EDUARDO GUIMARÃES
O fato, porém, é que a maioria não consegue avaliar o viés do noticiário simplesmente porque não lhe dá bola – não lê, não assiste e, quando lê ou assiste, não acredita
Se você tivesse que formar sua opinião sobre o governo Dilma Rousseff através do que fica sabendo pela grande mídia, as informações que ela lhe deu sobre o Brasil ao longo dos primeiros três meses deste ano o induziriam a pensar que o país está no fundo do poço.
Afinal, só para ficarmos em 2013 podemos nos lembrar de que a dita “grande imprensa”, entre o muito de desolador que divulgou, “noticiou” que:
1 – O país estaria às portas de um racionamento de energia elétrica.
2 – Durante o governo Dilma a economia cresceu de forma medíocre, com “pibinho”.
3 – O governo não irá conseguir preparar o país para a Copa do Mundo do ano que vem.
4 – A inflação estaria fora de controle e prestes a explodir.
5 – Lula e Dilma “afundaram” a Petrobrás.
(…)
Por certo, leitor, você deve se lembrar de outras desgraças que a mídia diz que estariam prestes a se abater sobre o Brasil ou que já teriam se abatido. Vale a pena, inclusive, você dar a sua contribuição para a lista de desgraças anunciadas por essa mídia.
Diante da artilharia midiática contra os três governos petistas que o Brasil vem assistindo desde 2003, portanto, a cada pesquisa sobre a popularidade de Lula, antes, ou sobre a de Dilma, agora, causa surpresa que a popularidade deles nunca tenha caído.
Não foi diferente com a pesquisa CNI-Ibope publicada na última terça-feira; a aprovação pessoal de Dilma bateu novo recorde (79%) e a de seu governo, idem (63%).
A explicação mais óbvia é a de que os brasileiros não dão crédito ao que dizem grandes jornais, revistas, telejornais e portais de internet, sobretudo os ligados às famílias Marinho, Frias, Civita e Mesquita.
Todavia, colunistas e comentaristas desses veículos encontraram outra explicação após a divulgação da pesquisa Ibope em tela. Segundo eles, a presidente Dilma deve sua popularidade recorde à mídia que, dia após dia, trata de dizer sobre seu governo tudo o que enumerei acima.
O colunista e blogueiro de O Globo Ricardo Noblat, por exemplo, é um desses caras-de-pau. Confira abaixo, perplexo leitor.
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Por Ricardo Noblat
A imprensa golpista – ou seja: aquela que critica o governo e por isso vive na mira do PT – está falhando gravemente.
Divulgada há pouco, a pesquisa Ibope informa: a população avaliou que o noticiário está mais favorável ao governo do que na pesquisa anterior.
Para 38% dos entrevistados, as notícias são mais positivas para Dilma – em dezembro, eram 24%.
Para 34%, o noticiário nem lhe é favorável nem desfavorável – praticamente o mesmo percentual do levantamento anterior, quando 35% tinham essa percepção.
A pesquisa foi feita entre os dias 8 e 11 deste mês. Foram ouvidos 2.002 eleitores, em 143 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
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Apesar da artilharia incessante, dos insultos – um colunista da Veja chama Dilma de “neurônio solitário” – e das mistificações e invenções como a do “racionamento” iminente, o colunista de O Globo se vale de uma percepção popular que a pesquisa expressou para negar o que ele mesmo publica “de baciada” diariamente.
O fato, porém, é que a maioria não consegue avaliar o viés do noticiário simplesmente porque não lhe dá bola – não lê, não assiste e, quando lê ou assiste, não acredita.
Noblat só tem razão em um ponto: “A imprensa golpista está falhando gravemente” em sua cruzada interminável para convencer os brasileiros de que o país é mal governado.
Esse, aliás, é o diagnóstico de outro colunista do Partido da Imprensa Golpista (PIG), agora da Folha de São Paulo.
Fernando Rodrigues, em coluna publicada ontem na Folha, atribui à oposição a artilharia anti governista, como se o seu jornal e seus congêneres antipetistas não endossassem os ataques oposicionistas em colunas, editoriais, “reportagens” etc.
Abaixo, o diagnóstico mais comedido, porém igualmente cara-de-pau, do colunista da Folha.
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Fernando Rodrigues
BRASÍLIA – No terceiro dia de Itália, Dilma Rousseff finalmente conseguiu 24 segundos cumprimentando o papa Francisco. Garantiu presença nos telejornais. Hoje, terá uma reunião mais longa com o pontífice. E tome mídia espontânea a favor.
Enquanto isso, no Brasil, saiu uma pesquisa Ibope sobre a popularidade da administração da presidente.
Em dezembro, 62% achavam o governo da petista “bom” ou “ótimo”. Agora, a taxa é de 63%. No Nordeste, a avaliação deu um salto expressivo, acima da margem de erro: de 80% para 85% de aprovação.
Múltiplos fatores sustentam a alta popularidade de Dilma. Embora óbvio, não custa repetir um dos principais: o nível de desemprego continua em patamar histórico muito baixo.
Mas a pesquisa Ibope revela algumas curiosidades menos evidentes. Por exemplo, 20% dos brasileiros acham o governo Dilma melhor do que o de Lula.
Esse percentual nunca foi tão alto e, pela primeira vez, é superior aos 18% que acham a administração Dilma inferior à de Lula. É a criatura aos poucos superando o criador.
Outro dado chama a atenção: a percepção das pessoas sobre o noticiário a respeito do governo Dilma. Pela primeira vez desde o início do mandato da petista, há mais brasileiros achando que a abordagem é mais positiva (38%) do que neutra (34%) ou negativa (11%).
A oposição dirá que os entrevistados são influenciados pela recente avalanche de propaganda do governo. Brasil sem Miséria e remédios de graça são duas campanhas que martelam a cabeça dos brasileiros na TV no momento.
Pode ser. Mas os três pré-candidatos a presidente de oposição -Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede)- têm recebido espaço farto para atacar a gestão Dilma na mídia. Em vão. O discurso não sensibilizou os eleitores. A estratégia anti-Dilma parece ainda bem descalibrada.
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Que a estratégia da oposição está “descalibrada”, não é novidade e não é de hoje. Está assim há dez anos – desde 1º de janeiro de 2003. Até por isso é que essa oposição perdeu as três últimas eleições presidenciais e vem se desidratando no Congresso.
Todavia, seria pedir demais que esses colunistas caras-de-pau reconhecessem que, por mais que seus patrões tentassem e tentem, não conseguiram e não conseguem desmoralizar nem Lula, nem Dilma? Um pouco de honestidade os ajudaria a não se desmoralizarem tanto.
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