Por Renato Rovai
- Um momento emblemático da política brasileira aconteceu no dia de
ontem. Em um restaurante em São Paulo, um advogado toca em uma taça para
chama a atenção das pessoas que estão no local para, em seguida,
iniciar um "discurso" breve:
"Temos a ilustre presença do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha,
que nos brindou com o programa Mais Médicos, da presidente Dilma
Rousseff, responsável por gastos de R$ 1 bilhão que nós todos otários
pagamos até hoje. Uma salva de palmas para o ministro."
Padilha ainda tenta rebater dizendo que são 63 milhões de pessoas
atendidas, mas os aplausos da mesa onde estava Amaral – aparentemente a
única que dá alguma ressonância ao "discurso" do empresário e onde está a
pessoa que filma a cena pelo celular – simplesmente sufoca qualquer
tentativa de diálogo ou debate.
Danilo Amaral foi vice-presidente de Relações Institucionais da BRA,
companhia que chegou a ocupar espaço generoso no mercado aéreo
brasileiro mas que afundou em 2007. Tornou-se presidente da empresa em
abril de 2009, após participar de sua recuperação judicial, e tinha
planos otimistas, como revela essa reportagem da IstoÉ Dinheiro. "A BRA
será uma empresa menor mas totalmente sustentável", dizia à época. O
resultado, todos sabemos. Pouco mais de três meses depois ele se
desligou da BRA.
Provavelmente Danilo sabe, por exemplo, que o gasto com o Mais
Médicos foi, em 2014, treze vezes menor que as despesas com juros no
Brasil. Mas talvez pra ele isso não seja importante. Até porque atua no
mercado empresarial-financeiro, sendo sócio da Trindade Investimentos
que, segundo esta matéria, tem como dois focos principais de
investimentos as startups de tecnologia ou "em empresas que necessitem
urgentemente de recursos". Um benemérito, talvez.
Em seu perfil no Facebook, porém, pode-se perceber não só sua
orientação política como sua visão de Brasil. Tece elogios a Kim
Kataguiri, "o verdadeiro herói da juventude nacional", segundo ele.
Compartilha postagens do Movimento Brasil Livre, posta uma foto com cara
de raiva segurando a edição de Época que publicou reportagem mentirosa
sobre Lula.
Faz também uma avaliação intelectualizada sobre o que pensa do país
em uma postagem sobre a venda de ingressos para as Olimpíadas de 2016.
"O site de ingressos da Rio 2016 é a prova eletrônica de que vivemos num
país de mentecaptos de um governo socialista de analfabetos. Estamos na
lama intelectual da humanidade. Mas, segundo os sociólogos, temos a
virtude da cordialidade. Ah, então beleza, tudo certo...". Brilhante,
não?
Porém, uma imagem reveladora é a foto que posta junto com o outrora
comunista Roberto Freire. Na legenda: "Eu, Roberto Freire e Hayek na
camisa. Nunca o grande Roberto Freire esteve tão perto dos liberais...".
Não só próximo dos liberais, mas nunca a classe política namorou tão de perto o ódio de classes travestido de crítica política.
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