domingo, 4 de outubro de 2009

“L. I. Lula da Silva”

por Carlos Eduardo Rios do Amaral

Hoje, o Brasil parou. Neste dia 2 de Outubro, todos os brasileiros pararam à frente de sua televisão, para assistir ao aguardado sorteio da cidade que iria sediar a Olimpíada de 2016. Alguns com aparelhos de velho bombril na ponta de sua antena, dando umas fortes pisadas no chão pra ver se a imagem melhora, para de pular um pouco, e outros de tela de plasma, coisa refinada, com legenda e zoom ampliado. Outros ainda, na ausência de televisão, ligaram mesmo o velho radinho de pilha. Mas, na verdade, cheio mesmo estava nas vitrines das grandes avenidas, onde no corre-corre do dia nossa gente não pode parar, de carteira assinada ou não. Olha que o patrão espera de cara amarrada, mas ligeira paradinha não faz mal. Afinal, o Rio de Janeiro estava na final.

Todos estavam ansiosos. Todos os representantes das nações diretamente envolvidas no sorteio e escolha da cidade olímpica para 2016 estavam em Copenhagen. Haja coração, como nos lembra o Galvão. A gente que é brasileiro, a gente sabe mesmo, pra nós tudo é mais difícil. Certamente nossa derrota para as gigantes Chicago ou Tóquio não seria coisa surpreendente. Perderíamos honradamente para uma megalópole de uma das grandes e velhas potenciais mundiais pós segunda guerra mundial.

Mas, de repetente, algo de mágico aconteceu no ar, ao vivo, hipnotizando todos os brasileiros. Naquele meio de nomes diferentes em inglês e outros idiomas, de difícil pronúncia, miramos todos naquela plaquinha: “L. I. Lula da Silva”.

“L. I. Lula da Silva”.

Puxa vida. Tínhamos mesmo um brasileiro de verdade lá. E não parecíamos pequenos ou mal acomodados perto daquele monte de delegados estrangeiros de países ricos. Nosso Lula estava lá. Nosso Lula da Silva. Parecíamos um gigante falando em português sem sotaque ibérico. Que ninguém se metesse a besta conosco. O valente filho de Garanhuns mostrou pra eles. O metalúrgico do ABC sem diploma mostrou pra eles que merecemos respeito. Mas que apresentação formidável.

Quando vi aquela plaquinha “L. I. Lula da Silva”, tive a certeza absoluta que ganharíamos. Estávamos em maior número, somos milhões de Silvas, tudo parecia diferente. Nosso maior representante estava lá. Os Silvas de Jordão, de Belágua, Pauini, Santo Amaro do Maranhão, Guaribas, e de todo os outros cantos do Brasil se viram lá em Copenhagen. Tínhamos verdadeiramente um da Silva lá. Claro, do céu, também tínhamos o nosso Ayrton da Silva, acelerando por nós.

E daqui do Rio, nossa cidade candidata, sob os braços abertos do Cristo Redentor, todos os Silvas estavam presentes. Dos Silvas mais pequeninos aos Silvas mais velhos, todo mundo quis torcer a céu aberto, é mais contagiante, brasileiro é assim mesmo, é gente unida e feliz. A areia da praia de Copacana ficou pequena. Os bem-te-vis e britadeiras deram uma trégua pra todo mundo poder ouvir o que se passava no telão.

No fundo, no fundo, pra nós, ser o Rio a cidade escolhida não representava apenas sediar uma Olimpíada. Nesta década que se encerra, crescemos como nunca. Mas precisávamos de um reconhecimento internacional. Sabemos que na escolha da cidade também se leva em conta o desenvolvimento do País envolvido.

E o Rio ganhou. Ganhamos.

E o nosso “L. I. Lula da Silva” chorou, não conseguiu conter suas lágrimas.

Todos nós choramos também. Todos os Silvas choraram. Mas quem não chorou? Até o Pelé, acostumado a tantas glórias, chorou.

Ver o nosso “L. I. Lula da Silva” chorar foi demais, é muita emoção. Verdadeiramente, era a gente chorando lá, ninguém tinha dúvida disso. Todos os Silvas se sentiram chorando na Dinamarca. E fez até frio em Copacabana.

Ah! Presidente. Hoje somos o povo mais orgulhoso do mundo. Derrotamos os Estados Unidos e o Japão. Mostramos a eles. De sorriso de um dente só, até um brinde da melhor champanhe, a vitória é nossa. Seremos o primeiro país da América do Sul a sediar uma Olimpíada. Os argentinos morrerão de ciúmes.

Saímos definitivamente de nossa condição de país terceiro-mundista. Queremos sair. Não seremos mais tratados como aquele subdesenvolvido país debaixo da linha do Equador. Superamos tudo. Outros desafios serão vencidos. Pela mão da gente trabalhadora e incansável do Brasil, pelas mãos dos Silvas, chegamos lá, finalmente. Deus tarda mais não falha, vem no meio do caminho. Deus é mesmo brasileiro.

O povo brasileiro, agora, mais do que nunca, tem uma nova identidade no globo terrestre. Somos uma nação de gente que mostra sua capacidade, sua nova vocação para dar certo. Com muitas medalhas de ouro ou não, prata ou bronze, tanto faz, o que interessa é que o Rio foi eleito como o melhor lugar do mundo para uma Olimpíada. E, em 2016, será uma cidade ainda melhor.

Na viagem de volta pra casa Presidente, não se preocupe, todos os Silvas o esperam de braços e corações abertos. Enxugaremos nossas lágrimas mutuamente. E, quanto a uma nova corrente pra bicicleta do senhor, não se preocupe, vamos tentar da um jeito de vez nisso, senão, compraremos uma bicicleta nova. Cada um ajudará como pode. Quem não puder dar nada, pelos menos dará uma carinhosa companhia, ou um forte abraço demorado, indo na garupa.

Agora Presidente, só falta fechar a vitória dos Silvas com chave de ouro. A sanção integral à nova Lei da Defensoria Pública Nacional. Aí, ninguém segurará mais este País. Teremos, então, o orgulho e emoção de dizer que para todos os Silvas do Brasil também chegará efetivamente a justiça.

Silvas negros, Silvas índios, Silvas idosos, Silvas violentadas, Silvas adoecidas, enfim, todos os Silvas poderão dizer, finalmente, que mais do que um País sede da Copa do Mundo e da Olimpíada, também somos um País onde os Silvas têm justiça, integral e gratuita.

Na mesma expectativa de hoje, Presidente, nós Defensores Públicos de todos os cantos do Brasil dos Silvas aguardamos a hora de se fazer justiça para os pobres, de verdade, não apenas com escora no talento e esforço individual, sobre-humano, de cada Defensor, mas pela certeza de integrarmos uma nova Instituição forte e respeitada.

É chegada a hora Presidente, pelas vossas mãos a justiça enfim chegará para todos. E uma nova página da história do Brasil será contada. Num futuro, poucos se lembrarão o que era ausência de assistência judiciária integral e gratuita.


Carlos Eduardo Rios do Amaral, Defensor Público do Estado do Espírito Santo



3 comentários:

Terapeuta disse...

Dia desses vi uma aparição, isso mesmo aparição, do sanfoneiro Dominguinhos. Perguntado se conheceu Lula em Garanhuns o sanfoneiro afirmou:
- Ele não nasceu em Garanhuns ele nasceu em Caetés.
Senti um ranço na resposta e falta de conhecimento tambem.
Quando Lula nasceu, Caetés era um distrito de Garanhuns ou seja Lula nasceu em Garanhuns sim Dominguinhos. Tal qual você passou necessidades e diferentemente de você Lula luta pelo coletivo enquanto você só pensa nos shows para a máfica tucana. Pensa que gostam de você? Eles usam você para tentar angariar o voto do povo sofrido de Caetés, Saloá, Paranatama, Angelim, São João etc

O TERROR DO NORDESTE disse...

Terapeuta, Dominguinhos é um puxa-saco dos demotucanos. Esse babaca só faz campanha política para essa gangue.

Ieda disse...

Dominguinhos sempre foi de direita.

Fez as duas campanhas pro FHC. Na última em 1998 apareceu no Faustão cantando seus sucessos no dia da eleição. Uma "coincidência"... Fez pro Serra, pro Alkmin. Em 1989 fez showmício pro Collor...

Está sempre na contramão, não porque não seja politizado, mas por puro oportunismo!