terça-feira, 27 de abril de 2010

Murilo Ferreira: O período errático dos tucanos no poder


Rubens Ricúpero publicou um artigo no jornal Folha de São Paulo, no dia 25 de abril, dizendo que o Brasil teve cerca de 32% do PIB per capita dos Estados Unidos em 1980 e em 2006 alcançou apenas 21,1%.

Compara esses dados com os asiáticos como Hong Kong que no mesmo ano era de 90%, em Cingapura, de 81%, e na Coreia do Sul, de 51%. Sugere que o sucesso dos asiáticos vem se dando de forma constante e sem interrupções, como há 20, 30, 40 anos atrás. Diz ainda que “os colapsos de produção têm sido mais frequentes na América Latina, enquanto os episódios de expansão são mais curtos e débeis” ... e, se pergunta: “Terão mudado as razões da constância asiática e da nossa errática trajetória? ”. Responde que não. Mas porque essa inconstância latino-americana? Quais das duas regiões sofreram com mais intensidade os impactos das reformas neoliberais da década de 1990. Os asiáticos tiveram governos similares a FHC e Menen? Realmente a comparação merece cuidado.

Para começar Menen quebrou a Argentina e FHC quase deu o mesmo destino ao Brasil. Tem sido amplamente aceito que a América Latina foi palco privilegiado das chamadas reformas neoliberais, mas que, após um longo período de estagnação e crises profundas, em quase todo o continente optou-se por uma via alternativa de desenvolvimento com a vitória de forças oposicionistas ao modelo imposto por Washington e o FMI, que nunca tiveram tanto sucesso assim com os asiáticos.

Ricupero diz que as taxas de consumo do governo e particulares no Brasil são elevadas e que a proporção do investimento no PIB é baixa. Contrapõe ao Brasil a China, onde, segundo ele, “a porcentagem do consumo no PIB caiu de 55%, uma década atrás, para 36%, e o investimento tem uma taxa de 50% do PIB. Não diz nada da renda per capita da China que, apesar dos êxitos desta pujante economia, é muito menor que a renda per capita brasileira, cerca de metade.

Sim, a situação do Brasil gera preocupações. Os dados de 2009, quando o Brasil cresceu zero e a taxa de investimento foi de 16,7% do PIB, parecem dar-lhe razão. Contudo, o Brasil já superou a crise e podemos crescer 7% em 2010. Já no primeiro semestre a taxa anualizada foi de 8,2%, um crescimento Chinês. Com relação à taxa de investimento ela pode crescer e conforme previsão do Ministério da Fazenda ela será de 18,5 % em 2010; 19,3% em 2011; 20% em 2012; 20,9% em 2013 e 21,5% em 2014, com crescimento sustentado.

Em plena crise de 2009 o governo criou incentivos fiscais e manteve os planos de investimento. Ao contrário, em muitos setores da iniciativa privada houve redução de investimentos ou projetos foram adiados ou mesmos cancelados. Isso foi o que mais afetou a taxa de investimento. Mas como o governo Lula teve uma orientação expansiva e não contracionista, que é o dogma tucano, o Brasil a superou a crise mais rápido que a maioria das nações e voltou a crescer fortemente, embora com uma ligeira piora nas contas públicas, mas necessária.

Ricúpero talvez queira esconder o fato de que o país atingiu, com o governo Lula, uma significativa capacidade de planejamento e de cumprimento de metas, que foi perdida no período dos tucanos no poder. A decisão do crescimento passou a ser uma decisão política, de governo. Ele critica o fato do consumo no Brasil ser elevado, causando problemas como a dependência da poupança externa. Mas foi justamente a melhoria da renda do “povão” e os incentivos do governo ao consumo que foram os fatores decisivos contra a crise, isto é, a ampliação do consumo interno. Isso é incontestável. Seria melhor dar como exemplo de esbanjamento de dinheiro público o salvamento do sistema financeiro podre nos EUA.

Fato relevante mesmo foi a forma como lidamos com a maior crise/depressão dos últimos 80 anos. Saímos dela ainda com um nível maior de reservas, cerca de 240 bilhões de dólares, e somos, atualmente, referência no mundo do ponto de vista do equilíbrio das contas nacionais, do crescimento sustentável e da perspectiva que temos de nos tornamos uma nação próspera, desenvolvida, moderna e com ampla distribuição de renda e bem estar social. Mas não uma “nação errática” como sugere Rubens Ricupero. Essa carapuça serve mais ao período dos tucanos no poder.

(*) Murilo Ferreira da Silva - Diretor do SINPRO Minas e da CTB Minas


Fonte:Portal Vermelho

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