quarta-feira, 31 de agosto de 2011

NY Times mata crescimento do Nordeste

Recife (PE) - Matéria publicada pelo correspondente Alexei Barrionuevo, no The New York Times em 30/08, desinformou os norte-americanos e repetidores brasileiros nos seguintes termos:


"A geografia da violência no Brasil virou de cabeça para baixo nos últimos anos, com uma queda de 47% nos homicídios no Rio de Janeiro e em São Paulo entre 1999 e 2009, enquanto no nordeste do país os índices de assassinatos quase dobraram na última década.....O Nordeste há muito tempo é atormentado pela criminalidade, mas o aumento mostra como o boom econômico brasileiro está levando a violência relacionada às drogas - a principal causa para o flagelo dos homicídios - a migrar para outras partes do país conforme os traficantes buscam novos mercados, sobrecarregando as forças policiais".


Segundo o correspondente, "a mesma onda econômica que colocou mais dinheiro nos bolsos de milhões de brasileiros pobres, especialmente no norte do país, também estimulou mais tráfico de drogas e os crimes fatais associados a ele".


Para dizer o mínimo, trata-se de uma reportagem preguiçosa, pois o repórter, com a devida desculpa aos que merecem o nome, divulgou uma pesquisa sem confrontá-la com outros números, e concluiu muito rápido. Se ele queria, por exemplo, relacionar melhora de índices de crescimento nordestino com a criminalidade, não deveria deixar de ver o caso pernambucano. Entre os estados nordestinos, hoje, aquele que desponta com um crescimento acima da média brasileira é Pernambuco. E no entanto, os últimos números de homicídios no estado têm decrescido, de uma forma assustadora para reportagens preconcebidas: entre 2007 e 2010, no Recife houve uma queda de 37% . Na Região Metropolitana do Recife, a redução de homicídios no período foi de 30,67%.


No Ceará, que também fica no Nordeste, mas não serviu para ilustração da reportagem, o número de homicídios está em queda. Os índices apontam para redução de 16% na grande Fortaleza no período de janeiro a maio em comparação com igual intervalo de 2010. Na Região Metropolitana, o percentual de redução se aproxima de 33%. Em todo o estado, a redução foi da ordem de 17%. Na Bahia, que serviu de vitrine para suas brilhantes conclusões, o número de homicídios caiu 16% no primeiro semestre deste ano, quando comparado ao mesmo período de 2010, segundo o governo do Estado.


No entanto, o repórter se valeu de outras estatísticas. E números, sabe-se, quando manipulados servem a idéias anteriores à realidade, para usar um eufemismo. Não vem ao caso lembrar que o mencionado repórter andou espalhando há não muito tempo que a Amazônia deveria ser internacionalizada. Esqueçamos essa pequeníssima falha. Preferível lembrar que o “bom” número de homicídios no Rio e em São Paulo não significa menos mortes. Segundo o Human Rights Watch, Clique aqui.


“As polícias dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo mataram juntas um total de mais de 11.000 pessoas desde 2003. Em quase todos esses casos, a polícia relatou que as mortes teriam sido atos de legítima defesa em tiroteios com supostos criminosos. Em São Paulo esses casos são designados por ‘resistência seguida de morte’ e no Rio conhecidos como ‘autos de resistência’. No entanto, uma análise detalhada dos autos, das declarações de autoridades e dados estatísticos sugere de forma contundente que uma parte significativa desses casos são na realidade execuções extrajudiciais”.


Mas para que investigar, comparar, ver, estudar, medir, se o correspondente procura o avesso que sirva à sua pauta, aos olhos e ouvidos que ele dirige para uma nova realidade política? Ainda assim, olhando o filtro esperto do preguiçoso repórter, é bom perguntar: qual a relação científica entre número de homicídios e crescimento econômico? Notem que tal relação é furada até para espelhar o numero de assassinatos que o governo dos Estados Unidos tem feito e causado no mundo.


A reportagem do senhor Alexei Barrionuevo, enfim, estava escrita antes até de ele vir para o Brasil. O New York Times tem escolhido bem seus correspondentes, ou representantes. Para eles, se há crescimento em razão de políticas voltadas para os excluídos, em linha oposta aos interesses de Washington, somente pode dar nisto: As Prosperity Rises in Brazil’s Northeast, So Does Drug Violence


O que em bom português quer dizer: não é bom que o Nordeste cresça. Para manter a paz, melhor matar o crescimento.


Urariano Neto, Direto da Redação

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