Berna (Suiça) - Estava tudo
preparado – mais alguns dias de agitação e, no 1 de julho, com a greve
nacional, um pilantra acionaria o Supremo Tribunal Federal argumentando que
diante da confusão reinante, das perdas do Brasil com a depreciação do real diante
das outras moedas e da impossibilidade de se governar só havia uma solução – o
impeachment da presidenta.
Joaquim Barbosa faria um
sorriso de envaidecido, já sonhando com a faixa presidencial, e daria
provimento imediato à demanda. E o STF que, no caso Battisti, queria mas não
pôde enquadrar o ex-presidente Lula, assumiria o controle político do país,
retirando Dilma do poder.
Para garantir o golpe, legal
como foi o do Paraguai, haveria a rede da grande mídia, com a Globo caprichando
nos closes dos ministros togados favoráveis ao impeachment.
E a Veja lançaria a capa
sacralizando o golpe – o “STJ cassa (ou caça ?) Dilma”. Em letras grandes, as
primeiras medidas a serem tomadas por quem assumisse o poder – acabar com as
bolsas escola e família, abrogar a lei em defesa das domésticas, privatizar a
Petrobrás, acabar com as cotas universitárias em favor de negros e índios,
privatizar o ensino e a saúde, acabar com a maioria dos ministérios e
secretarias de governo dentro de um plano neoliberal de reduzir o Estado ao
mínimo e abrindo nossas fronteiras a todo e qualquer capital estrangeiro, numa
espécie de suk ou mercado livre de nossas riquezas.
Só que Dilma foi rápida na
reação, impedindo que as manifestações iniciadas com justos protestos contra o
aumento de passagens de transportes públicos, acabassem sendo recuperadas por
setores menos interessados pelo povo e mais por assumir o poder, a fim de
reverter todas as conquistas sociais dos últimos anos.
Muitos dos reclamos dos
manifestantes correspondiam às necessidades da população e constituíam falhas
cometidas pelo governo, no afã de construir uma base governável. Feita a
autocrítica, tomada a palmada na bunda, era preciso, e logo, garantir terem
sido ouvidos os protestos.
O plebiscito por uma
assembléia constituinte evita que fique com o STF a decisão sobre quem governa,
e restitui ao povo sua soberania. É um sabor de democracia participativa ou de
democracia direta, que os suíços utilizam com frequência.
O povo nas ruas fez uma
série de reivindicações que serão catalogadas para se transformarem em lei por
uma assembléia constituinte.
É verdade que, depois do
encontro da presidenta Dilma com a direção da OAB, surgiram dúvidas no
Planalto, se o caminho a seguir é realmente o de se convocar uma Constituinte,
capaz de mudar a Constituição, dentro do projeto de Reformas políticas.
O ideal seria a presidenta
Dilma não ceder à OAB, que embora tenha ações louváveis e de vanguarda em
diversos setores, não deixa de ser o lobby do atual establishment jurídico
brasileiro, cujo emaranhado dificulta o combate à corrupção no Brasil.
Principalmente quando Dilma diz querer tornar a corrupção num crime hediondo.
Como aplicar uma Reforma
política sem uma Constituinte ? Tão logo seja submetido o plebiscito ao povo e
aceito, o governo Dilma deveria convocar a assembléia. Como nosso regime
presidencialista não permite a dissolução do parlamento, a Constituinte se
faria com os atuais parlamentares. Haveria o risco de entraves e mesmo de
algumas leis serem desvirtuadas, mas esse é o risco da democracia direta.
Mas não se pode esquecer que
feitas as Reformas na atual Constituição, teriam de ser aprovadas num referendo
submetido ao povo. Se as reformas aprovadas não corresponderem aos anseios
populares, elas poderão ser rejeitadas.
Em todo caso, seja
qual for a decisão tomada, o Brasil, que evita reprimir as manifestações e que
aceita discutir soluções com os manifestantes, dá uma grande prova de
democracia para o mundo. Mesmo a Europa não tem esse jogo de cintura com os
manifestantes.
Rui Martins - BernaJornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante, membro eleito do Conselho Provisório e do atual Conselho de emigrantes (CRBE) junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreveu o livro Dinheiro Sujo da Corrupção sobre as contas suíças secretas de Maluf. Colabora com o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência BrPress..Direto da Redação
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