A primeira reunião ministerial e as três primeiras semanas de governo já dão pistas de qual será o estilo de trabalho da presidente Dilma Rousseff. O básico é a cobrança de resultados práticos e unidade da equipe, com relações harmoniosas com o Congresso e com o Judiciário.
A reunião com os ministros, que poderia ser descontraída no sentido de estreitar os laços entre os membros do gabinete que ainda não se conhecem direito, foi diferente. Foi uma reunião de trabalho, com pauta bem definida e fixação de prioridades.
Pé no freio dos gastos públicos e critério técnico para a formação das equipes de segundo e terceiro escalões foram dois pontos centrais das intervenções da presidente. Isto, pelo que se depreende de informações soltadas aqui e acolá por participantes da primeira reunião.
Quanto às contratações, por exemplo, o que deve vigorar é a preocupação com a eficiência da máquina administrativa e com a ética pública. Entre parente, amigo, companheiro de política ou um técnico que conheça da área a ser tocada não deve haver dúvida: o escolhido deve ser o técnico.
Ninguém impôs ou sequer sugeriu, mas ficou implícito na reunião que está fora de cogitação qualquer comparação entre o atual governo e o do ex-presidente Lula. O fato de dar seguimento às políticas que vêm dos últimos oito anos não significa jeito igual nos procedimentos.
A solução de problemas de maior porte deve ter o concurso de todos que possam ajudar, com opiniões ou com ações. Este é o caso, desde logo, de dois pepinos que caíram nas mãos da presidente neste começo de governo. São o índice do salário mínimo e a tragédia do Rio de Janeiro.
Quanto ao salário mínimo, a opinião que prevalecia era a de que os R$ 540,00 previstos pelo governo estaria de bom tamanho. Mas, ainda assim, a questão foi reaberta, até por conta do receio de entrar em choque com o Congresso. Rever números, ainda que pouco, seria demonstração de boa vontade. E foi isso que ocorreu.
No caso do aguaceiro, destruição e mortandade na região serrana do Rio, a resposta veio com ações. Em menos de 48 horas, o governo federal já tinha se posicionado sobre o assunto, definido fontes de recursos para a emergência e a própria Dilma visitou a região abalada, com ministros.
Além disso, ao se manifestar sobre o assunto, juntamente com o governador Sérgio Cabral, ela foi clara ao definir as responsabilidades numa situação como esta. O problema não é deste ou daquele nível da administração pública. É um problema do Brasil e o governo, em todas as esferas, deve se empenhar para reparar o que for possível repor.
A liberação imediata de R$ 780 milhões do Fundo de Emergência para os gastos necessários, da reposição de estradas e pontes ao socorro às vítimas com remédios, atendimento médico e abrigo, é apenas uma parte. O que se viu foi o gabinete inteiro mobilizado.
Vários ministérios agiram ao mesmo tempo, com rapidez e eficiência. Saúde, Cidades, Integração, todas as áreas se mobilizaram, apesar de ser início de governo. No caso da Defesa, o ministro Nelson Jobim colocou Exército, Marinha e Aeronáutica em ação desde as primeiras horas.
É certo que fica evidente certo despreparo do País para situações como esta que se enfrenta no Rio. Mesmo tendo, como no caso do Exército, tropas treinadas em situações práticas, como no atendimento à população do Haiti, vítima do terremoto do ano passado.
Também nisso, porém, a presidente foi direta e sincera com a nação ao afirmar que ainda são poucos os investimentos na prevenção desse tipo de catástrofe. Ela não falou, mas quem quiser entende, que ações relativas ao ordenamento urbano são, em primeiro lugar, das prefeituras municipais.
A prática de não interferir na ocupação de áreas de risco por gente que, no fim das contas, é eleitor é muito comum no Brasil. Mas, se é que se pode tirar algo de positivo de tamanha desgraça, fica o exemplo para os prefeitos. E, no âmbito federal, o poder da fiscalização da aplicação de recursos para este fim destinados.
E aí, voltamos ao tom das ações e recomendações deste início de governo. Os investimentos necessários, estejam ou não no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), terão que ser feitos. Daí, o rigor nos gastos públicos cobrado por Dilma. Dinheiro há, é só saber gastar.
A reparação dos estragos causados pelas chuvas de janeiro no Rio e em vários outros estados são gastos imprevistos, que apertam o caixa, mas têm que ser feitos. O que prevê o PAC para infra-estrutura, também. E aí são incluídas as obras, igualmente urgentes, de preparação do País para os eventos esportivos que vamos hospedar.
Esse cuidado Dilma tem tido no cotidiano de seu gabinete. Se conferirmos sua agenda, por exemplo, veremos que ela dedica a maior parte do seu tempo a assuntos internos. A interlocução com a sociedade tem sido feita, de maneira um tanto quanto silenciosa, pelo ministro-chefe da Casa Civil da, Antônio Palocci.
Pelo que já se vê, pois, tudo indica que a eleição da presidente Dilma foi voto muito bem aplicado.
* Trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.
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