247 – Na entrevista coletiva em que apresentou ao
mundo as vísceras da corrupção na Fifa, o Departamento de Justiça dos
Estados Unidos mostrou, didaticamente, o que pode ser chamado de
fluxograma da propina, que, se as investigações avançarem no Brasil,
pode atingir em cheio as Organizações Globo, da família Marinho.
O esquema é de fácil compreensão e trata-se basicamente de uma reação
de corrupção em cadeia: os organizadores de um evento de futebol, seja a
própria Fifa, ou as confederações dos continentes, regionais ou até
nacionais, como a CBF, são quem primeiro detêm os direitos de
transmissão e marketing dos eventos. Para comprar esses direitos,
empresas de Marketing Esportivo, como a Traffic Group, do brasileiro
José Hawilla, pagavam milhões às confederações, e outros milhões de
dólares em propina para os dirigentes das entidades.
De acordo com o esquema desenhado pelo governo americano, as empresas
de marketing esportivo, de posse dos direitos de transmissão de
campeonatos importantes, como a Copa do Mundo, Libertadores, Copa
América ou até a Copa do Brasil, revendia-os aos grupos de comunicação e
patrocinadores, que também pagavam propina às empresas para fecharem os
contratos.
Não é novidade para os brasileiros que as Organizações Globo detêm há
décadas o monopólio na transmissão de eventos internacionais de
futebol. Só da Copa do Mundo, a parceria com a Fifa vem desde o mundial
de 1970. Todos os campeonatos em que foi identificado pelo FBI o
pagamento e recebimento de propina, a emissora da família Marinho é a
transmissora oficial no Brasil (leia aqui reportagem do 247 sobre o assunto).
Segundo a secretária de Justiça dos EUA, Loreta Lynch, a corrupção em
jogos comandados pela Fifa e suas confederações subalternas existe de
forma "sistêmica e desenfreada" há pelo menos 24 anos.
Se a Globo é dona soberana dos direitos de transmissão no Brasil dos
principais eventos mundiais do futebol desde os anos 70, e mantém
relações empresariais com o pivô do escândalo, o brasileiro J. Hawilla,
dono da maior afiliada da emissora, a TV TEM, e réu confesso de crimes
de extorsão, fraude eletrônica e lavagem de dinheiro, fica difícil
acreditar no editorial do "Jornal da Globo" de quarta-feira 27 de que
"não pesam acusações ou suspeitas sobre as empresas de mídia de todo o
mundo que compraram desses intermediários os direitos de transmissão".
O que você, leitor, acha?
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