Mais votado deputado do PT gaúcho em 2010 e
2014, o jornalista Paulo Pimenta acompanha a Operação Zelotes desde o
início. Relator da Subcomissão de Acompanhamento das Operações da
Polícia Federal, Pimenta garantiu que o debate sobre a mais ampla
investigação sobre corrupção da história da Receita Federal chegasse a
Câmara de Deputados, em vez de limitar-se a uma CPI formada
exclusivamente por senadores, cujo presidente é Roberto Atayde
(PSDB-TO). Em junho o deputado bateu às portas da Corregedoria Nacional
de Justiças para pedir providências contra o juiz Ricardo Leite, titular
da 10a. Vara de Brasília, acusado por delegados e integrantes do
Ministério Público de rejeitar várias medidas -- como prorrogar escutas
telefônicas, efetivar prisões preventivas -- que poderiam auxiliar nas
investigações. O juiz acabou substituído por Celia Regina Oly Bernardes,
magistrada que tem atendido as principais solicitações das autoridades
envolvidas com as investigações.
Numa decisão que deu um novo conteúdo político a um trabalho que até
agora envolvia empresários, escritórios de lobistas e altos funcionários
da Receita, responsáveis por desvios de R$ 20 bilhões -- onde caberiam
várias Lava Jato --, anteontem a juíza tomou medidas que apontam na
direção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Atendendo a uma
solicitação feita por um dos procuradores que integram a força-tarefa da
Zelotes, ela autorizou uma operação de busca e apreensão nas empresas
de Luiz Claudio Lula da Silva, filho de Lula, empresário de marketing
esportivo, sem nenhuma ligação visível com o foco da Zelotes. No mesmo
dia, Gilberto Carvalho, que foi ministro de Estado entre 2003 e 2015,
também foi chamado para prestar depoimento. Na época em que os fatos sob
investigação ocorriam, Luiz Claudio era auxiliar do técnico Wanderley
Luxemburgo no Palmeiras. Quando a Gilberto Carvalho, encontrava-se em
viagem pela Itália no dia dia em que compareceu a um encontro colocado
sob suspeita.
No fim da tarde de hoje, Paulo Pimenta deu a seguinte entrevista ao 247:
De março a outubro, a Operação Zelotes investigava
corrupção no CARF. Na terça-feira passada, foi feita uma ação de busca e
apreensão numa empresa de um dos filhos do ex-presidente Lula. O
ex-ministro Gilberto Carvalho também foi chamado a depor. O alvo agora é
Lula?
O ex-presidente Lula não é investigado nem nunca foi alvo da Zelotes,
operação que investiga sonegação fiscal, corrupção, tráfico de
influência e lavagem de dinheiro envolvendo grandes empresas,
escritórios de advocacia, empresas de consultoria e conselheiros do
Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. A força-tarefa do
Ministério Público Federal e da Polícia Federal apura a manipulação de
resultados que teriam ocorrido no Carf, órgão ligado ao Ministério da
Fazenda que julga litígios tributários, entre o Fisco e os
contribuintes.A Zelotes, desde que foi deflagrada em março desse ano,
sempre foi abafada pela mídia, pois não se tratava de um escândalo que
envolvesse políticos. E também porque as principais empresas envolvidas
nesta Operação são grandes anunciantes da própria mídia.Agora, a
imprensa, de forma criminosa, tenta construir uma nova narrativa para a
Zelotes, buscando envolver o filho do ex-Presidente Lula.
Essa ação tem
dois objetivos claros: esconder quem são os verdadeiros atores desse que
é um dos maiores escândalos de corrupção do Brasil, que desviou cerca
de R$ 20 bilhões dos cofres públicos; e o segundo, pois faz parte de uma
ação que busca inviabilizar o Lula para 2018, mesmo que para isso sejam
rasgados todos princípios legais do nosso país.
Os jornais sempre falaram de grandes grupos econômicos
acusados em participar do esquema de corrupção. Seus acionistas foram
chamados para depor? Foram feitas ações de busca em seus escritórios?
Nenhuma das iniciativas da Operação Zelotes teve a espetacularização
midiática nem rendeu capas dos principais jornais do país, como no caso
das empresas do filho ex-Presidente Lula. Não temos conhecimento de
ações de busca e apreensão da Polícia Federal nas empresas investigadas,
como CAOA, Ford, Mitsubishi, Bradesco, Santander, Safra, Bank Boston,
Bradesco Seguros, etc, que são, de acordo com o MPF, algumas das
investigadas.
Há quem diga que uma Medida Provisória não pode ser
apurada pela Justiça de primeira instância pois, por sua própria
natureza, precisaria ser examinada pelo Supremo. A denúncia contra o
ministro do TCU, Augusto Nardes, encontra-se no STF por causa disso. O
que você acha disso?
Em primeiro lugar, cabe dizer que o alvo da Zelotes é investigar
corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. A Medida
Provisória apareceu no caso como uma estratégia da mídia para construir
uma nova versão para o que verdadeiramente se trata essa Operação. De
acordo com especialistas da área criminal, há um entendimento de que uma
Medida Provisória, que é um ato do Presidente da República, aprovada
pelo Congresso Nacional. Toda investigação referente aos atos do
Presidente da República devem ser conduzidos pelo Supremo Tribunal
Federal. Dessa forma, seriam ilegais as ações que foram feitas nas
empresas do filho do ex-Presidente Lula.
O que podemos dizer do juiz Ricardo Leite, que foi criticado e afastado por decisão da Corregedoria Nacional de Justiça.
O juiz Ricardo Augusto Soares Leite foi criticado pelo MPF e pela
Polícia Federal por ter negado pedidos de busca e apreensão e por ter
negado todos os 26 pedidos de prisão temporária dos investigados. Ele
também foi alvo de uma denúncia do Ministério Público Federal no
Tribunal Regional Federal, e nosso mandato representou contra o
magistrado no Conselho Nacional de Justiça. Ele acabou sendo afastado da
Operação Zelotes no âmbito do Poder Judiciário. Com a substituição do
juiz, os pedidos do MPF passaram a ser deferidos e medidas foram
reconsideradas, levando, inclusive, às primeiras prisões.
Como avaliar as investigações da Zelotes, de março até agora? Qual o futuro da Zelotes, nesta nova fase?
É preciso reconhecer a força-tarefa do Ministério Público e da
Polícia Federal, que está enfrentando interesses de confrarias muito
poderosas, com ramificações em setores da mídia e do alto escalão
econômico do país. Temo, neste momento, que a Zelotes seja usada e
manipulada - especialmente pela imprensa – para acobertar quem são os
verdadeiros investigados desta Operação. Isso ficou evidente nesses
últimos dias, com a tentativa da mídia de envolver o filho do
ex-Presidente Lula e de criar uma versão de que o foco da Zelotes é
investigar medidas provisórias editadas pelo Governo Federal. Isso é uma
farsa! Estão forçando a barra para dizer que houve pagamento a uma
empresa do filho do Lula, mas se esquecem de um detalhe importante: a MP
471 foi editada em 2009, e empresa do filho do Lula só foi criada em
2011. E não dá para vincular a MP a contrato que só iria ocorrer em 2014
e um pagamento realizado em 2015, seis anos depois. A esta altura, em
que o MPF tem as denúncias prontas contra essas grandes multinacionais,
bancos e as gigantes do setor automotivo, a mídia demonstra estar
aparelhada para atuar como uma rede de proteção para essas que, segundo o
MPF e a PF, desviaram bilhões dos cofres públicos. Ou seja, para
proteger seus grandes anunciantes.
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