Sim, não se espante. Você leu direito. Está correto e justificado o suposto absurdo. Meu brado "retumbante" agora é "Barbosa para presidente!". Mas poderia ser também "Sheherazade presidente!". Para concorrer com a Dilma. Duas mulheres disputando a Presidência. Já pensou? Talvez lhe coubesse melhor o cargo de ministra da comunicação de certo candidato. Mas por que não um afrodescendente, de família humilde, que conseguiu galgar cargos importantes no seio do serviço público, até chegar a presidente da Suprema Corte e, por fim, a presidente da República!
Não parece uma boa ideia?
Ou, talvez, que tal: Datena para presidente?!
Ou, quem sabe: Marcelo Rezende para governador?!
Silvio Santos para governador! Ou para presidente?!
Pilhérias, absurdos e ironias à parte, não que, sejamos honestos, a culpa pelos diversos linchamentos e atos de barbárie e extrema violência deva ser debitada exclusivamente na conta desses citados apresentadores de telejornais, que, faça-se o devido registro, chegam a ganhar verdadeiras fortunas por mês, com salários que orbitam a casa das centenas de milhares de reais – um ou outro chega a se locomover em carros blindados, pagos pelas emissoras para as quais trabalham. Afinal, para falar "barbarismos" e "barbaridades", carece mesmo de certa blindagem, digamos assim.
Não se trata disso. Esta é, diga-se, uma falsa questão. Pois estes apenas escancaram e trazem à tona o chamado "mundo cão" – que, afinal, não se pode esconder, mas tampouco "espetacularizar". Decerto, faturam com isso. E faturam alto, como se sabe. Transformando em [triste] espetáculo a desgraça alheia. Pode-se até discutir a qualidade e o tom do jornalismo que eles praticam. Mas...
Mas vocês duvidariam que, caso saíssem candidatos a um cargo eletivo qualquer – deputado federal, por exemplo, ou mesmo prefeito – por um desses partidos mais conservadores e "de negócios", que pululam por aí, teriam uma votação estrondosa, retumbante? Não nos esqueçamos do "fenômeno" Celso Russomanno, que, eleito deputado, com expressiva votação, por pouco não se elegeu prefeito da cidade de São Paulo (manteve uma acachapante dianteira nas pesquisas eleitorais por bastante tempo) – e, depois disso, só não saiu candidato a governador não se sabe exatamente ao certo o motivo. Pode ter apenas negociado um momento mais oportuno e assim postergado o seu futuro como governante – seja como prefeito ou governador. Lembro aqui também o caso emblemático do apresentador Raimundo Varela, na Bahia. E devem ser inúmeros os casos país afora – ou adentro.
Alguns desses "jornalistas" pregam, no calor dos seus humores e de suas "espetaculares" performances – de modo inconsequente, diga-se – a pena de morte e a Lei de Talião: o negócio é "olho por olho, dente por dente". Costumam em seus programas, como que "brincando", esculachar no ar colegas de trabalho, criminosos e até meros suspeitos, pois, aprenderam, o povo, que é avacalhado/esculhambado todos os dias, seja pelos seus patrões em seus trabalhos ordinários, seja pelos governantes em ônibus lotados, hospitais públicos em ruínas e escolas que não servem para educar ninguém, esse mesmo povo, por sua vez, sente-se redimido/vingado ao ver o outro achincalhado na TV.
Mas, reitero, a culpa pela violência que ora "mercantilizam" não é deles, é dos governantes; é de certos políticos de estrato mais conservador, assim como os citados apresentadores, que transformaram a política em um negócio de máfias e mafiosos, e não exatamente numa forma de se prover o bem comum. Ou seja: deturparam completamente o conceito e o sentido da política e da justiça. Sem falar, por suposto, no conceito de jornalismo, barbaramente espancado e violentado todos os dias.
A culpa também cabe, certamente, aos grandes veículos de comunicação, que, de modo irresponsável, movidos pela disputa da audiência a qualquer custo, priorizam programas dessa natureza na grade e pagam salários milionários a "jornalistas" (muitos destes inconsequentes e despreparados) que enaltecem "justiceiros" e "justiçamentos" à luz do dia e no horário nobre da TV aberta; que celebram Joaquim Barbosa como uma espécie de "messias" ou de herói vingador/redentor.
Nossos ídolos têm pés de barro.
Imaginem se Joaquim Barbosa – ou qualquer outra subcelebridade de ocasião – deixa-se levar pela vaidade e pela vacuidade (dos dias e das instituições) e resolve candidatar-se à Presidência da República?
Se dependêssemos da vontade de veículos como a Globo e a revista Veja, Barbosa já poderia se considerar eleito. Mas estaria o ministro Barbosa de fato preparado para exercer a Presidência da República? Caberia questionar. Ele tem vocação, trajetória política, cacife e o equilíbrio para tanto? Certamente que não! A sua sanha persecutória aos réus da AP 470 indicam nitidamente que não.
O caminho promissor do Brasil não deve ser o de linchamentos e assassinatos "rotineiros", seja nas periferias de Salvador, Recife e São Paulo, ou na zona sul da cidade maravilhosa. Tampouco devemos trilhar os descaminhos dos fáceis e tentadores atalhos na direção do reinado das "subcelebridades" e dos falsos profetas (e pastores).
O caminho do Brasil não deve ser o da intolerância e o do arbítrio de magistrados e jornalistas que se travestem de carrascos e/ou vestais de araque, ou de santos de prostíbulo.
O que o Brasil precisa é, sem demagogia ou arbítrio, mas com responsabilidade, de mais educação, melhores salários e moradias dignas para a sua população pobre, desassistida e marginalizada.
O país carece de Justiça.
O Brasil precisa, indubitavelmente, de uma presença maior do Estado na sociedade – embora alguns arautos da falsa modernidade se empenhem em arruinar o Estado.
Precisa de uma imprensa que sirva aos interesses dos cidadãos, e não apenas aos interesses de certos grupos políticos e empresariais.
O Brasil precisa de mais humanismo e mais democracia.
É isso que precisamos ensinar às nossas crianças e ao nosso povo.
E também, decerto, a certos jornalistas e magistrados.
Lula Miranda
Poeta, cronista e economista. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa e Fazendo Média
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