domingo, 22 de julho de 2012

O eterno marido


Substituição no Senado. Sai Demóstenes Torres, entra Wilder Pedro de Morais. Sai o falso moralista, entra o… bem, o próprio Wilder faz brincadeira com o fato de ser corno. E essa é sua maior credencial na chegada ao Senado: foi traído pela mulher com Carlinhos Cachoeira.


Convenhamos, se tem gente perdendo o mandato por ser amigo de Cachoeira, qualquer motivo para inimizade com o contraventor virou trunfo. Mas nem a perda da mulher para o pivô da Operação Monte Carlo foi capaz de blindar o novo senador. Pelo contrário.


Wilder terá de se explicar sobre suas relações com o bicheiro, demandam inclusive os colegas de DEM. Para além da constatação de que não está fácil fazer oposição ao governo hoje em dia, só Dostoiésvki explica. Seria Wilder um eterno marido?


“O principal indício de semelhante marido é certo ornamento. Ele não pode deixar de ser portador de chifres, como o sol não pode deixar de iluminar; e ele não só ignora o fato: de acordo com as próprias leis da natureza, deve ignorá-lo”, filosofa o Vieltchâninov de Dostoiévski na tradução de Boris Schnaiderman.


Levando em conta a teoria, o senador Wilder estaria dando um passo além de Páviel Pávlovitch Trussótzki, o eterno marido dostoievskiano. Conhece a traição, e não se perturba, a ponto de colocar a carreira política à frente do que, na época de Dostoiévski, chamava-se honra.


E o que temos você e eu a ver com isso? Afora a curiosidade antropológica e literária, nada. Mas Wilder e outros 18 colegas de suplência se prestaram a esse tipo de exposição pessoal quando chegaram ao Senado sem, antes, passar pelo crivo público das urnas.

Por ter surgido no meio da história e não possuir qualquer credencial política, Wilder, conhecido por seus negócios em Goiás, está sentenciado a ser o eterno marido de Andressa Mendonça no Senado. Até que a perda do mandato os separe.

Um comentário:

João Paulo disse...

Deveras? Então ele é o João Lourenço da Cunha dos nossos dias. Esse cidadão que eu mencionei viveu em Portugal no século XIV. O casamento dele com a bela Leonor Teles foi anulado pelo Papa para que Leonor se casasse com o próprio rei, Dom Fernando. João Lourenço da Cunha mandou confeccionar para si um chapéu com chifres, e passou a se apresentar por todo lado com o chapéu. A ele é atribuída a frase:

Quando as mulheres fazem TORTO, o marido é o último a saber. A minha mulher me fez torto e fui o primeiro a saber.