Filha de Raul Castro defende diálogo sobre direitos sexuais e da infância na América Latina
Juliana Cézar Nunes , Agência Brasil
Rio de Janeiro - Convidada especial do 3º Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual das Crianças e Adolescentes, a diretora do Centro Nacional de Cuba para Educação Sexual, Mariela Castro, aproveitou a semana no Brasil para intensificar o diálogo com representantes de governos da América Latina sobre possíveis trocas de experiência na área de direitos sexuais e da infância.
"Temos várias iniciativas interessantes em curso na região, mas que ficam isoladas por falta de contato entre os países. Não temos intercâmbio efetivo com o Brasil, mas queremos mudar isso", disse Mariela, filha do presidente cubano, Raul Castro, em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia e à Rádio Océano, do Uruguai.
"Uma comitiva brasileira esteve em Cuba para conhecer nossos programas e estamos aqui para ampliar esse intercâmbio. Precisamos socializar o que existe de melhor em cada país para que possamos unir esforços por nossas crianças. Temos muito pontos e interesses em comum."
No Rio de Janeiro, Mariela visitou projetos sociais com a primeira-dama Marisa Letícia. Entre eles, o Espaço Convivência, no Rio de Janeiro. Na casa, crianças e adolescentes que foram vítimas da exploração sexual recebem assistência e participam de oficinas de circo, teatro e dança.
"É um trabalho muito bonito. Eu vi a cara de bem-estar dos adolescentes. Eles fazem um teatro musical melhor que Hollywood. Toda a América Latina tem experiências lindas como essa."
A diretora do Centro Nacional de Cuba para Educação Sexual afirma que a estratégia adotada no país é envolver as escolas e os meios de comunicação no enfrentamento do problema. A Federação das Mulheres Cubanas e as organizações de jovens também têm papel ativo, assim como os Ministérios da Saúde e da Educação. Cuba possui ainda uma Comissão Nacional de Prevenção à Violência Intrafamiliar e um Centro de Proteção para as Crianças, instituições voltadas para a prevenção do abuso sexual e o atendimento às crianças vítimas dessa violência.
Para combater a pedofilia, o país aceitou inclusive colaborar com a Interpol e a polícia britânica Scotland Yard. "Enviamos dados e recebemos alertas quando turistas pedófilos estão a caminho. Também colaboramos na luta contra o tráfico de pessoas, já que muitas máfias mexicanas e norte-americanas atuam em Cuba, se valendo das facilidades que o governo dos Estados Unidos dão a quem sai da ilha", conta Mariela.
De acordo com ela, o bloqueio norte-americano dificulta o acesso dos cubanos a preservativos ou mesmo remédios contra a impotência. O país recebe doações que não seriam suficientes para as necessidades da população. "A revolução possibilitou que fossem criadas uma série de políticas de proteção das crianças e emancipação das mulheres. Nossas limitações não estão nas leis ou nos recursos humanos. Temos dificuldades financeiras que são conseqüência do bloqueio."
Mariela Castro defende que os países latino-americanos avancem no combate à homofobia e nas leis sobre aborto. De acordo com ela, a homofobia e o racismo ainda estão presentes em Cuba, mas são combatidos com leis severas e conscientização popular, que ajuda no controle social. Já o aborto é regulamentado e oferecido nas clínicas públicas.
"Cuba é um estado laico. A igreja participa, mas não decide. Vamos dialogar e seguir dialogando com a igreja. Mas cada um que faça seu trabalho e a população decide por onde seguir", ressalta Mariela.
Segundo ela, antes da revolução socialista, o aborto era realizado apenas em clínicas privadas cubanas e chegou a ser a principal causa de morte de mulheres.
"Os homens não podem seguir decidindo sobre nossos corpos. Senão também vamos decidir sobre o corpo deles e dizer: façam todos vasectomia, obrigatoriamente. Tirem a próstata para não ter câncer de próstata. Isso é o mesmo que decidir que as mulheres não podem recorrer ao aborto. É uma violação dos direitos das mulheres e dos direitos humanos. O povo latino-americano precisa se livrar dessa opressão."
Sobre o futuro de Cuba, a filha de Raul Castro diz que o país vai seguir em seu caminho, buscando um "socialismo melhor e mais participativo, que leve à emancipação do ser humano". "Mas uma coisa está clara: não voltaremos atrás, não voltaremos ao capitalismo. Seguiremos sendo um país soberano", ressalta Mariela, que fala com otimismo sobre o próximo presidente norte-americano.
"O Obama é um milagre maravilhoso para o povo norte-americano e para o mundo. Uma mudança de paradigma. Um negro lindo e inteligente no poder. Tem boas intenções, mas vai ter dificuldade para governar. Se ele conseguir acabar com o bloqueio, será um milagre. Oxalá! Se eu fosse católica, rezaria por esse milagre. Meu pai se mantém calado, não disse nada. Está observando."
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