O modelo abaixo do Equador
28/11/2008
Daniel Pinheiro
"É impossível imaginar uma estratégia de negócios nestes tempos de crise que não contemple usar a tecnologia da informação (TI) de maneira melhor e mais barata para diminuir custos na administração, no controle e na segurança de cada empresa". Assim John Swainson, presidente-executivo da CA, empresa norte-americana líder mundial de mercado na área de software para gestão de tecnologia da informação, abriu a convenção mundial da companhia em Las Vegas, onde reuniram-se 6 mil profissionais de tecnologia entre os dias 16 e 20 de outubro.
"E é isso que a CA pode oferecer nestes tempos de crise. E digo isso mesmo sabendo que alguns dos nossos maiores clientes são bancos e seguradoras, empresas que em última instância causaram toda essa crise. Mas você consegue imaginar um banco ou uma seguradora que não faz uso maciço da tecnologia da informação? Eles simplesmente não existem sem TI, e cada vez mais têm de administrar melhor o dinheiro que gastam nessas operações. É daí que vem o meu otimismo."
Durante entrevista concedida a jornalistas da América Latina, Swainson foi bombardeado por todos os lados com questões sobre a crise, em especial relacionadas ao que poderia acontecer nos países da região. Sorrindo muito e pedindo desculpas antecipadas pela falta de precisão das respostas --"eu não sou um economista"--, o executivo nascido no Canadá fez uma breve análise sobre as perspectivas das principais nações latino-americanas. Chegou a dizer que não se pronunciaria sobre a Argentina, por acreditar se tratar da “alçada do FMI”, mas que precisará receber injeção de recursos do fundo mundial para sobreviver à tormenta. E foi enfático quando falou sobre o Brasil.
"É de longe o país mais preparado para a crise. Tem muitos recursos naturais, produz commodities que o mundo inteiro precisa e se aproveita dos benefícios de dez anos de boas práticas econômicas, com uma boa quantidade de reservas e com fôlego para passar por esse período de turbulência", explicou Swainson. "É como a posição da CA e isso nos faz pensar no atual momento como uma oportunidade, um momento de emergirmos uma empresa mais forte e consolidada. É claro que ninguém aqui vai rasgar a lei da gravidade, não sou louco a ponto de dizer que essa crise não vai nos afetar, porque vai. Mas estamos em um bom momento, temos um bilhão de dólares disponível em caixa e podemos usar esse dinheiro para adquirir outras companhias, consolidar nossa posição, fazer investimentos em pesquisa e desenvolvimento."
A justificativa do empresário para tanto otimismo é a crença na inevitabilidade da tecnologia no ambiente corporativo. Segundo ele, as empresas não podem evitar o uso da TI no dia-a-dia. A realidade pode não ser tão simples, mas conversas com executivos da empresa revelam indícios de que o caminho é esse. No caso da CA, a aposta para sobreviver à crise com relativa tranquilidade passa pelos mercados emergentes, como a América Latina e pela flexibilização no acesso aos produtos e serviços, caminhos escolhidos antes da bomba financeira do subprime estourar e contagiar a economia global.
Kenneth Arredondo, vice-presidente sênior para América Latina e Caribe da CA, usou dados de um relatório do Banco Mundial sobre a perspectiva de manutenção do investimento em tecnologia na região para sustentar as ambições da empresa. Os números são o dobro da média mundial, com projeção de 6,3% em 2009 e 12,2% para a América Latina. Quando perguntado sobre a validade destes números, Arredondo afirmou que o levantamento ainda não registra os efeitos da crise, mas pode ser considerado "direcionalmente correto". "Trabalhamos com essa aposta no crescimento das atividades no setor de TI, que é um mercado de 58 bilhões de dólares na região", afirmou Arredondo.
Para os executivos da CA, existe uma vantagem competitiva quando a empresa fornece soluções de administração do uso da tecnologia da informação que não podem ser prescididas nos processos de negócios de seus clientes. “Nossas soluções de gerenciamento de TI, focadas em governança, administração e segurança, são como um telefone", explicou Eduardo Schvinger, vice-presidente de Vendas Técnicas da CA para América Latina e Caribe. "Uma empresa não vive sem telefone, a não ser que feche. Então, ela de alguma maneira vai manter o telefone e administrar o uso”.
É aí que entra a segunda parte da estratégia que pode ajudar a CA navegar a crise de forma mais estável. Durante a convenção a empresa anunciou a criação de uma divisão específica de SaaS --sigla em inglês para Software como Serviço. O nome traduz uma tendência em TI, a transformação de programas complexos em soluções mais simples, acessíveis pela internet. É como usar o e-mail, quando pode-se optar por instalar um software completo, como o Microsoft Outlook ou o Mozilla Thunderbird, ou acessar as mensagens diretamente pela página de webmail do provedor, sem precisar ter um programa instalado. Neste caso, o software por trás da serviço é uma versão Saas do gerenciador de e-mails.
"A CA já oferecia alguns dos principais produtos em versão on-demand e observava o mercado de SaaS com muita atenção, principalmente por saber que o crescimento no setor é quatro vezes maior se comparado com as aplicativos em geral, segundo dados fornecidos pelo IDC em 2008", disse Jules Ehrlich, vice-presidente sênior e gerente geral da recém-criada divisão On Demand da empresa sediada na cidade de Islandia, no estado de Nova York.
A decisão de ter uma área voltada ao fornecimento de produtos de gerenciamento de TI como um serviço é anterior ao atual cenário turbulento, apesar do timing do anúncio parecer contraditório. "Tomamos essa decisão no fim do ano passado, e trabalhamos durante 2008 para consolidar algumas das soluções mais importantes de nosso portfólio no modelo SaaS", disse Helge Scheil, vice-presidente corporativo e gerente geral do Grupo de Governança da CA. "O fato de termos anunciado isso agora não passou de mera coincidência, apesar de feliz."
Para Michael J. Christenson, executivo-chefe de operações da CA, mais do que feliz, a oportunidade é providencial na atual situação do mercado. "Em um momento de crise, em que todos os presidentes de todas as empresas do mundo estão quebrando a cabeça para saber como cortar gastos e fazer o mínimo com menos dinheiro, nossas soluções de software como serviço podem ajudar mesmo grandes empresas a economizarem", explicou Christenson. "Isso porque esse modelo permite que as companhias continuem com acesso à soluções críticas aos seus negócios, porém de maneira diferente, já que quando se contrata um serviço em SaaS, é paga uma assinatura, algo que pode entrar na conta de despesas correntes da empresa. Não é o mesmo que a compra de uma licença de um programa, que é considerado um investimento."
"Esse modelo, além de ser interessante para nossos clientes atuais, é uma porta de entrada para empresas menores, principalmente em mercados emergentes, como a África, o Sudeste da Àsia, a Rússia e alguns países da América Latina, principalmente onde a CA não mantém presença física e atua por meio de parceiros", disse Christenson, que sorriu ao ser perguntado se não faltava o Brasil nas lista de possíveis novos clientes de sua empresa. "Não que não haja companhias com esse perfil no Brasil, mas é que o País já está mais que consolidado no mercado mundial. Enquanto empresa, você não pode se dizer realmente global se não estiver como os dois pés bem fincados em terras brasileiras."
CartaCapital.
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