sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A direita explícita: do que nos livramos


“O professor e historiador Walderley Guilherme dos Santos na Carta Capital discorre com verve exemplar no artigo 'A direita encontra o seu Messias', referindo-se a Serra que, ao assumir o papel de principal líder do aglomerado conservador, conquistou um respeitável portfólio eleitoral. Pra quem curte o modelito 'sem medo de ser canalha'”


O leitor pode (e deve) refutar, que então a direita camuflada, a direita redesign, a chamada direita soft, essa continua comendo solto. E eu repondo: sim, dessa ninguém se livrou, é onipresente, como a cultura pop, mas a longo prazo também essa desaparecerá. O professor e historiador Walderley Guilherme dos Santos na Carta Capital discorre com verve exemplar no artigo “A direita encontra o seu Messias”, referindo-se a Serra que, ao assumir o papel de principal líder do aglomerado conservador, conquistou um respeitável portfólio eleitoral. Pra quem curte o modelito “sem medo de ser canalha”.

Wanderley mostra que os 44% dos votos válidos de Serra foram resultado de uma campanha acima dos partidos, praticamente sozinho, uma vez que não se pode chamar exatamente de apoio o arrastar-se de um DEM esfacelado e um PSDB em fuga acelerada (vejam-se os movimentos opostos porém com resultados idênticos!) Como foi possível?

Levado à disputa pela campanha de Marina Silva, o obscurantismo engatou pelo lado mais conservador da truculência serrista. A partir daí, Wanderley analisa a agenda “da direita explícita”.

a) Enxugamento do Estado.


O pessoal do Reagan dizia que era preciso reduzir o Estado de tal forma que fosse possível afogá-lo numa banheira. Este o “conceito reaganiano de enxugamento”;

b) Substancial redução de impostos.


Plataforma universal da extrema-direita: rico não gosta de pagar imposto, com Bush no papel de super-herói. Na política externa, retorno ao alinhamento ideológico “aos valores ocidentais anglo-saxões”, sem legendas em português. Trocando em miúdos, como disse Chico Buarque: engrossar com a Bolívia e se afinar com os Estados Unidos.

c) Implantar o 13º ao Bolsa Família: a medida impediria a ampliação do programa, mantendo-se apenas os atuais beneficiários, donde, ato contínuo, o programa seria rifado à Wal-Mart.

d) Aumentar o salário mínimo exageradamente – outra promessa de campanha – com o objetivo de quebrar a Previdência no sentido de privatizá-la.A propósito, FHC enviou André Lara Rezende ao Chile para copiar o modelo pinochetista.

e) Outro aspecto da agenda oculta de Serra, aventado pelo autor:: o voto distrital puro.

Apreciado tanto por Marina Silva como por Aécio Neves. Mas o que significa o “voto distrital puro”? Segundo Wanderley, “essa desinstitucionalização interromperia a importante tarefa de trazer para o leito da política partidária e parlamentar os conflitos sociais e econômicos das grandes periferias metropolitanas e das regiões limítrofes ao território do país. Partidos como o PSB, o PR e o PCdoB sumiriam do mapa (o PPS, segundo ele, está para se dissolver no PSDB). Ou seja, o “voto distrital puro” concentraria a tensão política em dois partidos – como nos Estados Unidos e na Inglaterra – confortavelmente instalados no centro do espectro político. E o povão ia para o saco. É elementar..

Serra, como o novo Messias da Direita Explícita, já teria o apoio da Chevron e do Papa.

Oportunamente, esta semana, as presidentes Dilma e Cristina já se encontraram naturalmente para refazer acordos, estreitar relações, etc., além de desfazer a má impressão deixada por uma das primeiras mancadas (quem se lembra?) da campanha serrista: a proposta de extinção do Mercosul. Aliás, um dos papeis femininos mais significativos é corrigir os maus modos infantis.


Márcia Denser, no Congresso em Foco.

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