Partido teve papel destacado na
manobra de Cunha por dinheiro empresarial. Experiências de corrupção não
investigadas e blindagem da mídia deixam tucanos à vontade com mazelas
da política
por Helena Sthephanowitz, para a Rede Brasil Atual
Aécio, Alckmin, Serra, Azeredo, Bruno Covas, Matarazzo, Perillo, FHC. Blindagens e impunidades
A emenda constitucional que pretende legalizar o
financiamento empresarial de campanha ganhou o apelido de "PEC da
Corrupção", porque quase toda a sociedade civil organizada vê no
financiamento eleitoral por bancos, empreiteiras, planos de saúde etc. a
raiz da corrupção na política. Na terça-feira (26), o tema foi levado à
votação na Câmara dos Deputados e rejeitado pelo plenário. Contou com
264 votos favoráveis, o que é muito, mas insuficiente para aprovar uma
mudança constitucional que exige no mínimo 308 votos.
Na quarta-feira, em golpe regimental que rompeu acordos do dia
anterior, o mesmo tema foi colocado em votação novamente. A desculpa foi
de que na terça teria sido rejeitado o financiamento empresarial para
candidatos, faltando votar o financiamento empresarial para partidos,
sabendo que na prática não faz diferença. Apesar dos protestos,
sobretudo do PT e PCdoB, a emenda do deputado Celso Russomanno (PRB-SP)
foi aprovada com 330 votos. Russomanno provavelmente contará com
contribuições do empresariado para disputar a eleição para a prefeitura
de São Paulo no ano que vem.
A PEC precisa ainda passar por mais um turno de votação na Câmara.
Depois, falta o Senado votar, também em dois turnos, mas pelo andar da
carruagem só pressão social muito grande poderá reverter o financiamento
empresarial.
O que chamou atenção foi toda a bancada do PSDB, exceto duas
abstenções na terça e um único voto contrário na quarta, votarem a favor
da PEC da Corrupção.
Não faltam escândalos de corrupção atingindo o tucanato relacionados a
financiamento de campanha. Vejamos: o mensalão tucano na campanha do
ex-governador Eduardo Azeredo (PMDB-MG); o caso do bicheiro Cachoeira
atingiu o governo de Marconi Perillo em Goiás; a Lista de Furnas. onde
aparecia o nome de praticamente todos os caciques tucanos; a própria
operação Lava Jato, que cita o ex-presidente do partido Sérgio Guerra; o
cartel dos trens em São Paulo; o aeroporto construído com dinheiro
público em terras da família de Aécio Neves em Minas.
Isso para não voltarmos mais longe no tempo e recordarmos os
escândalos da Pasta Rosa, do Banestado, da Privataria Tucana, da
Operação Castelo de Areia e tantos outros. E tudo devidamente acobertado
pela nossa mídia tradicional.
Todas essas más experiências recomendaria aos tucanos buscarem pelo
menos corrigir erros do passado daqui para frente e lutarem contra o
financiamento empresarial para reduzir a corrupção no sistema político e
elevar a qualidade da representação popular. Por isso chega a ser
surpreendente toda a bancada do PSDB persistir no erro. Chega a ser uma
afronta à população que clama por um sistema político mais saudável,
mais republicano, mais voltado para atender ao interesse da cidadania.
Só a impunidade de que sempre gozaram os tucanos explica essa
afronta. Alguns escândalos nem sequer foram investigados, outros foram
engavetados, outros caminham para a prescrição. Se Eduardo Azeredo
tivesse sido julgado, se a Lista de Furnas já tivesse pelo menos sido
investigada, se as centenas de denúncias no governo FHC não tivessem
sido engavetadas, se as dezenas de CPIs durante os governos tucanos
paulistas tivessem sido abertas, será que eles insistiriam em manter a
promiscuidade entre o público e o privado que o financiamento
empresarial de campanhas provoca?
O oligopólio dos meios de comunicação, que sempre blindou os tucanos
de maiores desgastes no noticiário e que influencia parte do Judiciário,
prejudica o próprio PSDB. Leva o tucanato à arrogância de se achar
inimputável e persistir nos erros e vícios de eleições passadas, e de
não querer "largar o osso" do dinheiro de bancos, empreiteiras, planos
de saúde que abastecem campanhas.
Setores do Ministério Público, tanto federal como estaduais, também
prestaram um desserviço quando engavetaram investigações graves que
deveriam ser feitas. E até hoje dão menor atenção em muitos casos quando
os suspeitos são tucanos. A impunidade deseduca e leva quem não tem
escrúpulos a avaliar que o crime compensa. E levou à arrogância do PSDB
de votar a favor da PEC da Corrupção sem a menor cerimônia, contra toda a
sociedade organizada que luta por uma reforma política que combata as
causas da corrupção pela raiz do financiamento empresarial.
Voto vencido na terça-feira, o líder da minoria, o deputado tucano
Bruno Araújo (PSDB-PE) persistiu no erro e se aliou ao presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para colocar o tema em votação
novamente.
Araújo usou um argumento que beira o cinismo. “Vários deputados
disseram que votaram contra porque a emenda autorizava a doação de
pessoa física”, disse. Ora, todo mundo sabe que quase não há resistência
à doação de pessoas físicas, impondo limites. O que está em questão é
doação de empresas.
Araújo passou a quarta-feira fazendo acordos para garantir mais votos
necessários à aprovação ao financiamento de empresas aos partidos. “As
brigas ficaram para trás. Todos estão se mobilizando para garantir os
308 votos para a aprovação do texto do relator. Porque, caso contrário,
vamos ampliar o caixa 2”, disse. Como se vê, o tucano está tão mal
acostumado à impunidade que admite com uma naturalidade impressionante o
cometimento de um crime.
Na derradeira votação de quarta-feira, só cinco partidos votaram
contra a PEC da Corrupção: PT, PCdoB, PDT (exceto dois deputados), Psol e
PPS. Votaram a favor o PMDB, PSDB, PP, PSD, DEM, PTB, PR, PRB,
Solidariedade, PSC, PHS, PEN, PTN, PMN, PRP, PSDC, PRTB, PTC, PSL,
PTdoB. Ficaram em cima do muro o PSB e o PROS, que liberaram a bancada.
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