Acusação de elo PT-Farc já rendeu punição do TSE a Serra; veja histórico
A troca de acusações sobre as supostas ligações do PT com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) que vem ocupando o noticiário nos últimos dias não é inédita na vida política brasileira. Desde 2002, quando José Serra (PSDB) disputou a Presidência da República pela primeira vez contra o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o tema ressurge recorrentemente, em especial nos períodos que antecedem as eleições. Confira:
Em outubro de 2002, no segundo turno da disputa pelo Palácio do Planalto, Serra tentou vincular o PT às Farc durante sua propaganda eleitoral obrigatória. Foi multado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que concedeu aos petistas 1m30s da propaganda tucana para serem utilizados como direito de resposta. No ano seguinte, em setembro, Lula, já como presidente da República, oficializou uma oferta ao seu homólogo colombiano, Álvaro Uribe, para que o território brasileiro pudesse ser usado como local neutro para negociações entre a guerrilha e o governo da Colômbia.
No entanto, as supostas ligações do PT com as Farc só passaram a ter uma repercussão mais ampla com a publicação, em março de 2005, de uma reportagem de capa da revista Veja. Segundo o periódico, que utilizou supostos documentos da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para corroborar a denúncia, o partido teria recebido US$ 5 milhões para o financiamento de campanhas eleitorais.
Na ocasião, o diretor-geral da Abin, Mauro Marcelo de Lima e Silva, disse que a agência foi "usada" para atingir a imagem do governo federal e do PT. Além disso, a própria revista admitiu em seu texto que "não encontrou indícios suficientemente sólidos de que os 5 milhões de dólares tenham realmente saído das Farc e chegado aos cofres do PT". A publicação causou reação imediata. José Genoíno (PT-SP), à época presidente da sigla, afirmou, por meio de nota, que o partido "jamais teve relações financeiras com as Farc".
No início da década de 1990, o PT e as Farc foram dois dos fundadores do Foro de São Paulo, entidade que reúne organizações de esquerda de toda a América Latina. Em julho de 2005, a guerrilha foi impedida de participar formalmente de uma reunião do Foro realizada na cidade de São Paulo. O pedido de participação foi negado pela secretaria executiva da entidade, dominada na ocasião pelo PT.
Tráfico de influência?
Em julho de 2008, o tema voltou à pauta com a publicação de uma reportagem da revista Câmbio, da Colômbia, em que se afirma que as Farc tentaram influenciar integrantes do alto escalão do governo Lula. Com base em informações supostamente retiradas do computador de Raúl Reyes, ex-porta-voz internacional da guerrilha, a publicação diz que "a expansão das Farc na América Latina não incluiu apenas funcionários dos governos de Venezuela e Equador, mas também comprometeu importantes dirigentes, políticos e altos membros do PT".
Entre os nomes citados, estavam o do ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu; de Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais; o chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho; e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, dentre outros.
Outro dos nomes mencionados é o do ex-padre Olivério Medina, a quem o governo brasileiro tinha como interlocutor das Farc desde a gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Nos anos 2000, ele foi preso e liberado sucessivas vezes, até que o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados) concedeu status de refugiado ao colombiano. Ainda em 2008, Medina aceitou convite da Comissão de Relações Exteriores da Câmara para explicar suas relações com o governo brasileiro.
Institucionalização
As Farc tentaram abrir em 1998 - durante o governo FHC - um escritório em Brasília para facilitar negociações de paz com a participação do Brasil. Na ocasião, Medina e Hernán Ramírez, à época um dos comandantes da guerrilha, chegaram a se reunir com o hoje senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), à época secretário-geral do PSDB.
Reacendendo a polêmica
Na última sexta-feira (16), Indio da Costa (DEM), vice de José Serra (PSDB) na disputa à Presidência, disse que "todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior. Não tenho dúvida nenhuma disso". A declaração foi dada ao site "Mobiliza PSDB", ligada à campanha do candidato tucano, na tentativa de atingir a candidata petista à sucessão, a ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff.
Não tardou e as reações logo se sucederam. Aliados de Serra tentaram atenuar as declarações. "Não dá para cravar que o PT tenha relação com as Farc", afirmou Rodrigo Maia, presidente do DEM. O PT prometeu entrar com ação contra Indio da Costa por injúria, difamação e danos morais, além de pedir à Justiça Eleitoral direito de resposta no site do PSDB.
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, qualificou de "medíocre" o vice de Serra; Paulo Bernardo, ex-ministro do Planejamento do governo Lula, chamou Costa de "idiota". "A oposição se comporta como um bando de tresloucados, lancando calunias ao vento", escreveu Dutra em seu twitter.
Serra, por sua vez, reafirmou os laços dos PT com as Farc, mas não respaldou as declarações de seu vice no que diz respeito às supostas ligações do PT com o narcotráfico. "O Indio disse o que a gente sabe: as Farc se sustentam com dinheiro do narcotráfico, e o PT é ligado às Farc. É um sócio incômodo que o PT tem", afirmou o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), presidente do PSDB. Folha.com
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