Passaporte e assinatura comprovam contas de Eduardo Cunha na Suíça
TV Globo obteve com exclusividade cópia dos documentos do deputado.
G1 não conseguiu contato com o advogado do presidente da Câmara.
Cópias do passaporte, da assinatura e de dados pessoais do presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), enviados pelas autoridades da Suíça à Procuradoria Geral da
República (PGR) comprovam contas bancárias secretas do deputado, da
mulher e da filha dele no país europeu, segundo investigadores do caso.
A TV Globo teve acesso com exclusividade à documentação encaminhada
pelo Ministério Público suíço ao Brasil. Além da reprodução dos
documentos pessoais – passaporte, visto norte-americano, nome completo,
data de nascimento e endereço em um condomínio de luxo na Barra da
Tijuca, no Rio de Janeiro –, os 35 arquivos enviados pela Suíça mostram
que o peemedebista manteve uma conta bancária nos Estados Unidos ao
longo de 17 anos.

Em meio à papelada de uma das contas bancárias que ele tinha na Suíça
(veja o documento acima), há um formulário que revela que o presidente
da Câmara era cliente do banco Meryll Lynch (atual Julius Baer), nos Estados Unidos, desde 1991.
O documento esclarece que, em 2003, ele abriu uma conta na filial do
banco em Nova York. Cinco anos mais tarde, explicaram as autoridades
suíças, ele resolveu transferir a conta dos EUA para a filial do banco
em Genebra.

Neste ano, em depoimento à CPI da Petrobras,
o presidente da Câmara afirmou que não tem contas no exterior.
Posteriormente, quando surgiram as informações de que ele tinha quatro
contas na Suíça, o peemedebista reiterou as declarações que deu aos integrantes da comissão de inquérito.
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da
presidência da Câmara informou que quem poderia falar sobre o assunto
era o advogado de Cunha, Antonio Fernando de Souza. A reportagem tentou
contato com o criminalista, mas não tinha conseguido localizá-lo até a
última atualização desta reportagem.

Os documentos enviados pelo MP suíço mostram o caminho do dinheiro
repassado a contas bancárias atribuídas ao presidente da Câmara dos
Deputados e familiares.
No total, as contas de Cunha na Suíça, indicam as investigações,
receberam nos últimos anos depósitos de US$ 4.831.711,44 e 1.311.700
francos suíços, equivalentes a cerca de R$ 23,8 milhões, segundo a
cotação desta sexta-feira (16).

Os investigadores da PGR dizem que os documentos pessoais de Eduardo
Cunha enviados pelo procuradores suíços (cópias de passaporte,
comprovantes de endereço no Rio de Janeiro e assinaturas) comprovam que
ele era o beneficiário dessas contas.
Em uma das contas atribuídas ao presidente da Câmara na Suíça, em nome
da offshore Triumph SP – constituída em Edimburgo, na Escócia –, há uma
cópia do passaporte de Cunha. A Triumph, ressalta o Ministério Público, é
uma empresa de trust utilizada para fazer a custódia e a administração
dos bens, interesses e dinheiro do presidente da Câmara.
Em outro documento, que autoriza investimentos vinculados à conta
bancária, aparece uma assinatura semelhante à registrada no passaporte
do peemedebista.

Ao banco suíço Julius Baer (antigo Merrill Lynch Bank), mostram os
documentos, o presidente da Câmara solicitou que as correspondências
relacionadas à conta da offshore Orion não fossem enviadas ao Brasil, e
sim aos Estados Unidos, em um endereço de Nova York. Ele justificou o
pedido alegando que "mora em um país onde os serviços postais não são
seguros".

No formulário chamado de Know your Customer (Conheça seu Cliente), o
documento esclarece que o beneficiário efetivo – a pessoa responsável
pelo controle da conta – era Eduardo Cunha (veja o documento acima).
Na noite desta quinta-feira (15), o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a abertura de um novo inquérito
para investigar Cunha. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
quer apurar suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro em razão das
quatro contas na Suíça atribuídas ao parlamentar do PMDB e a familiares.
A Procuradoria Geral da República informou nesta sexta-feira (16) haver
“indícios suficientes” de que as contas do presidente da Câmara no
exterior são “produto de crime"
e pediu o bloqueio e o sequestro do dinheiro depositado. Segundo a PGR,
entre 2002 e 2014, a evolução patrimonial de Cunha foi de 214%.
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As investigações do Ministério Público da Suíça indicam que Eduardo
Cunha manteve quatro contas bancárias no país europeu, abertas entre
2007 e 2008. Dessas, duas teriam sido fechadas pelo deputado no ano
passado, em abril e maio.
As outras duas contas, com saldo de 2,4 milhões de francos suíços
(cerca de US$ 2,4 milhões ou R$ 9,3 milhões), foram bloqueadas pela
Justiça suíça.
De acordo com as investigações,
parte do dinheiro teria sido pago a Cunha como propina por contrato
fechado entre a Petrobras e a empresa Companie Beninoise des
Hydrocarbures Sarl, em Benin, na África.
O empresário Idalecio de Oliveira era proprietário de um campo de
petróleo em Benin e, segundo documentos, fez um contrato de US$ 34,5
milhões com a Petrobras para exploração dessa área.
Os investigadores afirmam ainda que o engenheiro João Augusto Rezende
Henriques, apontado pela força-tarefa da Operação Lava Jato como um dos
operadores do PMDB, recebeu em maio de 2011 da Lusitania Petroleum Ltd –
cujo titular é Idalecio de Oliveira – US$ 10 milhões como “taxa de
sucesso” pelo negócio fechado pela Petrobras em Benin.
Entre maio e junho de 2011, Henriques fez cinco depósitos no valor
total de 1,31 milhão de francos suíços (cerca de R$ 5 milhões) para a
offshore Orion SP com conta registrada no banco Julius Baer, na Suíça.
Segundo investigadores com acesso às informações, o titular da offshore
era, à época dos depósitos em 2011, o presidente da Câmara. Constam nos
documentos cadastrais da conta Orion SP cópia do passaporte e do visto
norte-americano de Eduardo Cunha.
De acordo com os dados suíços, essa conta foi aberta em 20 de junho de 2008 e encerrada em 23 de abril de 2014.
Em depoimento a investigadores da Operação Lava Jato no Paraná,
Henriques disse que não sabia quem era o destinatário do dinheiro
repassado para a conta Orion, mas afirmou que fez o depósito a pedido de
Felipe Diniz, filho do ex-deputado Fernando Diniz (PMDB-MG).
Em um memorando interno de avaliação de crédito para Eduardo Cunha –
elaborado em novembro de 2012 –, uma funcionária do antigo Merryll Lynch
relatou aos superiores detalhes sobre a experiência profissional e a
origem do patrimônio do presidente da Câmara.
O documento conta que o peemedebista é economista desde 1980, atuou
como economista-chefe na filial brasileira da multinacional Xerox e
presidiu a Telerj entre 1991 e 1993.
De acordo com a avaliadora de crédito, Cunha foi "muito bem-sucedido"
no comando da extinta estatal de telefonia do Rio. A funcionária desta
ainda que, no cargo, ele "introduziu a telefonia celular" no Brasil.
Além disso, o memorando ressalta que, antes de ser eleito deputado
federal, Eduardo Cunha trabalhou como consultor privado da área
imobiliária durante o desenvolvimento da Barra da Tijuca, atualmente, um
dos bairros mais valorizados do Rio de Janeiro.
O documento aponta que o peemedebista tem propriedades no Rio e em São
Paulo e que, boa parte desse patrimônio foi obtido por meio de
investimentos que ele fez na Barra da Tijuca na época em que o bairro
era apenas um subúrbio da capital fluminense.
"Hoje, a Barra da Tijuca é uma área residencial e comercial chique, que
continua crescendo. Ele [Cunha] tem rendimentos de seu salário, de seus
investimentos locais [no Brasil] e dos aluguéis de imóveis", observou a
funcionária do Marryll Lynch.
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