domingo, 4 de outubro de 2009

A HORA DA VERDADE


Continua a manipulação informativa da mídia hegemônica em relação aos acontecimentos em Honduras, onde a repressão contra o povo não para, inclusive com o uso de bombas de gás lacrimogêneo do Peru, embora os usurpadores do poder já começam a dar sinais que vão ser obrigados a ceder. Nestes dias uma comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) estará em Tegucigalpa negociando um acordo que poderá terminar com o impasse.

O governo dos Estados Unidos está bancando a idéia de um golpe constitucional e seu embaixador na OEA, Lewis Amselem, fez duras críticas ao presidente legítimo Manuel Zelaya por ter voltado a Honduras, como se ele fosse o culpado pelo que está acontecendo por lá e não os golpistas. Se ele não tivesse voltado provavelmente Honduras estaria enfrentando um ostracismo midiático que favoreceria aos golpistas.

O usurpador do poder em Honduras, Roberto Micheletti, não esconde o jogo e repete que a deposição de Zelaya aconteceu porque ele se aproximou de um "populismo ao estilo chavista" e virou de esquerda. Foi o que Micheletti disse ao jornal argentino Clarin.

Os analistas de plantão continuam a repetir que Zelaya queria se perpetuar no poder e mentem ao afirmar que ele estava preparando sua reeleição, quando a consulta popular que os golpistas impediram de realizar em um só momento indicava isso. Se os hondurenhos eventualmente aprovassem a reforma constitucional, em um próximo mandato, não o de Zelaya, o presidente poderia se candidatar a reeleição. E agora, para acabar com a crise a única saída é o retorno de Zelaya ao governo para cumprir o que lhe resta do mandato.

Na Venezuela, o site do canal Globovision desencavou um analista considerado de peso na área golpista. Objetivo: penalizar Chávez e dar todo apoio ao golpe em Honduras. Nome dele: Danilo Arbilla, um uruguaio que presidiu a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), no ano 2000 e que também dirigiu o Centro de Difusão e Informação do ditador Juan Maria Bordaberry, de 1973 a 1975. O referido continua “defendendo” a “liberdade de imprensa e de expressão” em todo o continente americano, não sendo questionado por seu passado de serviço a uma ditadura. Seu chefe de então, o ex-presidente Bordaberry está em prisão domiciliar no Uruguai, mas Arbilla segue solto e ainda por cima posando de democrata desde criancinha.

Na Globovision, Arbilla repete a todo instante o que dizem por aqui no Brasil os analistas de sempre, não só em relação aos acontecimentos em Honduras, como também nas críticas ao governo chavista. Arbilla, o impune, ao analisar o “fechamento” de 32 estações de rádio e o eventual de outras 240, segundo denuncia a Radio Caracas Televisão (RCTV), hoje funcionando como TV a cabo, simplesmente omite o principal, ou seja, que as concessões foram revogadas porque os proprietários das emissoras não se apresentaram à Comissão de Telecomunicações para atualizar os dados. Ou seja, não demonstraram que eram os proprietários das rádios e muito menos como obtiveram as concessões.

Arbilla ignora fatos que demonstram concretamente que não houve fechamento de estações de rádio, mas simplesmente a lei deixou de ser cumprida e por isso não houve a renovação das concessões. Mas essa informação é omitida, porque se não fosse anularia os argumentos apresentados pelos opositores.

Violência contra a imprensa está acontecendo diariamente em Honduras, onde a rádio Globo, nada ver com a daqui, muito pelo contrário, foi invadida e os ouvintes puderam ouvir as violentas batidas na porta da emissora proporcionadas pelos militares apoiadores de Micheletti, também conhecido agora como Goriletti, em referência aos velhos gorilas golpistas, que nos anos 60 e 70 assolaram o continente latino-americano. O canal de televisão 36 foi fechado.

Aliás, em matéria de violência contra a imprensa, o ex-presidente da SIP, a entidade que reúne os grandes proprietários midiáticos, conhece muito bem e até compactuou com uma série ocorrida no Uruguai nos anos da ditadura que ele serviu. Para se ter uma idéia, nos dois anos que Arbilla dirigiu o Centro de Difusão e Informação do governo Bordaberry, o organismo fechou 173 meios de comunicação, 14 em caráter definitivo e 159 provisioriamente.

Mas a violência da ditadura não parou por aí, além de fechar a sede da Associação da Imprensa Uruguaia e de tirar de circulação a publicação O Correio da Unesco, o Centro dirigido por Arbilla foi responsável pelo empastelamento do diário El Popular, prendeu e torturou dezenas de jornalistas, entre eles Héctor Rodríguez e Edmundo Rovina, do El País, que morreu na penitenciária de Libertad (que ironia!), além de Norma Cedrés, também torturada até a morte no presídio de Punta de Rieles. Centenas de jornalistas uruguaios foram obrigados a se exilar e alguns desapareceram, como Julio Castro, subdiretor do diário Marcha, que teve como um de seus editores o jornalista brasileiro e ex-deputado Neiva Moreira.

E é Danilo Arbilla que hoje denuncia a falta de liberdade de imprensa na República Bolivariana da Venezuela.

Esse personagem sinistro faz lembrar representantes da fauna tupiniquim que atualmente se apresentam como democratas desde criancinha e durante a ditadura, se não compactuaram, permaneceram em silêncio quando as violências eram cometidas naquele período de trevas.

Esta sessão memória dos anos de chumbo é importante de ser feita, sobretudo para que alguns leitores sejam prevenidos sobre quem é quem nesta primeira década do Terceiro Milênio e não caiam no conto do vigário midiático conservador.


Nota da Redação: O livro "A América que não está na mídia", escrito pelo colunista Mário Augusto Jakobskind, estará sendo lançado, no Rio de Janeiro, no próximo dia 13, às 20 horas, no restaurante Lamas. Já na segunda quinzena de outubro, Jakobskind estará em Montevidéu para o lançamento do livro "A pesar Del bloqueo – 50 años de Revolución".

Na próxima semana, Jakobskind promete contar aqui neste espaço do DR a história de uma violência cometida no Uruguai, em setembro de 1981, contra ele. E vocês vão ficar sabendo como o mundo dá voltas.
Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação.

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