domingo, 1 de julho de 2012

Lugo: "Caí porque não dei cargos aos partidos"

Como se vê, fisiologismo não é privilégio só do Brasil.

                    
Lugo:


Em entrevista ao argentino Clarín, o ex-presidente paraguaio Fernando Lugo diz que contrariou os interesses do sistema político paraguaio; “O Estado não é uma torta que se reparte”


O ex-presidente paraguaio Fernando Lugo concedeu entrevista exclusiva ao Clarín para dizer que caiu por não entrar no jogo político do Paraguai. As palavras foram a um jornal da Argentina, que é justamente de onde ele tem conseguido mais apoio – até agora, Cristina Kirchner tem liderado o discurso contra o governo de Federico Franco. Leia alguns trechos:

Em uma entrevista com Daniel Vittar, do jornal argentino El Clarín, o ex-presidente Fernando Lugo falou sobre as razões que levaram ao impeachment, dizendo que seu governo também tentou mudar a política paraguaia.


 
"Tínhamos uma frase inspiradora de Pio XI que dizia que "a política é a expressão mais sublime do amor". Mas ele se referia à alta política, à genuína, não à politiqueira, a política a que estão acostumados aqui no Paraguai. Queríamos romper com isso", disse.


Ele ainda afirma que a religião não deve ser dissociada da política, embora a Igreja "tenha errado muitas vezes na identificação com projetos políticos passageiros."


Juízo político por não dar cargos


Questionado sobre a formulação do juízo político que o depôs, Lugo disse que os cinco fundamentos da acusação não eram argumentos o bastante para para destituí-lo e que o impeachment ocorreu porque ele não atendeu aos pedidos de cargos dos partidos políticos.


"Aqui estão acostumados a ter uma atitude de patrocínio. Nós queríamos quebrar essa ordem e fazer políticas sociais, e isso incomodou", disse, referindo-se ao PLRA, o partido liberal.


 
"Eu poderia fazer uma aliança com eles (PLRA), mas o preço seria muito alto. O que os partidos políticos querem? Eles querem postos e eu disse 'não', o Estado não é uma torta que se reparte, é preciso merecer o posto. Tínhamos outra visão de como conceber a política. Então, quando os convidados são muitos e a comida é pouca, sem dúvida há descontentes. E houve grande descontentamento na classe política tradicional", diz.

 
Lugo diz que sua administração tocou interesses ao mesmo tempo, indicando que as partes discutem sobre quem quer ocupar cargos e receber salário e não para projetos ou programas para o país.

"Meu maior erro foi confiar demais em políticos tradicionais. Confiar demais e acreditar demais. É como acontece na Igreja: vem um assassino ou um ladrão e diz que é inocente, e nós acreditamos nele. Acho que confiei e acreditei demais na classe política. Mas eu confiei porque fui muito respeitoso com os outros poderes, tanto o legislativo quanto o judiciário. Poderia fazer acordos, mas depois cobram um preço muito alto e eu não queria pagar", disse.


Promessas não cumpridas


Quanto à falta de cumprimento das suas promessas, ele se concentrou em questões de terra, culpando o sistema judiciário.


 
"Nós temos arquivadas mais de 100 ações judiciais para recuperar terras ilícitas (...) Mas não é um tema que dependa do Executivo, mas do Judiciário, esses registros estão concentrados em escritórios da Justiça", observou.


Paternidade e câncer


Questionado sobre as denúncias de paternidade, ele disse que nem isso nem o câncer afetaram seu trabalho duro, que começava às 5 da manhã. "Nem a minha doença, o câncer, nem essas questões me fizeram perder um único dia do meu trabalho. Todos os dias às 5 da manhã eu estava no Palácio do Governo, doente ou bem, reconhecendo ou não reconhecendo a paternidade. Nada mudou meu ritmo de entrega, de trabalho duro para o bem deste país", disse.
Senador Lugo


 
Lugo confirmou que ele se ofereceu para correr como candidato a senador, encabeçando a lista, uma proposta que será analisada antes de decidir. Quanto candidatar-se como presidente disse que ainda não tem "uma análise jurídica clara" para saber isso é possível.

 
Sobre a sanção ao Paraguai no Mercosul, disse que os presidentes indicaram que o bloco "tem muito boa informação" e que se deve recuperar o caminho perdido.


 
Franco impopular


 
Quando o jornalista do Clarin lhe consulta sobre o que poderia dizer sobre o atual presidente, Federico Franco, Lugo respondeu que falaria de sua ambição.

"Politicamente, ele pode dizer que ele também teve os votos que eu tive. Mas nas últimas eleições internas de seu partido (Liberal) ficou em um cômodo terceiro lugar. Não tem popularidade mesmo em seu partido. Então, mal poderia ser o líder capaz de devolver a paz e tranquilidade ao país", conclui.247
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Um comentário:

Jurema Cappelletti disse...

Tadinho. Não deu cargos aos partidos! Bastaria ter conversado com o Lula e saberia o que fazer! Teria um grande professor do método "me dá que te dô"