quarta-feira, 4 de novembro de 2009

FH esquenta guerra entre PT e PSDB.Isso é bom

Gerson Camarotti e Tatiana Farah

O Globo - 04/11/2009

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicado domingo no GLOBO, no qual afirmou que o país caminha para o autoritarismo, recebeu forte reação da cúpula petista, enquanto os tucanos reafirmaram as críticas. No texto intitulado “Para onde vamos?”, o ex-presidente escreveu que “o subperonismo lulista se sustentará no futuro” caso a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ganhe as eleições. A reação mais contundente partiu do líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), que citou a mudança na Constituição para incluir a possibilidade de reeleição.


— Autoritarismo? De jeito nenhum.

Diferentemente de Fernando Henrique, Lula não mudou as regras do jogo democrático para ganhar mais um mandato.

Quem fez isso foi Fernando Henrique, com questões ainda não esclarecidas, para garantir a reeleição.

No artigo, Fernando Henrique, ao falar do que classificou como subperonismo, disse que o governo Lula está cometendo “pequenos assassinatos” na democracia com o predomínio de “uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão”. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), também criticou o ex-presidente. Para ele, foi no governo Fernando Henrique que houve pressão para investimentos duvidosos dos fundos de pensão de funcionários das estatais.

— Fiquei consternado ao ver como o nível da vaidade leva um político a fazer uma análise equivocada, especialmente de um sociólogo que deveria ter base científica. Fernando Henrique esquece que foi em seu governo que houve pressão em cima dos fund o s d e p e n s ã o . H o u v e constrangimentos para investimentos que não tinham sustentabilidade técnica — disse.

Ontem, os tucanos reforçaram as suspeitas levantadas por Fernando Henrique sobre a decisão do presidente Lula de fazer o Congresso “engolir” uma mudança na legislação do petróleo.

O ex-presidente escreveu que o sistema de partilha está “sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas”. E advertiu que isso serviria “para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública”.

O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), leu trechos do artigo da tribuna. Para o tucano, o autoritarismo do governo Lula está cada vez mais presente: — O governo Lula está introduzindo a intermediação com esse projeto do pré-sal e desequilibrando as relações.

Além disso, esse autoritarismo é cada vez mais acentuado e presente no presidente Lula. Pelo jeito, ele tem um problema, uma aversão a ser contrariado.

Arnaldo Madeira (PSDBSP), que foi líder do governo tucano, reforçou: — Estamos vivenciando um projeto em que Lula se acha acima do bem e do mal.

Até porque hoje tem o lulismo de direita e de esquerda.

O presidente tem uma visão atrasada do Estado e não entendeu a importância das instituições. O lulismo começa a usar o aparato do Estado em favor de um projeto político, inclusive com os empresários.

Para o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), o principal ponto levantado por Fernando Henrique foi o espírito autoritário do atual governo: — Esse autoritarismo existe. Hoje, a relação não é a melhor entre os poderes, até porque o presidente Lula tem uma interpretação da democracia que é preocupante.

O deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP) rebateu as críticas: — A inveja é um sentimento humano e, como tal, deve ser compreendida. Esse artigo é mais para ser lido no divã de um analista do que por um cientista político.

Há contradições visíveis. Só posso ver isso como um desabafo. Um desabafo intelectualizado, mas de alguém que não consegue conviver com a realidade de um sucessor abatê-lo na popularidade, tanto nacional quanto internacional.

É um desabafo triste.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), ex-petista, considerou a crítica de Fernando Henrique pertinente, mas argumentou que o ex-presidente não conseguiu agir de forma diferente quando governou o país: — Eu saúdo a volta do sociólogo e suas preocupações com a autonomia da classe trabalhadora e o não aparelhismo do Estado(até tu Chico, que tanto mamou no "aparelho" do PT?). Por outro lado, vejo evidências da dificuldade entre a análise teórica e o exercício do poder. A crítica procedente que faz agora, fora do poder, não se traduziu numa prática diferente quando ele governou o país.

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