoeira foi ouvido por oito promotores do Conselho de Ética do Ministério Público que investiga o ex-senador Demóstenes Torres. Sob a regência do promotor Spiridon Nikofotes Anyfantis, o empresário foi questionado se estava, de fato, disposto a abrir a caixa de pandora que tanto tem prometido. O interpelado permaneceu em silêncio durante todo tempo.
No final da tarde, a assessoria do governador resolveu não responder ao artigo de Cachoeira. Limitou-se a negar que Marconi tenha chamado Andressa de "penetra". Tarde demais. O assunto já era manchete nos principais jornais e portais de notícia do País. Cachoeira colocou Marconi na defensiva. E agora?
Carta-Capital
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