quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Dilma, capitalismo, castas, prisões, oposição, corrupção e golpe


Por Davis Sena Filho — Palavra Livre


Na Finlândia, a presidente Dilma Rousseff calou fundo, suspirou e afirmou à imprensa familiar de mercado: "Primeiro, não vou comentar as palavras do presidente da Câmara. Segundo, o meu governo não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção. Não é meu governo que está sendo acusado". A resposta foi ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que disse lamentar que aconteça "com um governo brasileiro o maior escândalo de corrupção no mundo", em alusão ao caso Lava Jato (Petrobras) investigado pela Polícia Federal, corporação sob o comando do Ministério da Justiça, instituição subordinada à Presidência da República, que, ora vejam, a presidente é exatamente Dilma Rousseff, do PT, ao assegurar que seu governo não está envolvido em corrupção.

Não sei se os patetas teleguiados entenderam a tabuada direito, porque apenas decorá-la fará com que as palavras proferidas por Dilma sejam veiculadas e escritas de forma truncada, com "ruídos", propositalmente, é claro, porque todos sabemos, inclusive os ingênuos e os desinformados, que os magnatas bilionários sonegadores de impostos e donos da mídia mercantil organizaram o Partido da Imprensa, que vem a ser a agremiação política e ideológica de direita mais poderosa do Brasil, quiçá da América Latina.

Entretanto, Dilma Rousseff continuou a falar, e asseverou: "Acredito que o objetivo da oposição pode ser inviabilizar a ação do governo, mas a ação do governo não vai ser inviabilizada pela oposição, faça ela quantos pedidos de impeachment fizer", para logo complementar: "As pessoas que estavam envolvidas estão presas, e não é a empresa Petrobras que está envolvida no escândalo, são pessoas que praticaram corrupção e estão presas". Ponto.

Há anos afirmo no meu blog "Palavra Livre" e no site "Brasil 24/7" que, no fundo, a direita liberal e dependente do Estado, bem como dos trustes e corporações internacionais e nacionais não se sente à vontade com a efetivação no Brasil do Estado de Direito e da democracia. A direita, "dona" do establishment, e a democracia são como óleo e água. Simplesmente não se misturam.

Consequentemente, os porta-vozes defensores do sistema tem de desconstruir e desqualificar seus adversários, que são tratados como inimigos de suas causas rentistas e financistas. A verdade é que enfrentar o sistema de capitais é um grande problema, porque ele é o hospedeiro dos bancos, dos grandes exportadores, da indústria de armas e de petróleo, além de "lavadores" do dinheiro ilegal do tráfico de armas, de drogas, de pedras preciosas e ouro, além da corrupção estatal e privada.

Estes setores alienígenas engessam as ações dos governos e que se contrapõem fortemente à corrente desenvolvimentista da qual fazem parte o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma. São eles que sabotam e boicotam desde 1930 os programas de governo e os projetos de País, porque são contrários à inclusão social e à igualdade de oportunidades, pois economicamente hegemônicos e ideologicamente reacionários, pois são a essência do capitalismo, sistema perverso de exploração e pirataria, além de financiador até hoje de guerras coloniais e imperialistas.

Por sua vez, como afirmei anteriormente, o capital privado brasileiro é dependente, porque rentista, financista e jogador de bolsas de valores e outros que tais. Sua estratégia para manter incólume o status quo das castas privilegiadas e beneficiadas pelo Estado é transformá-lo em patrimonialista para atender às demandas de uma burguesia totalmente descompromissada do interesse nacional, ao tempo que dedicada a concretizar apenas seus interesses e alavancar seus negócios.    

A verdade é que o capitalismo é injusto,  e, com efeito, violento, porque concentrador de renda e riqueza, e, por seu turno, corrupto em sua organização social. Tais assertivas o são realidades intrínsecas às sociedades subordinadas e dominadas por corporações multinacionais, que se organizam como máfias, que controlam o dinheiro e os governos de mandatários que se comportam e são tratados como fantoches pelo o que secularmente já o é estabelecido: a sociedade organizada em castas, cujo centro é a casa grande plutocrata em âmbito mundial.

Trata-se da plutocracia que se estabelece principalmente nos poucos países ricos, a ter como cúmplices de seus crimes de lesa-humanidade e lesa-pátria as "elites" dos países emergentes e pobres, cujos governos nacionalistas e de esquerda, mesmo que moderados, como os de Lula e Dilma, são historicamente sabotados e seus dirigentes máximos desconstruídos em suas imagens, porque não interessa aos liberais dependentes a independência do Brasil e a emancipação plena do povo brasileiro.

A resumir: a lógica do capitalismo se materializa no ganho pessoal, mesmo quando se trata de uma grande empresa, que, evidentemente, tem compromisso maior com o lucro, o super lucro e não com seus empregados, mesmo os de nível universitário, os executivos, que se aliam aos interesses de seus patrões e cooperam, efetivamente, para que somente uma casta, em termos planetários, tenha o controle dos meios de produção, do mercado financeiro, e, consequentemente, do poder militar, do Judiciário e dos parlamentos, a ter as presidências da República como as cerejas de bolos.

Quando um governante se torna estadista e passa a conhecer a dimensão das realidades que se apresentam, naturalmente que tal mandatário passará a criar problemas para o establishment nacional, vinculado ao internacional, que não aceita, de forma alguma, que o sistema de castas e portanto de capitais seja questionado quanto mais desafiado. Para os capitalistas que estão no topo do mundo, a solução é desconstruir, criminalizar e judicializar o processo político, administrativo e partidário.

E explico: quando o poder econômico e financeiro quer restabelecer o que ele considera suas "perdas", simplesmente financia a queda do mandatário considerado contrário aos seus interesses, seja pelo golpe tradicional, que se resume em uma quartelada, ou pela nova modalidade de golpe na América Latina, que é o jurídico-parlamentar, como ocorreu em Honduras e no Paraguai, bem como tentado inúmeras vezes na Venezuela, no Equador, na Argentina e na Bolívia, os três últimos países com intensidade um pouco menor em relação à nação de Hugo Chávez.   

Contudo, a direita liberal e dependente da América Latina e, especificamente, do Brasil, não se cansa de desmoralizar os políticos, sendo que parte importante dos parlamentares e governantes é financiada pelo próprio sistema de capitais, que, em contrapartida, os chama de corruptos e ladrões, ao tempo que seus políticos mesmo desmoralizados diuturnamente pelas mídias tratam de atender e concretizar os interesses dos grandes capitalistas.

A imprensa familiar e os segmentos conservadores da sociedade desqualificam os políticos porque o objetivo é assumir o protagonismo na política e no lugar deles determinar e definir a pauta a ser discutida no País, ao invés de ser o papel primordial dos governos. Um absurdo, mas a luta para tutelar o poder público, e, evidentemente, o povo brasileiro, é o que acontece por parte dos coronéis midiáticos e de quem está junto com eles.

Mesmo assim não basta apenas o trabalho de desconstrução política levada a cabo também por alguns atores dos legislativos, do Judiciário, do Ministério Público e das diferentes polícias. Para derrotar políticos nacionalistas, de esquerda e destinatários de milhões de votos do povo brasileiro, a exemplo dos esquerdistas moderados, Lula e Dilma, torna-se imperativo ao status quo contar com a máquina de moer reputações dos magnatas bilionários de imprensa e sonegadores de impostos.

Estes, sim, com a cooperação de seus empregados de confiança fazem a parte mais suja do processo de jogar os nomes das pessoas na lama, sem, contudo, responderem por seus crimes de calúnia, injúria e difamação. Impunidade total, como se essa gente não fizesse parte da sociedade e por isto acima das leis. Surreal! É porque, inacreditavelmente, no Brasil do século XXI e na metade de sua segunda década, ainda não se efetivou o marco regulatório para as mídias. Sendo assim, viceja a atua neste País de 210 milhões de habitantes, de economia diversificada e industrializada, uma imprensa meramente de mercado, de péssima qualidade editorial e de caráter essencialmente golpista.

Isto mesmo. Se não fosse a imprensa empresarial o Brasil estaria muito mais avançado socialmente, porque, como moedora da reputação alheia, seus donos, os coronéis midiáticos de almas provincianas e corações sectários, não teriam um poder político absurdo, porém, inaceitável a um País industrializado e que deseja ser desenvolvido e civilizado. Um poder inadmissível, porque vazio de voto popular. Trata-se apenas de empresários, que pensam em lucros, como qualquer empresário de outro segmento da economia.

Outrossim, a dimensão que tomou a propaganda negativa contra o Governo Trabalhista e o apoio, irrestrito e incondicional, aos partidos (PSDB, DEM, PPS e derivados) que representam a plutocracia nacional é algo brutal e não coopera para a estabilidade política, assim como conspira para que a Nação não seja desenvolvida e civilizada.  

Dilma deixou claro, na Finlândia, que o Governo que está a prender corruptos e corruptores é o dela. Além disso, a mandatária deu a entender que reagirá às tentativas de destituí-la do poder, como se o Brasil, a sexta economia mais poderosa do mundo fosse uma republiqueta das bananas, o que, definitivamente, é inaceitável para as pessoas que não são portadoras de um incomensurável e inenarrável complexo de vira-latas, bem  como irredutivelmente nada propensas a beijar a mão do Mickey, em Orlando, para bancar as alienadas na forma de Patetas.

O parágrafo acima é real, no que diz respeito à burguesia brasileira, porque traduz, fidedignamente, o provincianismo, a subserviência, a subalternidade e o pensamento colonizado de certas classes médias coxinhas, que, ridiculamente, são cúmplices dos interesses dos ricos, que jamais as convidam para participar de seus regabofes e comezainas. Afinal, a plutocracia não abriria mão de ser pedante e arrogante com aqueles que são, na verdade, seus empregados, mesmo os que assumem cargos de confiança e ganham salários altos em suas empresas. Ponto.

Os plutocratas querem dinheiro e influenciar no processo político para controlar os fundamentos econômicos, que serão implementados por quaisquer governos. Se o presidente no poder "fecha" com os interesses da casa grande, poderá governar relativamente em paz. Do contrário, a oposição dos grandes capitalistas se torna feroz e desleal, baseada na mentira, que é o primeiro e também o último degrau de uma campanha sórdida e violenta que sofre, no momento, a presidente Dilma Rousseff.

A cidadania sabe que o negócio é inviabilizar as ações do Governo Trabalhista, romper o diálogo, apostar na crise institucional e política e, por fim, bater o martelo do golpe paraguaio. O problema para os golpistas é que o Brasil não é uma República das bananas. Quem prendeu rico corrupto e corruptor pela primeira vez neste País foram os governos do PT. A direita, além de compreender isso, medra por saber que as investigações e as punições vão ainda alcançá-la. Quem viver verá. Impeachment é golpe e o golpe foi derrotado. É isso aí.

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