Com monumental atraso, o governo reagiu ao uso político da Justiça por pessoas que se comportam como ativistas da direita.
Foi
exemplar, ainda que tardia, a atitude tomada contra Augusto
Nardes, que
fez do TCU um reduto dedicado a atacar a democracia pela supressão, por
motivos ridículos, de 54 milhões de votos.
Nardes vem defendendo publicamente a rejeição das contas de Dilma sem
o menor pudor que alguém em sua posição deveria, ao menos, fingir ter.
Anunciou seu voto em favor da reprovação das contas – um capítulo
relevante na estratégia dos golpistas – e chegou ao ponto abjeto de
vazar seu parecer para o Estadão.
Vazamentos são, hoje, o principal ponto de conexão entre os dois
agentes centrais do golpe: a imprensa e a oposição conservadora,
incluídos nela políticos, juízes e policiais federais da Lava Jato.
Vazamentos tendenciosos e muitas vezes simplesmente mentirosos se
transformam em “furos” que terminam em capas de revistas e manchetes de
jornais.
Este material de conteúdo escuso se infiltra na cabeça de brasileiros
crédulos – os chamados analfabetos políticos – e vão dar em coisas como
passeatas pelo golpe e mensagens de ódio nas redes sociais.
A reação do governo a Nardes teve o barulho que tantas vezes faltou.
Foi convocada com estardalhaço uma entrevista coletiva carregada de
palavras com a dureza que a ocasião exigia.
Até o ministro da Justiça, habitualmente infenso a confrontações, deixou clara sua reprovação à conduta de Nardes.
Nardes foi obrigado a se defender, e fez isso de uma forma acintosa para quem acompanha suas movimentações.
Conseguiu dizer que não adiantou seu voto. Os advogados do governo
juntaram 2 000 páginas de palavrório de Nardes sobre as contas de Dilma,
e ainda assim ele invoca seu próprio silêncio.
Uma entrevista meses atrás para a Época é particularmente reveladora. Um trecho, abaixo:
ÉPOCA – O governo argumenta que as pedaladas existiram nas gestões anteriores e que o TCU nunca ligou.
Nardes – O Tribunal alertou o governo várias vezes.
Repare: ele simplesmente não respondeu. E a revista publicou esta não resposta.
A importância em reagir é que você estabelece limites para os outros.
Lula, recentemente, decidiu processar os jornalistas que o acusam sem
provas. A mensagem chega ao outro lado: acabou a farra. Querem acusar?
Tudo bem. Mas podem procurar advogados para enfrentar um processo.
Faz toda a diferença, ainda que a Justiça brasileira seja esta que conhecemos.
Mantega processou desvairados que o incomodaram num restaurante. Eles
foram obrigados a se retratar, além de ter gastado dinheiro com
advogados e de se submeterem a um vexame público.
Dificilmente Mantega voltará a ser importunado agora, pois ele marcou limites.
Padilha não fez nada em situação semelhante, e se tornou uma vítima contumaz dos desequilibrados.
Parece que, finalmente, ele decidiu reagir. Cobrado pela inação no Twitter, ele disse já ter acionado advogados.
Ao longo da campanha, policiais federais da Lava Jato simpatizantes
de Aécio cansaram de promover vazamentos criminosos sem que o ministro
da Justiça, a quem a PF responde, reagisse à altura.
As provocações de Gilmar Mendes também devem ser entendidas à míngua de resposta enérgica.
Como um juiz pode segurar um projeto tão vital como o do financiamento de campanhas por mais de um ano sem que ninguém – aí incluído o presidente do STF – deixe claro que é algo intolerável?
A impunidade estimula delinquências, e é assim que Gilmar foi se tornando um político togado dedicado às causas conservadoras.
A sociedade – não estamos falando do PT, do governo, de Dilma, de
Lula – ganha quando são devidamente respondidos os abusos de quem não
respeita a democracia.
Este o mérito da enquadrada em Nardes.
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