sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O BRASIL ESTÁ CERTO


28/11/2008

Mauricio Dias

Especialista em política exterior do Brasil, o professor Moniz Bandeira é um dos autores brasileiros de não-ficção mais publicados na América Latina. Lançou, recentemente, um livro fundamental para compreender o golpe no Chile contra Salvador Allende, em 1973 (Fórmula para o Caos, Civilização Brasileira).

Mas, nesta entrevista a Rosa-dos-Ventos, para explicar as reações do Equador contra o Brasil, ele se socorre também da literatura, o “realismo mágico” de Gabriel García Márquez, e diz que a política latino-americana mistura fantasia produzida pela crendice em contradição com a cultura tecnológica.

CartaCapital: Qual é a gênese da decisão do presidente Rafael Correa?

Moniz Bandeira: Após o fracasso e derrubada de tantos governos neoliberais, Rafael Correa, como Evo Morales, quer refundar o país. Ele tomou tais atitudes contra a Odebrecht e o Brasil, primeiro, porque quer ganhar o plebiscito que lhe aumentaria o mandato presidencial e necessita vencer a eleição marcada para abril. Na verdade, Correa e Morales são expressões do “realismo mágico” latino-americano. Não se dão conta de que seus países carecem de capital, tecnologia, mercado interno, e não têm qualquer viabilidade de avanço e de melhorar sua inserção internacional, num mundo que se descortina e no qual prevalecerão as grandes massas econômicas, tais como China, Estados Unidos, União Européia, Índia e Brasil.

CC: Isso quer dizer que são países inviáveis?

MB: Tanto Uruguai e Paraguai quanto Bolívia e Equador somente serão viáveis na medida em que se integrarem com o Brasil, que já é um conjunto de 26 países de língua portuguesa, e a Argentina, os dois principais atores políticos da região. Hugo Chávez parece ter consciência disso, tanto que está um tanto preocupado com as medidas de Correa. E, mais do que Chávez, o presidente Raúl Castro percebe claramente o problema, tanto que optou por aliar e unir economicamente Cuba ao Brasil, de modo a não cair na órbita dos Estados Unidos, o que, de outro modo, seria inevitável. Não se pode desconsiderar a força da gravitação geopolítica que possuem as grandes massas territoriais, demográficas e econômicas.

CC: O governo Lula reagiu com mais vigor ao Equador.

MB: A política exterior do presidente Lula está muito correta, buscando aliviar os efeitos da assimetria, com a concessão, inclusive, de financiamento do BNDES para obras nesses países. Como a maior potência industrial do Hemisfério Sul, com todos os recursos econômicos, políticos e militares que possui, o Brasil não pode e nem deve tomar atitudes truculentas. Isso prejudicaria a política externa e a estratégia brasileira, visando integrar toda a América do Sul. Mas a paciência e a tolerância têm limites.

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