sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

POR TRÁS DA FOTO


Mair Pena Neto


Direto da Redacao - Uma foto de divulgação publicada discretamente em algum jornal esta semana não traduziu a importância do fato. Sob um céu de brigadeiro e sobre a água azul em frente à Baía de Guanabara, começava a singrar os mares a plataforma P-51, rumo ao campo de Marlim Sul, na bacia de Campos, para produzir mais 180 mil barris diários de petróleo para o Brasil.

Mas a importância maior da P-51 não está em sua tecnologia ou capacidade de produção. Primeira plataforma de petróleo inteiramente construída no Brasil, ela simboliza a redenção da indústria naval brasileira, com os seus milhares de postos de trabalho.

Não faz muito tempo, com uma visão exclusivamente empresarial de retorno ao acionista e sem qualquer compromisso com o desenvolvimento nacional, a Petrobras construía fora do país todas as suas plataformas. Valia-se para isso de dois argumentos: a falta de capacidade da indústria naval brasileira, sucateada desde os anos 80, e, principalmente, do menor preço conseguido em estaleiros da Coréia e Singapura. Ou seja, a maior empresa do país ao construir os navios e plataformas para a exploração do petróleo brasileiro não gerava um emprego aqui.

Mudar tal situação exigia vontade política, visão estratégica e compromisso com o país. De um governo privatista, que se desfez de várias empresas nacionais importantes e cogitou vender a própria Petrobras não se poderia esperar nenhum gesto nesse sentido.

A mudança política no país, se deixou a desejar nos aspectos macroeconômicos, foi eficiente neste aspecto. A luta que já se desenvolvia por um maior conteúdo nacional nas embarcações da Petrobras triunfou e a indústria naval brasileira renasceu das cinzas. Estaleiros e fornecedores recuperaram-se, voltaram a contratar, fomentaram a economia do Rio de Janeiro e do país e já pleiteiam um conteúdo totalmente nacional de 80% contra os 65% obrigatórios. A P-51 foi totalmente construída no Brasil, mas ainda importou algumas peças não produzidas aqui.

A decisão política do governo brasileiro de privilegiar a indústria nacional impulsionou o setor, que recuperou os níveis de 1970, quando a indústria naval do país era das mais importantes do mundo e vendia navios para o exterior. Os estaleiros empregam hoje 40 mil trabalhadores e a exploração do pré-sal exigiria pelo menos mais 20 mil.

A crise financeira global e a queda no preço internacional do petróleo podem levar a reavaliações, mas a esperança é de que a exploração do pré-sal movimente fornecedores, fabricantes de peças, estaleiros e toda a cadeia do setor em torno de um alto nível de conteúdo nacional.

A foto da P-51 simbolizava toda essa retomada e merecia primeira página. Mas ficou esquecida em algum canto de jornal, certamente mais preocupado com conflitos políticos menores ou deslizes lingüísticos do mandatário da nação.
Primeira plataforma semi-submersível totalmente construída no Brasil, a P-51 será ancorada a uma profundidade de 1.255 metros e a 150 km da costa. Esta plataforma será interligada a 19 poços (10 produtores de óleo e gás e 9 injetores de água) e oleodutos. O inicio da produção está previsto para o próximo mês.

A obra foi pioneira em muitos aspectos, com destaque para a produção do primeiro casco semi-submersível brasileiro e para a operação de deck mating (união da parte superior da plataforma ao casco). Esta sofisticada operação foi concluída em apenas 24 horas, confirmando a capacitação da engenharia naval brasileira.

Com custo aproximado de US$ 1 bilhão, a P-51 foi montada no estaleiro Bras Fels, em Angra dos Reis, gerou mais de 4 mil empregos diretos e 12 mil indiretos e faz parte do Plano de Aceleração do Crescimento do Governo Federal (PAC), do Plano de Antecipação da Produção de Gás Natural (Plangás) e do Plano Diretor de Escoamento e Tratamento (PDET) da Bacia de Campos, sistema logístico estratégico para o escoamento de petróleo e gás produzidos nessa região.


Direto da Redação.


Colaboração da amiga Nancy Lima.


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