segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Tucano suspeito de receber propina constrói império


Reproduzimos abaixo reportagem publicada no jornal Diário da Região (São José do Rio Preto), em 6/2/2011 - repórter: Allan de Abreu


Investigado pelo Ministério Público por suspeita de ter recebido propina da empresa francesa Alstom em troca de contratos públicos do governo paulista, o engenheiro Jorge Fagali Neto, de José Bonifácio, construiu e mantém um império que inclui uma fazenda avaliada em R$ 10 milhões, um apartamento em bairro nobre de São Paulo, uma empresa de consultoria agrícola e uma conta bancária na Suíça com saldo de US$ 7,5 milhões (R$ 12,5 milhões, no câmbio de sexta-feira). Jorge Fagali Neto é irmão de José Jorge Fagali que foi presidente do Metrô e que também está sendo investigado pelo Ministério Público.

Por conta das investigações, a Justiça brasileira e suíça bloquearam a conta de Fagali no país europeu, e em dezembro a 13ª Vara da Fazenda Pública quebrou os sigilos bancário e fiscal dele e de mais 10 pessoas, incluindo o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Robson Marinho, chefe da Casa Civil no governo Mario Covas entre 1995 e 1997.

O patrimônio de Jorge contrasta com as origens humildes da família Fagali. Ele é o mais velho dos 12 filhos de Assaf Jorge Fagali, libanês que chegou a José Bonifácio nos anos 30, onde virou comerciante de tecidos. “Era uma família de classe média, sem ostentação”, diz uma pessoa próxima, que não quis se identificar. A casa onde a família morava, uma residência simples, permanece intacta no Centro do município.

Depois de passar a infância e a adolescência com a família em Bonifácio, Jorge foi cursar engenharia elétrica na Politécnica da USP, na Capital. Os estudos eram custeados pelo pai. Depois de formado, nos anos 70, ingressou na Companhia Energética de São Paulo (Cesp) por indicação política, sem passar por concurso. Foi quando começou sua ascensão profissional. Trabalhou na construção da hidrelétrica de Ubarana, no rio Tietê e, uma década depois já era diretor da estatal, época em que costumava chegar de avião a José Bonifácio. “O Aloysio (Nunes, hoje senador) e ele vinham muito aqui na cidade”, diz Emílio Capobianco, memorialista do município.

O auge da carreira política chegou em 1994, quando foi nomeado secretário de Transportes Metropolitanos na gestão Fleury. Entre 2000 e 2003, foi diretor de projetos especiais do Ministério da Educação, indicado pelo então ministro Paulo Renato, do PSDB. De 2007 a 2010, seu irmão, José Jorge Fagali, foi presidente do Metrô.

O crescimento da fazenda de Jorge, denominada “Estância Bela Aurora”, acompanha sua carreira política. De acordo com registros no Cartório de Imóveis da cidade, em 1988 ele adquiriu a primeira gleba, de 93,89 hectares, na beira da vicinal que liga a rodovia Assis Chateaubriand (SP-425) à cidade de Planalto. Entre 1993 e 1997 vieram as demais partes, e hoje a fazenda soma 360,26 hectares (3,6 milhões de metros quadrados), o equivalente a dois parques do Ibirapuera, na Capital.

Na última década, Jorge construiu um pequeno palacete na propriedade, avaliado em cerca de R$ 200 mil. A fazenda tem cultivo de laranja, cana, milho e seringueira, e exibe forte esquema de segurança - dois vigias por turno guardam a área, e na porteira da entrada é possível visualizar uma câmera de vídeo que monitora a aproximação de veículos e pessoas.

Dentro da fazenda também funciona uma consultoria agrícola, a B.J.G.. Aberta em 1998, tem capital social de R$ 24 mil, dos quais R$ 21,6 mil são de Jorge e o restante dos filhos Gisele e Bruno. Em maio de 2010, o deputado estadual Antonio Mentor, líder da bancada do PT na Assembleia, encaminhou representação ao Ministério Público pedindo para que o patrimônio construído pelos Fagali, incluindo a fazenda e a empresa em José Bonifácio, fossem investigadas dentro do inquérito da Alston.

O promotor Silvio Marques, um dos responsáveis pela investigação do caso, diz, porém, que as investigações tramitam em segredo de Justiça e não quis comentar o caso. Quando o caso Alstom estourou na imprensa, em agosto de 2009, Jorge rareou seus passeios a José Bonifácio, antes constantes. “Se vem para cá, na maioria das vezes ninguém fica sabendo”, afirma uma pessoa próxima.

Contas foram bloqueadas

Jorge Fagali Neto não foi o único a ter dinheiro suspeito bloqueado no exterior. Conta atribuída a Robson Marinho, atual conselheiro do TCE e chefe da Casa Civil do governador Mario Covas entre 1995 e 1997, também foi detectada nas investigações do Ministério Público suíço e bloqueada a pedido da Justiça brasileira. Marinho movimentou pelo menos US$ 3 milhões na conta do banco Crédit Lyonnais, de acordo com a Promotoria do país. Quando foi bloqueada, seu saldo era de US$ 1 millhão.

As duas contas já haviam sido bloqueadas pelo Ministério Público da Suíça - a decisão liminar da 13ª Vara da Fazenda Pública buscou evitar que a Justiça suíça suspendesse o bloqueio, sob alegação de que o Brasil não teria interesse no caso por não ter tomado nenhuma decisão judicial sobre os valores nas contas, e também para preparar um eventual pedido de repatriamento de recursos.

Na decisão que quebrou os sigilos de Marinho, Jorge Fagali Neto e outros nove envolvidos, a juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi anota que “as investigações apontam, com plausibilidade, para a prática de corrupção, lavagem de dinheiro, atos de improbidade administrativa em detrimento profundo de relevantes princípios constitucionais”. Escreve ainda que “muitos dos apontados como envolvidos, ao longo das investigações, não indicaram a origem do patrimônio que se lhes agregou.”

Marinho evita comentar a conta na Suíça, com a alegação de que o processo tramita sigilosamente. Mas nega enriquecimento ilícito. Jorge Fagali Neto não foi localizado na última semana para comentar as investigações contra si no caso Alstom. Na última sexta-feira, ninguém atendeu as três ligações feitas para o seu apartamento na Capital, entre o início da tarde e o início da noite. No mesmo dia, a reportagem deixou recado com seu advogado em uma ação contra o banco Safra, José Glauco Scaramal, que se comprometeu a contatar Jorge e pedir a ele para entrar em contato com o Diário, o que não ocorreu até a tarde de ontem.

Dois dias antes, na quarta-feira, o cunhado de Jorge, Félix Arabe, que mora em José Bonifácio, disse não ter o telefone dele. “Ele quase não tem mais vindo à cidade”, disse. Procurado, o senador Aloysio Nunes informou por meio de sua assessoria que não comentaria o assunto o relacionamento com Fagali. Continue lendo

Um comentário:

VERA disse...

Não falei??? Todo santo dia aparece algum demo-tungano nas páginas policiais dos jornais, envolvidos em maracutais e falcatruas!!!!Eiuta quadrilha safada sô!!!