José Antonio Severo
Deu no Estadão que a presidente Dilma vai chamar o professor Patrus Ananias para integrar seu gabinete. Eu lhe disse a mesma coisa que está na matéria do jornal paulista: nenhum governo pode se dar ao luxo de não tê-lo na equipe. Um quadro qualificado da sua categoria, por mais que esperneie, não conseguirá ficar de fora. Seu plano era voltar à vida privada, depois de mais de 30 anos consecutivos de serviço público. Não só eu, mas todo o mundo falava-lhe a mesma coisa.
Pouco antes dessa notícia do Estadão, pessoas me telefonavam alarmadas com boatos veiculados na internet, afirmando que ele estava para reassumir seu emprego na Assembleia Legislativa de Minas. Respondia-lhes que era esse seu desejo. Funcionário de carreira, concursado, voltava a seu ninho, depois de ter servido como vereador, deputado, prefeito de Belo Horizonte e ministro de dois governos. Em 2002, foi eleito deputado federal, o mais votado da história de Minas, com quase 600 mil votos, “sem pagar nem mesmo uma cerveja a eleitor ou cabo eleitoral”, como diz. Em 2006, abriu mão de uma reeleição certa para continuar no governo do presidente Lula, que lhe dera a oportunidade de seus sonhos: organizar, implementar e dirigir o programa de combate à fome e à pobreza no âmbito nacional, criando o Ministério de Desenvolvimento Social.
No ano passado, assumiu uma árdua missão partidária, candidatando-se a vice-governador na chapa liderada pelo peemedebista Hélio Costa, honrando o compromisso do presidente Lula e de sua candidata Dilma Rousseff de apoiar uma candidatura do partido aliado num estado de primeira grandeza, onde o Partido dos Trabalhadores tivesse possibilidade real de vitória. Perdeu a eleição, na qual era apenas coadjuvante, mas venceu no espaço em que era principal, pois foi o coordenador político da candidatura presidencial em Minas Gerais.
Dilma venceu em Minas no primeiro e no segundo turnos, enfrentando a maior potência tucana do País, o ex-governador Aécio Neves, que foi vitorioso em toda a linha, menos na eleição presidencial, capitaneada por Patrus. O que se diz é que se ele fosse o cabeça da chapa, como queria seu partido, o PT, teria vencido. Hélio Costa era um nome quase intragável para a esquerda e só teve votos petistas porque Patrus estava na chapa. Foi o avalista de um xarope amargo para as lideranças locais. Disciplinadamente, aguentou o rojão.
Patrus é isto: um homem sem ambições pessoais de cargos ou honrarias. Embora seja a mais importante figura da esquerda mineira, não é originário das correntes marxistas da militância dos anos 70. Nunca foi revolucionário. Veio das lutas sociais da esquerda católica, originário dos movimentos das comunidades de base, sempre comprometido com a saída democrática da ditadura militar direitista, ao contrário de muitas correntes que vieram da luta armada em favor da ditadura do proletariado. Fundador do Partido dos Trabalhadores, seus votos no legislativo sempre corroboraram essa posição em todas as questões fechadas.
Tudo isto lhe credencia como o grande nome para juntar os pedaços e reconstituir o PT em Minas. Na última eleição, um grupo petista associou-se a uma dissidência denominada Dilmasia (Dilma/Anastasia), cooptando um número significativo de prefeitos dos partidos da base aliada a votar no candidato tucano ao governo do Estado. Imagine-se a saia justa de Patrus: candidato a vice-governador na chapa PMDB/PT, não podia agir contra quem fosse votar em Dilma, pois era o coordenador de sua campanha no Estado, mas tampouco podia tolerar a traição dos prefeitos, muitos deles petistas e outros dos partidos coligados. Os dissidentes deram com os burros n’água, pois o prêmio seria o apoio de Aécio Neves a seu candidato ao Senado, o que não ocorreu. Por isto o PT de Minas não está aceitando deixar Patrus fora do governo federal como o legítimo representante da vitória dilmista no Estado.
Tudo isto comprova que mais vale uma derrota com honra do que uma vitória a qualquer preço. Por seu comportamento digno, altaneiro e lúcido, Patrus emergiu da eleição como a maior expressão da esquerda mineira. Ele não é candidato a nada, mas é inegável que a reconstituição do PT mineiro será realizada à sua sombra. Ele é o grande fiador dos valores antigos. Seu nome não figura nos planos eleitorais, embora seja, por outro lado, inevitável que será ele que vai indicar os nomes nos próximos pleitos. Para quem vê de fora, não há como ver outro quadro que não Patrus candidato ao governo estadual em 2014, quando o PT terá de enfrentar diretamente o senador Aécio Neves, pois o governador Antônio Anastasia, reeleito, é inelegível. Será a eleição mais difícil da história do Partido dos Trabalhadores em todo o País. Missão para Patrus Ananias.
* Jornalista
Deu no Estadão que a presidente Dilma vai chamar o professor Patrus Ananias para integrar seu gabinete. Eu lhe disse a mesma coisa que está na matéria do jornal paulista: nenhum governo pode se dar ao luxo de não tê-lo na equipe. Um quadro qualificado da sua categoria, por mais que esperneie, não conseguirá ficar de fora. Seu plano era voltar à vida privada, depois de mais de 30 anos consecutivos de serviço público. Não só eu, mas todo o mundo falava-lhe a mesma coisa.
Pouco antes dessa notícia do Estadão, pessoas me telefonavam alarmadas com boatos veiculados na internet, afirmando que ele estava para reassumir seu emprego na Assembleia Legislativa de Minas. Respondia-lhes que era esse seu desejo. Funcionário de carreira, concursado, voltava a seu ninho, depois de ter servido como vereador, deputado, prefeito de Belo Horizonte e ministro de dois governos. Em 2002, foi eleito deputado federal, o mais votado da história de Minas, com quase 600 mil votos, “sem pagar nem mesmo uma cerveja a eleitor ou cabo eleitoral”, como diz. Em 2006, abriu mão de uma reeleição certa para continuar no governo do presidente Lula, que lhe dera a oportunidade de seus sonhos: organizar, implementar e dirigir o programa de combate à fome e à pobreza no âmbito nacional, criando o Ministério de Desenvolvimento Social.
No ano passado, assumiu uma árdua missão partidária, candidatando-se a vice-governador na chapa liderada pelo peemedebista Hélio Costa, honrando o compromisso do presidente Lula e de sua candidata Dilma Rousseff de apoiar uma candidatura do partido aliado num estado de primeira grandeza, onde o Partido dos Trabalhadores tivesse possibilidade real de vitória. Perdeu a eleição, na qual era apenas coadjuvante, mas venceu no espaço em que era principal, pois foi o coordenador político da candidatura presidencial em Minas Gerais.
Dilma venceu em Minas no primeiro e no segundo turnos, enfrentando a maior potência tucana do País, o ex-governador Aécio Neves, que foi vitorioso em toda a linha, menos na eleição presidencial, capitaneada por Patrus. O que se diz é que se ele fosse o cabeça da chapa, como queria seu partido, o PT, teria vencido. Hélio Costa era um nome quase intragável para a esquerda e só teve votos petistas porque Patrus estava na chapa. Foi o avalista de um xarope amargo para as lideranças locais. Disciplinadamente, aguentou o rojão.
Patrus é isto: um homem sem ambições pessoais de cargos ou honrarias. Embora seja a mais importante figura da esquerda mineira, não é originário das correntes marxistas da militância dos anos 70. Nunca foi revolucionário. Veio das lutas sociais da esquerda católica, originário dos movimentos das comunidades de base, sempre comprometido com a saída democrática da ditadura militar direitista, ao contrário de muitas correntes que vieram da luta armada em favor da ditadura do proletariado. Fundador do Partido dos Trabalhadores, seus votos no legislativo sempre corroboraram essa posição em todas as questões fechadas.
Tudo isto lhe credencia como o grande nome para juntar os pedaços e reconstituir o PT em Minas. Na última eleição, um grupo petista associou-se a uma dissidência denominada Dilmasia (Dilma/Anastasia), cooptando um número significativo de prefeitos dos partidos da base aliada a votar no candidato tucano ao governo do Estado. Imagine-se a saia justa de Patrus: candidato a vice-governador na chapa PMDB/PT, não podia agir contra quem fosse votar em Dilma, pois era o coordenador de sua campanha no Estado, mas tampouco podia tolerar a traição dos prefeitos, muitos deles petistas e outros dos partidos coligados. Os dissidentes deram com os burros n’água, pois o prêmio seria o apoio de Aécio Neves a seu candidato ao Senado, o que não ocorreu. Por isto o PT de Minas não está aceitando deixar Patrus fora do governo federal como o legítimo representante da vitória dilmista no Estado.
Tudo isto comprova que mais vale uma derrota com honra do que uma vitória a qualquer preço. Por seu comportamento digno, altaneiro e lúcido, Patrus emergiu da eleição como a maior expressão da esquerda mineira. Ele não é candidato a nada, mas é inegável que a reconstituição do PT mineiro será realizada à sua sombra. Ele é o grande fiador dos valores antigos. Seu nome não figura nos planos eleitorais, embora seja, por outro lado, inevitável que será ele que vai indicar os nomes nos próximos pleitos. Para quem vê de fora, não há como ver outro quadro que não Patrus candidato ao governo estadual em 2014, quando o PT terá de enfrentar diretamente o senador Aécio Neves, pois o governador Antônio Anastasia, reeleito, é inelegível. Será a eleição mais difícil da história do Partido dos Trabalhadores em todo o País. Missão para Patrus Ananias.
* Jornalista
Fonte:Sul21
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