segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Comunidade científica dá crédito ao Brasil


Pesquisas em alta


Autor(es): Paloma Oliveto
Correio Braziliense - 06/12/2010


Brasil é elogiado pela Science por seu "florescimento" científico. Entre os dados destacados, está o aumento do número de artigos publicados, que levou o país à 13ª posição no ranking de produção do conhecimento

O país do samba e do futebol também é a nação da ciência. Nunca o Brasil investiu tanto em pesquisa e publicou tantos artigos em periódicos renomados. O aumento de recursos, de pessoal especializado e de estudos chama a atenção da comunidade internacional, que, pela terceira vez neste ano, destaca o desenvolvimento gradual da ciência brasileira. Em julho, a Nature dedicou uma reportagem, seguida por um editorial, sobre o Brasil. Há menos de dois meses, o país foi o primeiro da América do Sul a ganhar um capítulo no relatório anual de ciência da Unesco. Agora, quem volta os olhos para a pesquisa nacional é a revista Science, uma das mais importantes do mundo.

Na edição de sexta-feira passada, o periódico dedicou sete páginas ao que chamou “florescimento da ciência no Brasil”. Com um título que remete aos novos achados da Petrobras (Riding a gush, sendo gush o jorro de um poço de petróleo), a reportagem diz que um crescimento da economia e a descoberta das reservas na camada pré-sal colocam a ciência brasileira em um alto patamar. Mas recorda que o sistema de educação é frágil e o baixo registro de patentes faz com que o país não seja “formidável ainda”.

A reportagem começa com o neurocientista Miguel Nicolelis, pesquisador renomado que trabalha nos Estados Unidos e encabeça uma das mais avançadas linhas de pesquisa sobre o mal de Parkinson. Em 2003, ele começou a angariar fundos para criar, no Brasil, um centro avançado de estudos neurológicos. O Instituto Internacional de Neurociências de Natal nasceu da persistência do pesquisador. “A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia) foi a primeira entidade a dar apoio ao projeto. Foram R$ 1 milhão. A partir daí, ele conseguiu muitos recursos”, contou ao Correio o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Resende (leia entrevista).

A revista internacional destaca que, como anfitrião da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o Brasil está cheio de autoconfiança. “Os bons tempos alcançam a ciência também”, diz a reportagem. Entre 1997 e 2007, o número de artigos publicados em periódicos especializados mais do que dobrou, colocando o Brasil na 13ª posição em termos de publicações — mais do que Israel, Suécia e Holanda. As universidades do país laurearam o dobro de PhDs, comparando-se a 2001, e milhares de novos empregos foram abertos nos 134 câmpus das federais, destaca a Science.

Futuro


Isso só foi possível devido ao financiamento das pesquisas, que deu um salto nos últimos anos (veja quadro). Mas não se pode parar por aí, reconhece o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Na reunião regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o chefe do Departamento de Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia do MCT, Ildeu de Castro Moreira, afirmou que os dispêndios para pesquisa e desenvolvimento e o financiamento privado estão aquém do necessário.

Na quinta-feira, a SBPC lançou uma nota oficial sobre o ministério e o êxito da ciência brasileira. De olho nos próximos quatro anos, o presidente da sociedade, Marco Antonio Raupp, e o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ACB), Jacob Palis Junior, pediram a continuidade das ações do ministério.


Quatro perguntas para


Sergio Resende, ministro da Ciência e Tecnologia

Qual é o significado para a ciência brasileira ser destaque de forma tão positiva na revista Science?


É um significado muito grande e vem se somar a um conjunto de matérias que saíram este ano. Esse processo gradual da melhoria do desempenho da ciência brasileira chama a atenção internacional e cria uma mobilização importante, pois ajuda a trazer centros de pesquisa de grandes empresas. A GE decidiu colocar um centro no Rio, a IBM também, assim como uma empresa sueca. A atenção que a ciência e a tecnologia estão despertando atrai novos investimentos e pessoas. Para um cientista, é muito difícil ir para um lugar que não tem nada. Mas um lugar promissor atrai cientistas de peso.

Inclusive os cientistas brasileiros que saíram do Brasil?


Sim, muitos brasileiros que saíram daqui estão sempre pensando em voltar. O Miguel Nicolelis é um exemplo. Ele trouxe uma ideia para o Brasil em 2003 (o Instituto Internacional de Neurociências de Natal), quando eu presidia a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia), a primeira entidade a dar apoio. Foram R$ 1 milhão. A partir daí, o projeto conseguiu muitos recursos.

O senhor Nicolelis disse à Science que os futuros líderes brasileiros sairão da área da ciência. O senhor concorda?


Não é exatamente assim. Ter uma ciência forte contribui para que o Brasil fique mais desenvolvido e mais rico. Com a melhoria da educação, teremos grandes líderes, que não são necessariamente cientistas.

O senhor afirmou que está na hora de o Brasil pensar grande. Em curto prazo, quão grande podemos pensar?


Em 2009, 1,24% do PIB foi investido em pesquisa e desenvolvimento. Com mais recursos, começamos a pensar de maneira mais ambiciosa. Há dois meses, a Petrobras inaugurou um novo centro do Rio de Janeiro. Quando você entra nele, parece estar em um centro de país desenvolvido. Ontem (quinta-feira), participei da inauguração, em Brasília, do Centro de Agroenergia da Embrapa. Neste ano, também foi instalado o Centro de Biotecnologia do Etanol, em Campinas. Da mesma maneira, temos a participação do Brasil em grandes projetos internacionais, como o LHC (acelerador de partículas suíço, da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear). Também nos interessa participar de grandes observatórios astronômicos, porque aqui temos lugar para ter um observatório de qualidade.

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