Montevidéu - Os uruguaios vão às urnas no dia 25 de outubro para eleger o Presidente da República que vai governar o país até 2015 e opinar em plebiscito sobre dois temas relevantes: o fim da lei caducidade, que em 1986 favoreceu torturadores tornando-os impunes e ainda decidir se os cidadãos que emigraram e continuam no exterior, cerca de 600 mil, podem ter direito a voto onde se encontram.
As pesquisas indicam maior percentual de votos, cerca de 48% para Pepe Mujica, mas para garantir uma vitória no primeiro turno ele terá de obter 50% mais um o que torna os últimos dias de campanha decisivos. Dois outros candidatos, considerados zebras, Raul Rodriguez e Pablo Mieres, também concorrem, respectivamente pela Asembléia Popular e Partido Independente.
Para ganhar no primeiro turno, Jose Pepe Mujica, candidato da Frente Ampla, disputa voto a voto com o ex-presidente Luis Alberto Lacalle, do Partido Nacional, um conservador que deixou o governo nos anos 90 acusado de corrupção. Mujica é hoje um dos políticos mais populares no Uruguai e vem de longe, ou seja, foi preso político refém da ditadura militar durante 13 anos, quando viveu em regime de solitária, participou ativamente da luta armada militando no grupo Tupamaros (Movimento de Libertação Nacional – MLN) tendo fugido duas vezes da prisão e baleado em um confronto com os militares inimigos.
Já Lacalle é um típico representante da oligarquia uruguaia, dividida entre os Partidos Colorado e Nacional, que eram absolutamente majoritários até a chegada ao governo da Frente Ampla, em 2004, com o atual Presidente Tabaré Vázquez.
Em 1973 acabaram dando um golpe capitaneado pelo então presidente Juan Maria Bordabery, cujo filho, Pedro Bordaberry é candidato a Presidente agora e promete mundos e fundos, como aconteceu quando se candidatou a prefeito de Montevidéu, mas perdeu.
Bordabery, o mais jovem dos candidatos, lançou seu programa de governo intitulando-o “Uma nova forma de pensar e fazer política”. Sem dúvida, Pedro deve ter aprendido muita coisa com o pai, que está em prisão domiciliar por ter sido acusado como um dos principais responsáveis pelo golpe de Estado que levou o país para uma longa obscuridade. Tanto assim que na parte de Segurança Pública ele defende a redução da idade penal para 16 anos. Fora isso, promete o paraíso aos trabalhadores, esquecendo-se de que o seu partido, o Colorado governou o Uruguai por muitos anos e transformou para muito pior a vida da maioria da população ao aplicar uma política econômica neoliberal.
Tanto Bordaberry como Lacalle e os seus seguidores às vezes usam uma linguagem que remonta ao período da Guerra Fria, que levou Juan Maria Bordaberry a quebrar a ordem constitucional. O anticomunismo profissional, que se imaginava já sepultado ou apenas seguido por remanescentes dos porões das ditaduras latino-americanas, com exemplos aqui no Brasil de figuras que homenageiam volta e meia torturadores do gênero Brilhante Ulstra, é um dos recursos utilizados pela direita uruguaia que tenta voltar ao governo.
Em relação à Lei de Caducidade, os uruguaios novamente foram chamados para decidir se torturadores vão continuar impunes e protegidos por uma legislação aprovada em 1986, ainda ao sabor da pressão de militares e civis colaboradores da ditadura, que ameaçavam com represálias se a legislação que os protege fosse abolida. Há casos isolados de militantes dos dois partidos apoiarem o fim da Lei de Caducidade. O neto de João Goulart, Marcos Goulart, por exemplo, vinculado ao Partido Nacional se posicionou nesse sentido por entender que a revogação ajudará a esclarecer de uma vez por todas como o avô, segundo Marcos, foi assassinado.
Como se sabe, nas últimas décadas centenas de milhares de uruguaios deixaram o seu país, pois as políticas neoliberais adotadas pela oligarquia nunca permitiram que os emigrantes votassem. Como a maior parte dos uruguaios que vivem no exterior têm consciência de que os sucessivos governos, tanto da ditadura, como da democracia formal são os principais responsáveis por eles estarem fora, a resposta poderá ser o voto nos candidatos que se insurgem contra o modelo econômico que infelicitou o país. Ou seja, as oligarquias que ainda imaginam serão detentores do poder para sempre sentem-se ameaçadas pelo voto vindo do exterior.
O cenário uruguaio é este, Claro que muita água ainda vai rolar até o próximo dia 25. O favorito nas pesquisas Pepe Mujica tem como vice o Ministro da Fazenda de Tabaré Vázquez e hoje pode ser considerado um político de esquerda moderado. Tem como paradigma Luiz Inácio Lula da Silva.
A palavra agora está com os uruguaios.
Nota da Redação. O colunista Mario Augusto Jakobskind está no Uruguai a convite da Prefeitura de Montevidéu, que vai homengeá-lo nesta segunda-feira com o título de Visitante Ilustre, em desagravo à sua expulsão do país em 1981, no período da ditadura militar.
Mário Augusto Jackobskind, Direto da Redação.
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