Por Davis Sena Filho — Palavra Livre
Na Finlândia, a presidente Dilma Rousseff calou fundo, suspirou e afirmou à imprensa familiar de mercado: "Primeiro,
não vou comentar as palavras do presidente da Câmara. Segundo, o meu
governo não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção. Não é meu
governo que está sendo acusado". A resposta foi ao presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, que disse lamentar que aconteça "com um governo
brasileiro o maior escândalo de corrupção no mundo", em alusão ao caso
Lava Jato (Petrobras) investigado pela Polícia Federal, corporação sob o
comando do Ministério da Justiça, instituição subordinada à Presidência
da República, que, ora vejam, a presidente é exatamente Dilma Rousseff,
do PT, ao assegurar que seu governo não está envolvido em corrupção.
Não
sei se os patetas teleguiados entenderam a tabuada direito, porque
apenas decorá-la fará com que as palavras proferidas por Dilma sejam
veiculadas e escritas de forma truncada, com "ruídos", propositalmente, é
claro, porque todos sabemos, inclusive os ingênuos e os desinformados,
que os magnatas bilionários sonegadores de impostos e donos da mídia
mercantil organizaram o Partido da Imprensa, que vem a ser a agremiação
política e ideológica de direita mais poderosa do Brasil, quiçá da
América Latina.
Entretanto,
Dilma Rousseff continuou a falar, e asseverou: "Acredito que o objetivo
da oposição pode ser inviabilizar a ação do governo, mas a ação do
governo não vai ser inviabilizada pela oposição, faça ela quantos
pedidos de impeachment fizer", para logo complementar: "As pessoas que
estavam envolvidas estão presas, e não é a empresa Petrobras que está
envolvida no escândalo, são pessoas que praticaram corrupção e estão
presas". Ponto.
Há
anos afirmo no meu blog "Palavra Livre" e no site "Brasil 24/7" que, no
fundo, a direita liberal e dependente do Estado, bem como dos trustes e
corporações internacionais e nacionais não se sente à vontade com a
efetivação no Brasil do Estado de Direito e da democracia. A direita,
"dona" do establishment, e a democracia são como óleo e água.
Simplesmente não se misturam.
Consequentemente,
os porta-vozes defensores do sistema tem de desconstruir e
desqualificar seus adversários, que são tratados como inimigos de suas
causas rentistas e financistas. A verdade é que enfrentar o sistema de
capitais é um grande problema, porque ele é o hospedeiro dos bancos, dos
grandes exportadores, da indústria de armas e de petróleo, além de
"lavadores" do dinheiro ilegal do tráfico de armas, de drogas, de pedras
preciosas e ouro, além da corrupção estatal e privada.
Estes
setores alienígenas engessam as ações dos governos e que se contrapõem
fortemente à corrente desenvolvimentista da qual fazem parte o
ex-presidente Lula e a presidenta Dilma. São eles que sabotam e boicotam
desde 1930 os programas de governo e os projetos de País, porque são
contrários à inclusão social e à igualdade de oportunidades, pois
economicamente hegemônicos e ideologicamente reacionários, pois são a
essência do capitalismo, sistema perverso de exploração e pirataria,
além de financiador até hoje de guerras coloniais e imperialistas.
Por
sua vez, como afirmei anteriormente, o capital privado brasileiro é
dependente, porque rentista, financista e jogador de bolsas de valores e
outros que tais. Sua estratégia para manter incólume o status quo das
castas privilegiadas e beneficiadas pelo Estado é transformá-lo em
patrimonialista para atender às demandas de uma burguesia totalmente
descompromissada do interesse nacional, ao tempo que dedicada a
concretizar apenas seus interesses e alavancar seus negócios.
A
verdade é que o capitalismo é injusto, e, com efeito, violento, porque
concentrador de renda e riqueza, e, por seu turno, corrupto em sua
organização social. Tais assertivas o são realidades intrínsecas às
sociedades subordinadas e dominadas por corporações multinacionais, que
se organizam como máfias, que controlam o dinheiro e os governos de
mandatários que se comportam e são tratados como fantoches pelo o que
secularmente já o é estabelecido: a sociedade organizada em castas, cujo
centro é a casa grande plutocrata em âmbito mundial.
Trata-se
da plutocracia que se estabelece principalmente nos poucos países
ricos, a ter como cúmplices de seus crimes de lesa-humanidade e
lesa-pátria as "elites" dos países emergentes e pobres, cujos governos
nacionalistas e de esquerda, mesmo que moderados, como os de Lula e
Dilma, são historicamente sabotados e seus dirigentes máximos
desconstruídos em suas imagens, porque não interessa aos liberais
dependentes a independência do Brasil e a emancipação plena do povo
brasileiro.
A
resumir: a lógica do capitalismo se materializa no ganho pessoal, mesmo
quando se trata de uma grande empresa, que, evidentemente, tem
compromisso maior com o lucro, o super lucro e não com seus empregados,
mesmo os de nível universitário, os executivos, que se aliam aos
interesses de seus patrões e cooperam, efetivamente, para que somente
uma casta, em termos planetários, tenha o controle dos meios de
produção, do mercado financeiro, e, consequentemente, do poder militar,
do Judiciário e dos parlamentos, a ter as presidências da República como
as cerejas de bolos.
Quando
um governante se torna estadista e passa a conhecer a dimensão das
realidades que se apresentam, naturalmente que tal mandatário passará a
criar problemas para o establishment nacional, vinculado ao
internacional, que não aceita, de forma alguma, que o sistema de castas e
portanto de capitais seja questionado quanto mais desafiado. Para os
capitalistas que estão no topo do mundo, a solução é desconstruir,
criminalizar e judicializar o processo político, administrativo e
partidário.
E
explico: quando o poder econômico e financeiro quer restabelecer o que
ele considera suas "perdas", simplesmente financia a queda do mandatário
considerado contrário aos seus interesses, seja pelo golpe tradicional,
que se resume em uma quartelada, ou pela nova modalidade de golpe na
América Latina, que é o jurídico-parlamentar, como ocorreu em Honduras e
no Paraguai, bem como tentado inúmeras vezes na Venezuela, no Equador,
na Argentina e na Bolívia, os três últimos países com intensidade um
pouco menor em relação à nação de Hugo Chávez.
Contudo,
a direita liberal e dependente da América Latina e, especificamente, do
Brasil, não se cansa de desmoralizar os políticos, sendo que parte
importante dos parlamentares e governantes é financiada pelo próprio
sistema de capitais, que, em contrapartida, os chama de corruptos e
ladrões, ao tempo que seus políticos mesmo desmoralizados diuturnamente
pelas mídias tratam de atender e concretizar os interesses dos grandes
capitalistas.
A
imprensa familiar e os segmentos conservadores da sociedade
desqualificam os políticos porque o objetivo é assumir o protagonismo na
política e no lugar deles determinar e definir a pauta a ser discutida
no País, ao invés de ser o papel primordial dos governos. Um absurdo,
mas a luta para tutelar o poder público, e, evidentemente, o povo
brasileiro, é o que acontece por parte dos coronéis midiáticos e de quem
está junto com eles.
Mesmo
assim não basta apenas o trabalho de desconstrução política levada a
cabo também por alguns atores dos legislativos, do Judiciário, do
Ministério Público e das diferentes polícias. Para derrotar políticos
nacionalistas, de esquerda e destinatários de milhões de votos do povo
brasileiro, a exemplo dos esquerdistas moderados, Lula e Dilma, torna-se
imperativo ao status quo contar com a máquina de moer reputações dos
magnatas bilionários de imprensa e sonegadores de impostos.
Estes,
sim, com a cooperação de seus empregados de confiança fazem a parte
mais suja do processo de jogar os nomes das pessoas na lama, sem,
contudo, responderem por seus crimes de calúnia, injúria e difamação.
Impunidade total, como se essa gente não fizesse parte da sociedade e
por isto acima das leis. Surreal! É porque, inacreditavelmente, no
Brasil do século XXI e na metade de sua segunda década, ainda não se
efetivou o marco regulatório para as mídias. Sendo assim, viceja a atua
neste País de 210 milhões de habitantes, de economia diversificada e
industrializada, uma imprensa meramente de mercado, de péssima qualidade
editorial e de caráter essencialmente golpista.
Isto
mesmo. Se não fosse a imprensa empresarial o Brasil estaria muito mais
avançado socialmente, porque, como moedora da reputação alheia, seus
donos, os coronéis midiáticos de almas provincianas e corações
sectários, não teriam um poder político absurdo, porém, inaceitável a um
País industrializado e que deseja ser desenvolvido e civilizado. Um
poder inadmissível, porque vazio de voto popular. Trata-se apenas de
empresários, que pensam em lucros, como qualquer empresário de outro
segmento da economia.
Outrossim,
a dimensão que tomou a propaganda negativa contra o Governo Trabalhista
e o apoio, irrestrito e incondicional, aos partidos (PSDB, DEM, PPS e
derivados) que representam a plutocracia nacional é algo brutal e não
coopera para a estabilidade política, assim como conspira para que a
Nação não seja desenvolvida e civilizada.
Dilma
deixou claro, na Finlândia, que o Governo que está a prender corruptos e
corruptores é o dela. Além disso, a mandatária deu a entender que
reagirá às tentativas de destituí-la do poder, como se o Brasil, a sexta
economia mais poderosa do mundo fosse uma republiqueta das bananas, o
que, definitivamente, é inaceitável para as pessoas que não são
portadoras de um incomensurável e inenarrável complexo de vira-latas,
bem como irredutivelmente nada propensas a beijar a mão do Mickey, em
Orlando, para bancar as alienadas na forma de Patetas.
O
parágrafo acima é real, no que diz respeito à burguesia brasileira,
porque traduz, fidedignamente, o provincianismo, a subserviência, a
subalternidade e o pensamento colonizado de certas classes médias
coxinhas, que, ridiculamente, são cúmplices dos interesses dos ricos,
que jamais as convidam para participar de seus regabofes e comezainas.
Afinal, a plutocracia não abriria mão de ser pedante e arrogante com
aqueles que são, na verdade, seus empregados, mesmo os que assumem
cargos de confiança e ganham salários altos em suas empresas. Ponto.
Os
plutocratas querem dinheiro e influenciar no processo político para
controlar os fundamentos econômicos, que serão implementados por
quaisquer governos. Se o presidente no poder "fecha" com os interesses
da casa grande, poderá governar relativamente em paz. Do contrário, a
oposição dos grandes capitalistas se torna feroz e desleal, baseada na
mentira, que é o primeiro e também o último degrau de uma campanha
sórdida e violenta que sofre, no momento, a presidente Dilma Rousseff.
A
cidadania sabe que o negócio é inviabilizar as ações do Governo
Trabalhista, romper o diálogo, apostar na crise institucional e política
e, por fim, bater o martelo do golpe paraguaio. O problema para os
golpistas é que o Brasil não é uma República das bananas. Quem prendeu
rico corrupto e corruptor pela primeira vez neste País foram os governos
do PT. A direita, além de compreender isso, medra por saber que as
investigações e as punições vão ainda alcançá-la. Quem viver verá.
Impeachment é golpe e o golpe foi derrotado. É isso aí.
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