Editorial
Há momentos na vida de um país que põem à prova seus princípios e seu valor. Honduras vive dias assim. Quis a história que o Brasil também se visse conduzido à ribalta da crise. Que passe com brio no teste, é o que desejam os democratas de Honduras, do Brasil e do mundo.
Na madrugada do último dia 21, Manuel Zelaya, presidente de Honduras, eleito pelo povo em 2005, derrubado, sequestrado e expulso pelo golpe militar de 28 de junho, bate à porta da embaixada brasileira em Tegucigalpa. Explica que voltou à pátria clandestinamente, buscando forçar um diálogo que restaure o Estado de direito. O Brasil abriga Zelaya. Considera-o hóspede da embaixada. Não asilado, o que sepultaria as esperanças dos hondurenhos que se lançam à Resistência, mas o único presidente legítimo da República de Honduras.
Esta não é a postura só do Brasil. Foi votada por unanimidade na Organização dos Estados Americanos (OEA), nas Nações Unidas (ONU) e em seu Conselho de Segurança. É a única posição de princípios nas trágicas circunstâncias criadas. O Brasil violentaria a soberania hondurenha caso reconhecesse outro presidente que não o eleito pelo povo daquele país.
A cada dia o michelettismo se desmascara como a ditadura militar que é, com o mesmo DNA das ditaduras latino-americanas dos anos 60 e 70. Desde o dia 21, temendo a presença de Zelaya na embaixada e da Resistência nas ruas, promove mesmo uma escalada ditatorial. Decreta um monstruoso estado de sítio, que manteve secreto por seis dias, até as portas da eleição marcada para novembro; expulsa diplomatas da OEA e da Espanha; descarta a proposta conciliatória do mediador Oscar Arias, presidente da Costa Rica; reprime brutalmente o povo, tortura e assassina; fecha uma estação de rádio e um canal de TV; mantém a embaixada brasileira sitiada por tropas; num supremo acinte, faz um ultimato ao Brasil, para que em dez dias "defina o status do señor Zelaya", ou "a embaixada vai perder sua condição diplomática". O presidente Lula respondeu devidamente: "O Brasil não irá tolerar um ultimato de um governo golpista".
Lula aprendeu na escola da militância sindical os méritos da negociação, da transigência, mas também que é preciso "ter lado". Está do lado do povo hondurenho, de seu governo legítimo, da OEA e da ONU, dos princípios democráticos; contra os gorilas de Tegucigalpa.
A fúria de Micheletti com a volta de Zelaya é sinal de medo e fraqueza. Caso as instituições multilaterais acompanhem a firmeza brasileira, é provável que os gorilas terminem por ceder e acatar uma solução pacífica da crise, nos termos do Plano Arias – que tem como primeiro ponto a devolução do mandato presidencial.
Também não se exclui que prevaleça a contemporização com os golpistas – pregada com estridência por certa elite político-diplomático-midiática brasileira. Ainda assim o povo hondurenho, com a solidariedade de seus irmãos, achará o caminho da vitória. Do tenebroso ciclo tirânico latino-americano do século passado, emerge uma verdade: as ditaduras, mesmo as piores, acabam. Portal Vermelho.
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