Inocentado pela Justiça, 'ex-aloprado' cobra mídia por massacre de nove anos
Num país onde a Justiça costuma ser criticada
pela demora em julgar e condenar, cabe lembrar que ela também é lenta
para admitir a inocência de uma pessoa acusada injustamente e muitas
vezes pré-condenada por jornais, revistas e pela TV.
Em 2006, Expedito Afonso Veloso, diretor do Banco do Brasil, foi
acusado de envolvimento em três crimes ligados ao chamado escândalo dos
Aloprados: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e crime contra o
sistema financeiro.
Em 2015, sua inocência foi reconhecida nos três processos. Em todos, a
Justiça lhe deu o "nada consta." Com a vida devassada por manchetes e
reportagens incriminadoras, Expedito agora luta para reestabelecer a
reputação moral, a carreira profissional e a vida familiar.
Em artigo enviado ao 247, publicado abaixo, ele comenta o silêncio
dos veículos da imprensa que o submeteram a um massacre contínuo por um
longo período, sem demonstrar o menor interesse em divulgar a decisão
final da Justiça.
Caso “Dossiê dos Aloprados”: Quanto a verdade é restabelecida e o silêncio estarrecedor da grande mídia
No ano de 2006, um grupo de pessoas fomos deslocados para fazer parte
da coordenação da campanha a reeleição do Presidente Lula, entre elas,
Eu, Expedito Afonso Veloso, então diretor Banco do Brasil que tirei
férias para me dedicar integralmente a campanha eleitoral.
As noticias veiculadas pela grande mídia foram acompanhadas por
todos. Durante quase 9 anos, sofri acusações imprecisas e mentirosas,
condenação prévia, ostracismo funcional e sofrimento familiar e nunca
desacreditei na Justiça. E sempre mantive a convicção de que não
incorrera em qualquer crime ou deslize ético ou moral e em março de 2015
uma sentença judicial me inocentou, esclarecendo em definitivo a
questão.
O evento é um dos mais emblemáticos casos de manipulação dos fatos
comandados pela mídia nacional em nossa história política contemporânea.
O conhecimento dos pormenores, que inclusive gerou a invenção de uma
foto mentirosa contento um volume enorme de dinheiro, visando impactar
visualmente as reportagens, o seus desdobramentos no âmbito político
partidário bem como no âmbito pessoal de seus protagonistas podem servir
de aprendizado sobre a instrumentalização dos fatos de que a grande
mídia lança mão em calculada estratégia de favorecimento àqueles que com
ela constroem relações de favorecimento recíproco.
A confrontação entre todo o fato noticioso, exaustivamente trabalhado
com a intenção de condenar seus protagonistas, e a sentença judicial
exige reflexão sobre o papel dos veículos de comunicação social no país.
Da sentença, o que mais salta aos olhos é que o próprio Ministério
Publico de SP, reconheceu, contrariando o de Mato Grosso que os
denunciou por 3 crimes: Formação de Quadrilha, Lavagem de Dinheiro e
Crime Contra o Sistema Financeiro, que em relação a "lavagem de dinheiro é absolutamente infundada e que não se sustenta a imputação de delito de formação de quadrilha" e apenas pede
reconsideração em relação ao Crime Contra ao SFN, quanto à pertinência
de o Juiz de SP julgar um caso que, na visão do MP-SP, deveria ser
julgado no Rio.
Fui investigado pelo Banco do Brasil, pela Policia Federal, por uma
CPMI, pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República e pela
Comissão de Ética do PT. Todos estes órgãos me deram um nada consta. Mas a mídia ainda não informou a sociedade de que os relatos destes nove anos não eram verdadeiros.
Da leitura das manifestações judiciais e de sua confrontação com toda
a interpretação e condenação prévias promovidas pela mídia, fica
patente e claro quantos excessos e quantas mentiras foram propagadas no
dia-a-dia.
A Sentença afirma que, com relação à imputação do delito contra o Sistema Financeiro, a rejeição da peça acusatória foi por inépcia com relação a mim e por prescrição em relação aos demais.
E reconhece que não ocorreu qualquer violação de sigilo ou falsidade dos documentos. Ao contrário, o
MPF de SP afirmou que os documentos e informações revelariam o
envolvimento de políticos de vários partidos nas fraudes das ambulâncias
e reconheceu expressamente a atipicidade.
Mantenho a firme convicção de que, jogado a esse vendaval de ataques e
difamações, não feri meus valores éticos. A opinião pública foi
contaminada, nesses quase 9 anos, com informações que não representam e
nunca representaram a verdade. E que me causaram imensos prejuízos de
ordem profissional e pessoal.
A busca pelo reestabelecimento de minha reputação passou a ser um
objetivo de longo prazo. E tenho feito um esforço enorme para
restabelecer minha honra, a qual foi maliciosamente atingida.
Vivia um momento muito positivo e ascendente na carreira profissional
e acadêmica e sofri um baque muito grande. Eu era um dos diretores do
BB com mais qualificações, era titular da uma das diretorias mais
técnicas do BB, Diretoria de Gestão de Riscos, e tinha uma quantidade
enorme de serviços prestados ao Banco em matérias de grande relevo e
complexidade. Despois do massacre que sofri, sendo torturado
diariamente pela mídia, tudo se tornou mais difícil.
Mas não me abalei. Tinha consciência dos avanços institucionais e
sociais do Pais sob o comando do PT e essas conquistas me satisfaziam e
entendia que meu descrédito pessoal ante a opinião pública era o preço
que eu teria que pagar.
Agora, inocentado de forma cabal e irreversível por sentença judicial
transitada em julgado, espero retomar ao curso normal da minha carreira
e anseio pela oportunidade de assumir desafios maiores na Instituição a
que tenho dedicado, há 28 anos, com entrega, lealdade e honestidade de
propósitos, minha capacidade laborativa, minha inteligência, meus
melhores conhecimentos adquiridos na Academia e na vida. Preparei-me
tecnicamente e gerencialmente para assumir grandes desafios e agora que a
sentença final nos inocentou, espero ter novas oportunidades na
Empresa.
Minha história pessoal é marcada por coragem, honestidade e
capacidade de superação. Esses traços formaram o meu caráter e, na hora
em que passei as maiores aflições, eles foram o meu suporte moral e a
garantia de credibilidade por parte de minha família.
Curioso, ou irônico, ou dramático foi constatar que tendo sido
publicada a sentença judicial que me inocentava depois de 9 anos de
condenação pública sem fundamentação, os jornais que se dedicaram com
afinco ao martelar massacrante durante anos, pisando e repisando o
assunto, não deram nenhuma publicidade.. O máximo que vi foi algumas
referências genéricas e pontuais em jornais eletrônicos. Apenas um
jornal da minha saudosa Viçosa – MG, dedicou ao assunto um espaço
significativo.
Em função disso, agora que se fez Justiça e a verdade foi
restabelecida, compartilho com todos este desfecho e atesto a minha
correção moral.
Expedito Afonso Veloso
Bancário, Gestor de TI e Professor