quinta-feira, 1 de julho de 2010

O que deu no Josias?

Quando um jornalista ligado ao tucanato passa a falar mal do patrão é porque está sem receber salário pelos serviços prestados.

Serra transforma escolha de seu vice em processo de autofagia cibernética



JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA

O político profissional não tem medo do escuro. Receia mesmo é a claridade. José Serra subverteu a ordem.

Envolto em atmosfera de volúpia e traição, o presidenciável tucano converteu a escolha de seu vice num striptease autofágico.

A plateia descobriu no imenso telhado de vidro da coligação pró-Serra um inusitado posto de observação.

Até a semana passada, a situação era a seguinte: metade do DEM estava nervosa porque Serra dizia que não tinha um vice e o aliado achava que ele estava mentindo.

A outra metade do DEM estava nervosa porque Serra dizia que não tinha escolhido o vice e imaginava-se que ele não tinha mesmo um nome.

E Serra estava nervoso porque não sabia se dizia que tinha o vice que ainda não escolhera ou se escolhia o vice e não dizia. E vice-versa.

Súbito, o nome do tucano Álvaro Dias veio à luz do modo mais inusitado: uma nota no microblog do presidente do PTB, o deputado cassado Roberto Jefferson (RJ).

Súbito, o DEM, aliado de todas as horas, tornou-se, por assim dizer, um corno cibernético. Com a alcova sob holofotes, Serra portou-se com inocência inaudita. Imaginou que o DEM aceitaria o papel de mulher traída que evita um rompimento em nome da integridade da família.

Esqueceu-se de que lidava com uma sigla que assumiu o poder logo após as caravelas de Pedro Álvares Cabral aportarem em Porto Seguro.

Lançado à oposição por Lula, o DEM (ex-Arena, ex-Frente Liberal e ex-PFL) perdeu prestígio e votos. Mas manteve relativa unidade.

Comparado ao PSDB, uma agremiação de amigos integralmente composta de inimigos, o DEM é um partido razoavelmente coerente.

Suas posições costumam ser conhecidas antes que os filiados levantem o braço numa convenção como a que se realizou ontem, em Brasília.

O DEM avisara há dois meses: sem Aécio Neves, o vice de Serra deveria ser preferencialmente de seus quadros.

Dono de estilo "indiocentrista", Serra imaginou-se capaz de trafegar pela selva de sua coligação com distanciamento de antropólogo.

No Big Brother do tucanato, os morubixabas do DEM levaram Serra não ao paredão, mas ao caldeirão. Obrigaram-no a regurgitar Álvaro Dias e atravessaram-lhe Indio da Costa na traqueia.

De erro em erro, Serra virou uma espécie de bispo Sardinha da era da internet. Em autofagia pública, foi mastigado pelos caetés do DEM à luz do twitter.

2 comentários:

Unknown disse...

É que ele está vendo que a vaca foi para o brejo! Foi a última ópera bufa da turma do Serra. Até eles se deram conta do papelão que o parto do vice!

O TERROR DO NORDESTE disse...

Charles, exatamente.