quarta-feira, 4 de maio de 2016

Ações da Lava Jato coincidem com vésperas de eventos políticos decisivos

Por Aroeira

Se houver contra Lula provas acima de quaisquer dúvidas, que o ex-presidente seja exemplarmente condenado, na forma escrupulosa da lei.

Se não houver, que o absolvam, também de modo exemplar.

Idênticos valores se aplicam a Dilma Rousseff, contra quem, ao contrário do seu antecessor, inexiste acusação formal. Isto é, denúncia apresentada pelo Ministério Público.

O que não impediu que um jornalista aparentemente perturbado se esgoelasse bradando que a presidente da República não pode mais ser tratada como pessoa “honrada'' e “honesta''.

Sentenciou. Virou magistrado. Mas daqueles bem parciais.

Seria ridículo, se o desempenho burlesco não carregasse tintas de tragédia para a democracia _e o jornalismo.

Falei “jornalista''? Perdão pela impropriedade. Corrijo: cheerleader.

Feito o registro do noticiário, permitam-me outro, endereçado aos historiadores do futuro.

Do futuro porque, nesta quadra da história, a serenidade está tão em falta quanto a vacina para a gripe que se alastra.

Esperemos a estiagem, porque a tempestade cospe fúria e afoga a razão.

Daqui a dez, vinte, trinta anos, quem sabe na pena de um brasilianista, alguém há de cotejar obsessivamente a cronologia da Operação Lava Jato com a de eventos políticos relevantes e decisivos.
E constatar que, quando a coincidência é demasiada, deixa de ser coincidência.
Em 4 de março de 2016, na 24ª fase da Lava Jato, o juiz Sérgio Moro determinou a condução coercitiva de Lula para prestar depoimento à Polícia Federal. Tremendo barulho.

Manifestações pró-impeachment estavam marcadas para menos de dez dias depois. O ambiente mudou. Bombaram. Em dezembro, haviam sido modestas.

Três dias mais tarde, Moro liberou a divulgação de gravações telefônicas de Lula, inclusive de conversa com a presidente.

Em abril de 2015, ocorrera sincronia semelhante.

O ato pela deposição de Dilma seria no dia 12.

Na antevéspera, deu-se a 11ª fase da Lava Jato, e o clima esquentou.

Cinco dias antes da votação na Câmara que autorizaria o impeachment, desencadearam a 28ª fase.

A nove dias da data provável para o Senado se pronunciar sobre o afastamento provisório da presidente constitucional, o procurador-geral da República denunciou Lula e pediu investigação de Dilma.

Ainda que sem querer _será?_, a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça aumentaram a temperatura às vésperas de acontecimentos políticos de envergadura.

Algum dia um scholar estudará tudo isso e muita gente reagirá com ares de surpresa, falsos ou verdadeiros, às conclusões tão óbvias.



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