Estou a ver televisão, quando é anunciado o programa político do
Partido dos Trabalhadores. De repente, alguns vizinhos do prédio onde
moro e dos edifícios circunvizinhos começam a bater em panelas,
frigideiras, fôrmas, caçarolas e tambores. Sim... Tambores? Afinal,
trata-se da tribo dos coxinhas paneleiros, que remonta, por intermédio
do som de um batuque mequetrefe e desprovido de ritmo e harmonia, as
origens e os sentimentos mais antigos da humanidade — os mais ferozes e
inconfessáveis.
Reacionários e rancorosos em crise de identidade, porque portadores
de uma depressão psicossocial sem precedentes, os coxinhas paneleiros,
moradores dos bairros de classe média, média alta e ricos nunca passaram
fome na vida e, ignorantes, não percebem o quão ridículo é bater em
panelas, um símbolo de protesto dos povos latino-americanos reprimidos
pelas ditaduras ou pelos pobres, que ocupavam as praças, a realizar os
"panelaços", porque realmente sentiam fome. Uma fome generalizada até os
idos da década de 1990, quando a América do Sul, por exemplo, foi
varrida em sua dignidade por causa de presidentes ou mandatários
neoliberais que conquistaram o poder e "ferraram" com seus povos e
países, a exemplo de FHC — o Neoliberal I.
Agora e neste momento, os coxinhas batuqueiros de panelas estão a
demonstrar uma profunda depressão cívica, que contamina seus humores e
cérebros, que não conseguem ao menos debater o País e perceber,
inclusive, que suas vidas melhoraram de forma real, na prática e no dia a
dia. Porém, a vitória de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves causou um
pânico e inconformismo a essa gente fútil e deslumbrada, que sonha em
ter ascensão social para frequentar a classe A. Este é o sonho "dourado"
de nove entre dez coxinhas ritmistas de panelas de marca e que reluzem
como as luzes da ribalta de suas lindas salas refrigeradas e repletas de
quadros, abajures e candelabros.
Trata-se da depressão da "coxada", que se sente profundamente traída
pelos governos petistas por ver empregados braçais, gente de origem
humilde e trabalhadores em geral a ocupar os espaços públicos e alguns
privados até então destinados "somente" para a pequena burguesia de
temperamento feroz e intolerante, ao ponto de mandar a educação às
favas, além de xingar e vociferar contra tudo e todos, com palavrões e
palavras ríspidas as pessoas que não compartilham com suas concepções
políticas e ideológicas notadamente ridículas, pueris, sectárias,
provincianas, racistas, que formam o conjunto de seus preconceitos e
violências.
Lamentável é a ignorância social e histórica dessa gente de alma
pequena, mas mesquinhez e insensatez gigantescas, bem como se apresenta
em forma de desfaçatez e infâmia o analfabetismo político desse grupo
social aliado dos interesses dos ricos e dos muito ricos. Coxinhas
paneleiros encolerizados, donos de bons empregos, que viajam e compram o
que desejam, passam a bramar e a esbravejar com a barriga cheia de
comida e bebida, mas os cérebros vazios de ideias, de conhecimento, de
generosidade e sensatez. Trata-se do dantesco em toda a plenitude de sua
estupidez.
Enquanto isto, a imprensa burguesa, leviana e venal, fonte de
informação preferida dos coxinhas paneleiros que conhecem Miami e
desconhecem as realidades do Brasil e de seu povo, fica a cantar loas e
boas a um panelaço promovido por burgueses e pequeno burgueses, nos
melhores bairros das capitais do País, como se fosse um protesto do povo
brasileiro, que votou em Dilma e não em Aécio Neves, candidato da
direita, das oligarquias e dos coxinhas paneleiros de classe média, que
jamais vão ser ricos e, consequentemente, não frequentarão os saraus, a
comezaina, os regabofes e a papança dos ricos e dos muito ricos. É
melhor os pais coxinhas avisarem seus filhos coxinhas sobre esta dura,
porém, verdadeira realidade. Coitados...
A verdade é a seguinte: os coxinhas paneleiros de péssimo ritmo e
harmonia estão cagando e andando para a corrupção e para "tudo o que
está aí". Se estivessem, eles iriam bater tanto nas panelas, que não
sobrariam mais tão importantes objetos no mercado consumidor. Afinal, e
imaginem, se tais coxinhas revoltados resolvessem ter, enfim, uma pauta
séria de reivindicações e exigissem à base da porrada em panelas a
investigação, a denúncia, a acusação, o julgamento e a prisão de todos
os corruptos, inclusive da oposição, leia-se PSDB, DEM, PPS(PSB), PRO,
SD etc., além de empresários de outros setores da economia, que não
sejam apenas da construção civil, a exemplo dos magnatas bilionários de
imprensa, que estão nas listas dos escândalos HSBC e Zelotes.
Imagine os coxinhas paneleiros de janelas e varandas, seres
humanos(?) completamente despolitizados e que viajam todo o dia na
maionese, exigir com porradas em panelas, que antes estavam abarrotadas
de comida boa e saborosa, a prisão dos responsáveis pelos roubos da
Lista de Furnas, do Banestado, do Trensalão, do Metrozão, do maior roubo
do mundo: a Privataria Tucana, do Mensalão Tucano, da sonegação da Rede
Globo referente à Copa do Mundo de 2002, dentre inúmeros casos,
acusações e denúncias, que a PGR, o MP, o STF, a Receita, a PF
resolveram congelar. Só não me perguntem se essas instituições fazem
política ou se aliaram à oposição aos Governos do PT. O que você acha,
cara pálida?
Então, se já imaginou, imagine também se os coxinhas paneleiros,
cujas "revoltas" são, sobretudo, seletivas, resolvessem acabar com os
fundos de suas panelas porque estão "putos" da vida com a Lei da
Terceirização, que prejudica a classe trabalhadora, com os aeroportos
construídos em fazendas de parentes de Aécio Neves, com o massacre dos
professores do Paraná, com a falta de água e de planejamento do governo
de São Paulo, à frente o governador tucano Geraldo Alckmin, ou com a
dengue que infestou o estado bandeirante, o mais industrializado do
País, cujo povo está a ser comido por mosquitos, que lhes dão em troca
dor e febre.
Não. De forma alguma. E a reforma política? Os coxinhas berram por
ela nas ruas, mesmo sabendo que o financiamento privado de campanhas é o
maior responsável pela corrupção, como informa, inapelavelmente, o
noticiário sobre os escândalos? A resposta é um sonoro não! Os coxinhas
paneleiros são reacionários e amargurados, quiçá, violentos. Apostam no
atraso e no retrocesso e só faltam gritar, a pleno pulmões, "Mamãe, eu
quero o meu Brasil sectário e elitista de volta!", para logo
complementar: "Eu quero a minha universidade pública, o meu bairro, o
meu aeroporto e aviões, o meu shopping, o meu cinema, bar e restaurante,
a minha loja de eletroeletrônicos e de carros de volta, porque somente
eu e os meus podem usufruir das coisas boas da vida!"
Por fim, o revoltado coxinha paneleiro e seletivo dá um altissonante
rugido: "Eu não quero — acredite, é sincero e pra valer o preconceito
enraizado e a hipocrisia que sinto — ver a minha empregada doméstica, o
meu mecânico e o meu porteiro em Paris, Miami, Londres e Nova York.
Tudo, menos isto. Do contrário, prefiro a morte!" E assim segue o
Brasil, que, em 2018, vai realizar outra eleição presidencial. Os
coxinhas das "revoltas" seletivas ainda vão bater muito em suas panelas
chiques e de grife. O melhor a fazer é entrar em uma escola de samba ou
bloco carnavalesco e treinar a batucada. Ou usar as panelas para
cozinhar. É isso aí.
Davis Sena Filho é editor do blog Palavra Livre
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